Querido diário,
Minha vida nunca foi fácil. Desde pequena o destino cuidou de me traumatizar, e até hoje eu convivo com as sequelas e cicatrizes de tudo que aconteceu comigo. Preciso dizer um pouco sobre mim para que entenda do que falo, certo? Tudo bem. Comecemos pelo princípio, então. Resumirei para você sobre minha infância, passando pela pré-adolescência até os dias atuais...
Minha mãe conheceu meu pai quando eles tinham quinze e dezessete anos respectivamente. Os dois namoraram por um tempo e, quando ela tinha dezesste, engravidou — de mim — e foi se juntar com papai — naquela época ela ainda morava com minha tia Sarah, a mais velha dos três irmãos, já que meus avós maternos morreram sete anos antes em um trágico acidente de carro. Mamãe me ganhou aos dezoito. Naquele mesmo ano tia Sarah morreu de infarto — pouco antes de eu vir ao mundo. Nasci em Skarye Fall — uma cidadezinha no leste da Virgínia, nos Estados Unidos —, no dia 25 de dezembro de 199O, "num dia muito chuvoso", segundo mamãe. Ela disse que na hora estava na casa da sogra desfrutando do dia de natal e a bolsa estourou. Até se assustou quando viu o líquido transparente escorrendo nas pernas. Meu pai colocou-a no carro e acelerou o quanto pôde. No desespero por chegar ao hospital, atropelou duas latas de lixo. Minha mãe foi atendida às pressas. Trinta minutos depois eu cheguei ao mundo por um parto normal. E foi assim que eu nasci; às 16:45 de uma tarde chuvosa de dezembro. Parece até uma lembrança feliz e engraçada... — uma pena não ser minha. Seria bom ter mais uma recordação agradável.
A vida cuidou desde muito cedo para me machucar. A prova disso é que uma das minhas poucas lembranças de quando eu era pequena foi... Bem, eu não me lembro o dia exatamente nem o mês, mas lembro que começou em uma noite fria. Eu havia acabado de acordar, no meio da noite. Acho que tive um pesadelo ou algo assim. O céu ainda estava escuro, segundo as janelas do meu quarto. A maioria das crianças pequenas quando tem um pesadelo começam a chorar ou procuram os pais para dormir com eles. Foi o que eu fiz. Peguei o senhor Pelúcia — meu cachorro marrom-claro de pelúcia — e desci da cama. Recordo que andei até a porta e a abri. Tudo estava escuro e eu tinha medo de andar pelo corredor sozinha. Quer dizer, eu tinha quatro anos. Mas tomei coragem e corri rapidamente pelo chão frio até a porta do quarto dos meus pais, sem olhar para trás nenhuma vez sequer, com medo de que o Bicho Papão me pegasse. Daí, eu segurei a maçaneta da porta, a girei.... e deparei-me com meu primeiro trauma de infância. Lembro-me como se fosse hoje que vi minha mãe deitada na cama de casal e meu pai em cima dela. Não pense que eles estavam fazendo coisas de adulto — antes fosse.
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O Diário Uma Garota Quebrada
Fiksi RemajaJá pensou que talvez, só talvez, pessoas suicidas sejam apenas anjos cansados da vida na terra, querendo voltar ao lar celestial no céu de onde nunca deveriam ter saído? Que talvez estejam exaustos do martírio que é respirar com tantos ferimentos im...