A residência dos Montgomery-Jully'Art lotou de figuras usando preto e dialogando nos cômodos do primeiro andar, comendo ou lamentando a morte de uma jovem menina que teria um futuro brilhante pela frente. Jessica Montgomery se retirou para o segundo andar, exausta demais para a reunião pós-velório. O marido, Bradd Jully'Art, quem ficou responsável por "fazer sala". Na escada, Anne-Janne Jully'Art, Maya Lancaster, Lionel Ryan Jones e Peter Miller se sentaram um degrau abaixo do outro, pensativos e pesarosos.
— Eu ainda não entendo... Ela podia ter falado comigo, dito o que estava acontecendo. Ela poderia... — Lionel começou, mas se interrompeu no meio da fala.
Silêncio.
— Eu posso ir ao quarto dela uma última vez, Anne? — Maya pediu.
A irmã mais nova de sua recém-falecida melhor amiga assentiu.
— Vou com você.
Lionel se pôs de pé junto com Peter. Os quatro caminharam escada acima, pelo corredor e até a porta do quarto que até dias atrás era habitado por Angeline. Nenhum dos quatro teve coragem o suficiente para abrir a porta fechada num primeiro instante. Quem esteve lá por último foi Jessica, e Anne-Janne não esquecera a hora inteira que ouviu a mãe chorando alto lá da sala. Maya respirou fundo e finalmente rodou a maçaneta. O cheiro familiar de lavanda, marshmellow e âmbar cutucou as suas narinas. Os olhos lacrimejaram com a lembrança do perfume da melhor amiga perdida no ar. O quarto estava exatamente igual. A cama com a colcha um pouco amassada, o teto cheio de estrelas e os papéis de parede descascados em algumas partes pelo tempo. A porta do armário branco levemente aberta e várias fotografias espalhadas no chão. Anne-Janne destravou numa crise de choro desenfreado. Peter a abraçou contra sua barriga. Lionel desabou na cama, apoiou as mãos nos joelhos e deixou lágrima rolarem pelo rosto. Aquele quarto era tão familiar... Não dava pra acreditar que ela se fora. Era como se tivesse saído apenas por alguns minutos evem breve fosse entrar por aquela porta. Maya afundou na cadeira de frente a escrivaninha. O que levaria uma garota tão jovem e especial ao suicídio? O que aconteceu com a amiga deles a ponto de chegar num ato tão extremo? Por que Angie não pediu ajuda quando precisou? Por que simplesmente não... ligou? Mas... E se ela tivesse pedido ajuda e eles não perceberam? Talvez se tivessem reparado mais em Angeline, em seu olhar tristonho, no desânimo, nos sorrisos forçados...
— Por que, Angie...? — Lancaster sussurrou, pescando uma foto caída que mostravam duas garotas de cores de pele opostas gargalhando. Pareciam felizes. Com a dor daquela imagem, Maya puxou a primeira gaveta do móvel para guardá-la e não remoer mais dor, contudo, algo ali dentro chamou a atenção. Ela parou, deixou a foto e estendeu a mão para o caderno de capa lilás com "Diário da Angie" colado em diferentes letras recortadas de revistas e jornais. Maya prendeu a respiração ao passar o indicador no material rígido. E se...? Poderia....? Uma teoria a assombrou. Se estivesse certa, toda a vida da amiga estaria ali. E se os motivos de sua partida também estivessem? — Por favor — Maya rezou para uma divindade maior socorrê-la ao abrir na primeira página. Se deparou com primeiras linhas, onde estava escrito na caligrafia cursiva de Angeline o clichê: "Querido diário...".
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Diário Uma Garota Quebrada
Teen FictionJá pensou que talvez, só talvez, pessoas suicidas sejam apenas anjos cansados da vida na terra, querendo voltar ao lar celestial no céu de onde nunca deveriam ter saído? Que talvez estejam exaustos do martírio que é respirar com tantos ferimentos im...