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Minha consciência retorna aos poucos, mas tenho que esperar algum tempo até que desperte completamente e consiga bater meus cílios, para então abrir os olhos

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Minha consciência retorna aos poucos, mas tenho que esperar algum tempo até que desperte completamente e consiga bater meus cílios, para então abrir os olhos. Acima de mim há algo branco, como um teto banhado em marfim. Não me parece ser feito de materiais normalmente usados em obras de construções comuns. É suave e de aparência tão macia que lembra algodão. Me movo. Estou em uma espécie de quarto, sentada numa cama confortável o bastante para eu querer passar o resto da eternidade deitada, como se fosse feita de milhares de milhões e penas. Quando levanto completamente, tenho medo de voar, porque estou incrivelmente leve. O solo não é firme. Minha sensação é a de estar num tapete de nuvens. Tudo é branco, branco demais. Não incomoda, na verdade dá uma sensação de paz eterna. Caminho até o espelho com bordas douradas ao lado da porta e quase dou um pulo ao ver meu reflexo. Eu estou... linda. Minha pele brilha, sedosa e lisa feito a sola dos pés de um bebê recém-nascido. Meu rosto levemente corado, os olhos azul-escuro brilhantes e a ausência de olheiras me faz parecer uma estrela de cinema dos anos sessenta, daquelas que eram tão perfeitas que mais se assemelhavam à miragens. E meus cabelos longos quase tocavam a cintura, ondulados, belos. Não há um pingo de maquiagem um mim, mas mesmo assim me acho completamente linda. Meu corpo é coberto por um vestido também branco que chega abaixo dos joelhos e abriga alças grossas de renda e bojo de coração. Estou descalça, e não me importo. Quando aproximo meu rosto do espelho, sorrio. Pareço saudável, esplendorosa e deslumbrante.
      Deixando de me encarar, tomo coragem e toco a maçaneta da porta. Ela é tão leve que quando a puxo, se abre sem nenhum rangido. Coloco um dos pés para fora do quarto misterioso e depois o outro. Agora estou em um corredor cumprido em branco e dourado. É lindo. Por algum motivo sinto que devo seguir pela direita, então sigo. Ando cuidadosamente, olhando os retratos de anjos nas paredes e estátuas divinas. São de tirar o fôlego. Nunca vi quadros nada tão belo. Provavelmente devem ser um artista que nunca vi. Coloco mechas de cabelo para detrás das orelhas enquanto caminho. Por mais estranho que seja, não sinto temor algum.

Não está sozinha, minha criança.

     Paro de andar, sentindo a espinha arrepiar e todos os pelos de meu corpo se eriçarem. A voz é grave, potente e poderosa. Também trás uma sensação de conforto e tenho uma vontade imensa de chorar sem motivos evidentes. Prendo a respiração. Giro o corpo com cuidado e fecho os olhos imediatamente pelo excesso de luz que me atinge.

Olhe-me, Angeline.

    Pisco as pálpebras e as forço a se abrirem. Acostumo a visão com o ambiente aos pouquinhos, e então quase caio para trás de tanto choque. Há um homem em minha frente... Não consigo ver seu rosto ou sua pele porque ele brilha — literalmente brilha, num lindo tom esbranquiçado. Embora não possa ver seus traços, sei que é lindo.

— Quem é o senhor...? — minha voz finalmente sai, arrastada. Parece que fazem anos que não digo uma só palavra. Mesmo não o vendo, sei que ele sorri.

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