Capítulo 50

727 42 0
                                    


Alice: Eu posso falar sobre o que aconteceu?

Nat: Quer falar sobre isso mesmo filha? Se não quiser ta tudo bem meu amor – a beijou.

Alice: Eu preciso falar. Senao eu vou sufocar.

Nina: Então desabafa, a gente ta aqui pra te ouvir no seu tempo.

Alice: A gente tava na aula de historia, quando ouvimos dois disparos e as moças da secretaria gritando. A secretaria fica bem embaixo da nossa sala. A gente achou que fosse algum assalto na frente da escola pelo barulho de carro que deu na hora dos disparos e por isso as moças gritaram, quando a dona Angela abriu a porta da sala um dos caras lutou a porta e ela voou em cima da mesa dela do outro lado e o cara mandou todo mundo se deitar no chão. E quem demorou ele começou a atirar. A Dona Angela levantou e pediu calma pra ele falando que ali só tinha criança e eu puxei o braço dela pra ela deitar no chão foi quando ele atirou na cabeça dela no meu braço e na minha perna. Eu senti uma dor horrível, uma ardência muito forte. Ela perdeu a consciência por alguns minutos, eu achei que ela tava morta. Todo mundo chorando uns gritando de dor e ele mandando todo mundo calar a boca. Ele saiu da sala e fechou a porta trancando por fora. A dona Angela começou a se mexer e a tentar levantar, mas não conseguia então eu a puxei pro meu colo e pedi pra não se mexer muito. Ela dizia que não tava sentindo um lado do rosto e da cabeça. Eu vi que a bala não tinha saído. Logo ele voltou e mandou todo mundo ficar quieto. O tempo foi passando, eu tentava não deixar a dona Angela dormir e a Livia que tava do meu lado também não perder a consciência, ela tava muito ferida. Uma das meninas se arrastou pra perto da Livia pra ajuda-la e ficou estancando o sangue. Quando olhei pro lado vi minha mochila então puxei e vi meu celular ali. Ele dizia que se alguém atendesse o telefone ia morrer, e o telefone de todo mundo tava tocando o tempo todo. O meu sempre fica no silencioso e sem vibrar na mochila então so acendia as luzes. Ele mandou todos que estavam com telefone desligar e todos fizeram isso e eu continuei cuidando da dona Angela sem demonstrar que eu tava ali atras da mesa. Ele saiu dizendo que buscaria agua pra gente e que ia trancar a porta e voltaria em dois minutos, foi quando eu peguei o celular mandei o áudio e coloquei na mochila e ele voltou.

Eu: Ele deu uma lista com as pessoas feridas. Ele perguntou o nome de vocês ou ele fez vocês escreverem?

Alice: Ele pediu uma das meninas pra escreverem já que a dona Angela não tinha condições. Ele pediu a Janaina pra fazer a lista, mas ele não colocou todos na lista.

Nat: Não?

Eu: A Lista tinha 26 nomes de todas as turmas do seu andar filha. Era muita criança. – fiquei assustada.

Alice: Mãe, minha sala tem 30 alunos, 22 foram baleados e mais a dona Angela. Eles colocaram os que estavam menos feridos. Um segundo homem que entrou pra fazer a lista brigou com esse cara porque ele atirou pra matar e não era pra ter machucado ninguém com gravidade era só um ou outro de cada sala e de raspão e ele atirou na sala inteira. Eu não acho que aquilo foi um assalto a banco mãe. Eles em momento algum falaram de banco. Eles queriam dinheiro, mas nunca falaram de banco. Eu li na internet não mencionaram nenhum banco em nenhuma das reportagens sobre o caso. Aquele colegio estuda muita gente de posses e era dia de vencimento de mensalidades, porque a sala da direção foi poupada o tempo todo? Eles nunca falaram de banco.

Nat: Será que a intenção deles o tempo todo foi o colegio?

Alice: Eu acho que sim. E não sou só eu que pensa isso. Todos os feridos, temos um grupo no whatsapp com todos que foram feridos e nenhum deles ouviram falar de banco.

Debby: Mas um colegio que não é tão grande assim, ser visado por bandidos fortemente armados.

Nat: A EARJ tem uma das mensalidades mais caras do Rio de Janeiro mãe. A mensalidade da Alice esse ano é 2.800,00 reais. Então pensa a sala dela com 30 alunos já são 84.000,00. Imagina o resto do colegio. A unidade dela é de fundamental ao ensino médio tem 3 salas de cada serie.

Eu: Deve rodar ali em época de pagamento mais de 600 mil reais, porque muitos pais preferem pagar na escola pra não enfrentar banco já que não podem pagar por debito automático e nem cartão de credito se não fizerem isso no ato da rematrícula.

Debby: É uma pequena fortuna pra se manter numa escola sem segurança adequada.

Alice:Sim vovó, mas porque nos atingir e não atingir ninguém da secretaria que tinhaacesso ao dinheiro? Isso que tá intrigante. – ficamos conversando por um tempo. A Aliceficou quase um mês com dificuldades pra dormir, mesmo com a medicação. Ela iaao colegio, mas pediu pra mudar de unidade, assim como todos da sala dela queforam feridos. Ela mudou pra unidade da Gavea, então pagamos transporte escolarpra ela. Em poucas semanas foi descoberto que o alvo era a escola, e que um ex funcionárioarquitetou toda a ação, mas fugiu do controle dele. 

Natiese, mais real que parece ...Onde histórias criam vida. Descubra agora