Capítulo 31

787 45 4
                                    

Eu tava desesperada, eu não sabia o que fazer. Peguei o celular e sai do quarto ligando pro Rodrigo. Depois de muito chamar ele atendeu...

Rod: Natalie são 4 da manhã – falou sonolento.

Eu: Rodrigo pelo amor de Deus me ajuda – chorava.

Rod: O que foi Nat?

Eu: A Pri tá sentada na varanda do nosso quarto. Ela vai se jogar ela tá chorando muito, eu não sei o que fazer ela não me deixa chegar perto eu não sei o que fazer Rodrigo.

Rod: Ai meu Deus, eu to indo ai...

Eu: Vou deixar a porta destrancada pra você – desligou. Eu desci correndo destranquei a porta e subi. Ela falava sozinha e chorava como eu nunca vi a Priscilla chorar antes.

Pri: Eu não aguento mais. Eu não quero viver assim, eu não consigo mais viver sentindo medo. Não dá mais... – soluçava.

Eu: Amor – falei baixo e tentando ficar calma. – Me deixa te ajudar. Pensa nas nossas filhas, pensa na Nina e na Alice. Elas precisam de você, eu preciso de você. Sua mãe e seu irmão também. A gente quer seu bem, quer você feliz. Se você não tá legal, se precisa descansar dar um tempo de tudo, tudo bem, a gente pega as meninas e faz uma viagem longa, fica longe de redes sociais, de trabalho. A gente fica um mês num hotel fazenda, curtindo nossa família, a gente vai para os Estados Unidos se preferir, se afasta de tudo por um tempo pra você relaxar. A gente faz o que você precisar e quiser fazer pra ficar bem meu amor – consegui parar na porta da varanda.

Pri: Você não entende Natalie. Você nunca vai entender...

Eu: Então me explica. Me ensine a te entender. – tentava manter a calma, mas estava tremendo com medo dela se jogar. Afinal, estávamos no sexto andar.

Pri: Nossa vida tá uma montanha russa. Nos últimos tempos a gente não conseguiu ter paz quase em momento algum. Sempre tem algo acontecendo. E eu não sei mais lidar com isso. Eu sinto que não sou o suficiente mais pra ninguém, eu sinto que não sou boa mãe, nem boa esposa, nem boa amiga, nem boa profissional. Mesmo fazendo tudo pra ser melhor. Eu não estou me reconhecendo mais. E não foi isso que eu planejei pra mim...

Eu: Amor, você é uma ótima esposa, uma ótima mãe e amiga. Uma ótima profissional. Você é muito mais do que planejou ser, todo mundo pensa assim, você tá cansada, ta confusa, precisa de um tempo pra colocar sua cabeça em ordem. Passamos por muitas coisas sim, e agora tá na hora de você cuidar de você, da sua mente. E vamos fazer isso da melhor maneira possivel meu amor. Eu vou te ajudar com isso. Vamos falar com a nossa psicóloga, se for preciso a gente vai no psiquiatra, vamos cuidar direitinho. Hoje mesmo vou ver uma viagem pra gente, pra um lugar bem tranquilo bem gostoso. Vamos descansar. Você precisa muito disso meu amor...

Pri: Eu quero desistir Natalie...

Eu: Não, você não quer. Você acha que desistindo toda a dor que sente vai sumir, mas não vai... Me deixa cuidar de você – ela olhou pra baixo e quando ia soltar as mãos eu a puxei pela blusa fazendo-a cair pelo lado de dentro da varanda e em cima de mim. Ela tentava se soltar e eu a abracei com força. Ela chorava descontrolada. – Ta tudo bem, vai ficar tudo bem eu to aqui meu amor eu to com você... – o Rod e a Rafa entraram no quarto na hora. – Xiiii... Vai ficar tudo bem.

Rod: Meu Deus – colocou as mãos na cabeça se sentando na cama. Eu chorava junto com ela a beijando e a segurando até que ela se entregou. Seu choro era totalmente descontrolado. Ouvi a Rafa falar no telefone, ela ligava no hospital da Unimed. Cerca de 15 minutos depois ouvi o interfone e a Rafa desceu. Logo entrou uma enfermeira e um paramédico da Unimed. A Pri chorava copiosamente. Parecia que ela não estava ali. Não respondia perguntas, não falava nada. A enfermeira e o paramédico a levantaram do chão e a colocaram na cama. Eu subi na cama ao lado dela e segurava sua mão.

Paramedico: Ela tomou algum remédio hoje ou faz uso de algum medicamento para depressão ou ansiedade?

Eu: Não faz uso de nada. Ela tomou um remédio pra dor de cabeça só. Ela não tava bem hoje chegou mais cedo do trabalho.

Rafa: Hoje na empresa ela começou a chorar muito, a tremer e suar frio. Se sentou no chão pra se acalmar, eu acho que ela tava tendo uma crise de pânico ou ansiedade não sei.

Eu: Tem muitas coisas acontecendo na nossa vida, passamos por muitas coisas nos últimos tempos acho que agora que ela tá sentindo tudo isso.

Paramédico: Ela já tentou isso antes? Se matar?

Eu: Sim, quando ela descobriu que estava grávida, a mais de 3 anos, mas ela tratou e ficou bem.

Paramedico: É alérgica a alguma medicação?

Eu: Não. Ela é alérgica só a nozes.

Paramedico: Ok – ele aferiu a pressão dela e tava muito alta. Ela tava com taquicardia e ofegante. Ele deu um remédio para abaixar a pressão dela e aplicou um calmante direto na veia dela. Em poucos minutos a Priscilla adormeceu. Saimos do quarto e descemos. – Olha só aconselho uma consulta ao psiquiatra, a pressão dela estava alta, ela estava ofegante, tremula, suava frio, pelo que disse, falava coisas como estar cansada de tudo e ela tentou suicídio. Ela pode estar desencadeando uma depressão, além de síndrome do pânico. Ela precisa de acompanhamento psiquiátrico com urgência. Eu apliquei Diazepam nela, ela vai dormir acredito que a manhã toda, procure hoje mesmo acompanhamento psiquiátrico. – me deu uma guia e foi embora. Sentei na cozinha com a Rafa e o Rodrigo e chorei muito.

Eu: Meu Deus gente que desespero eu não acredito em tudo que eu vi... Ela quase se jogou...

Rod: Ela precisa de ajuda urgente viu o que o paramédico disse. Sabe que a Pri é durona, e agora ela ta sentindo tudo que não se permitiu sentir principalmente com a doença da Nina.

Rafa: Não precisa preocupar com a empresa, eu e o Rodrigo damos conta de tudo, agora foca nela em ajudá-la e qualquer coisa liga pra gente. Ok?

Eu: Obrigada gente. – abracei os dois e eles foram embora. Eu subi pro quarto tranquei aquela porta da varanda e deitei ao lado dela. Eu não consegui mais dormir só fiquei ali olhando pra ela. Quando acabou de amanhecer eu fiz contato com os melhores psiquiatras do Rio e consegui uma consulta com um deles as 13:30. Então deixaria a Nina na escola e a levaria. Ela acordou por volta de 11 da manhã tomou banho, tava calma, porém muito abatida. Falei que tinha marcado médico, mas ela não respondeu nada, e não se opôs também. Arrumei as meninas, deixei a Nina na escola e a Alice na grandma e fomos a consulta. Ela quase não falou nada, mas o que disse foi o suficiente para o médico diagnosticá-la com o estresse pós traumático síndrome do pânico e início de depressão. Ele passou algumas medicações e terapia a ela. Passei na farmácia comprei os remédios e fomos pra casa. Ela tomou os remédios deitou e dormiu de novo. Aquela semana foi assim, a Pri não interagia com ninguém, e mal interagia com as meninas. Ela só chorava e dormia. Já havia perdido peso, era bem nítido isso. Não saia do quarto pra nada e comia pouco. O psiquiatra disse que era normal nesse começo que assim que a medicação fizesse efeito ela ficaria melhor.

Natiese, mais real que parece ...Onde histórias criam vida. Descubra agora