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Tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo o sempre.

Vladimir Nabokov

Sinto alguma coisa passar no meu rosto, como uma mão, e um beijo ser dado na minha testa, e logo depois uma voz de homem, grossa e melancólica, como se tivesse segurando as lágrimas, começa a falar

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Sinto alguma coisa passar no meu rosto, como uma mão, e um beijo ser dado na minha testa, e logo depois uma voz de homem, grossa e melancólica, como se tivesse segurando as lágrimas, começa a falar.

— Pequena, você tem que acordar logo, eu não sei quanto tempo mais aguento. Priscila diz para eu ter fé que o papai do céu vai devolver você, mas eu não tenho mais fé, ela se esgotou. Eu te amo tanto, minha pequena.

Conheço essa voz e essa tal de Priscila. A voz sempre vem aqui e fala comigo, contando como estão as coisas, que sente minha falta, que me ama, essas coisas, e recentemente uma tal de Priscila vem aqui e conversa comigo, porém ela fala da escola, desenhos e até mesmo que tenho que acordar porque está chegando os dias das mães e pela primeira vez ela tem uma mãe, e eu tenho que estar lá. Coisa que não entendo, eu não tenho filha, deve ser coisa da imaginação. Mexo minha mão e tento abrir os olhos como há muito tempo venho tentando, mas dessa vez dá certo. A luz do lugar onde estou vem com tudo, onde demora uns segundos para me adaptar com ela, até que percebo que estou em um quarto, como de hospital, todo branco, com uma porta do meu lado, que deve ser o banheiro, e outra um pouco mais longe, acredito que a saída, tem um sofá do meu lado esquerdo com dois casacos nele, flores do meu lado, e uma mão segurando a minha com força, olho para ela e vejo um cara de cabeça baixa, sentado em uma cadeira do lado da minha cama, ele está usando uma calça preta e uma blusa branca amarrotada, não dá para ver seu rosto. Eu jurava que estava tendo alucinações com as vozes que venho escutando, mas não, é real, elas existem.

— Quem é você? — pergunto com a voz fraca, baixa e em um tom horrível. Minha boca está com um gosto horrível.

O homem levanta a cabeça com tudo, me olha, com os olhos arregalados e cheios de água, que gradualmente vão caindo.

Ele é lindo, mesmo com as olheiras no seu rosto, a barba um pouco grande, e o cabelo despenteado. Ele é lindo. Olhos verdes intensos, boca perfeita vermelha, mesmo com a barba dá para ver que tem um maxilar de homem fodão, rosto totalmente assimétrico. Não sei por que, mas o olhar que ele está me dando faz meu coração apertar e dar um pulo, como de alegria, me fazendo querer chorar. Eu não entendo, eu nunca vi esse cara antes.

— Você acordou — ele diz chorando, mas mesmo assim a voz grossa contínua, da para notar, ele tem uma voz incrível.

As lágrimas não param de derramar, é como se ele estivesse esperando esse dia a anos, meses, não sei e isso me assusta.

1 — Eu nunca vi esse, cara antes.

2 — Eu não sei que sensações são essas que estou sentindo.

3 — Onde estou? O que aconteceu? E cadê meus pais?

— Quem é você? Eu não te conheço, eu quero meus pais — falo começando a ficar nervosa e com medo. Assisto filmes, e se ele tentar me matar, ele não precisa ter cara de assassino para matar. Ele tenta se aproximar de mim, mas sou mais rápida e me esquivo, sentindo uma dor enorme nas minhas costelas, mas tento não ficar nela e sim em começar a gritar — SAI DAQUI, EU NÃO TE CONHEÇO, EU QUERO MEUS PAIS. MÃE? PAI?

A FORÇA DE UM AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora