"Faroeste Caboclo" e a Psicologia Histórico-Cultural

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Personalidade – João de Santo Cristo

João, o personagem central de "Faroeste Caboclo", se mostra como profundamente influenciado pelas suas experiências sociais. Sendo criado em Santo Cristo ele teve uma infância de possibilidades limitadas e muitas privações, chegando a idade adulta sendo analfabeto e não sabendo pilotar veículos automotores. No entanto a convivência de João com seus pais, especialmente com o pai que foi quem o iniciou na arte da artilharia, dotou João de uma grande tenacidade e resiliência para enfrentar todas as dificuldades que ele viria a passar geradas pelos desdobramentos de sua inserção na realidade na cidade de Brasília.

É muito interessante observar como João aprende em um ritmo acelerado. O sucesso dele em sua primeira caçada com o pai, sua maestria em marcenaria e sua ascensão repentina na cena da criminalidade brasiliense, tanto no contrabando quanto no tráfico de drogas, demonstra que ele, através da linguagem, internalizava muito depressa as formas sociais com as quais ele entrava em contato e assim construía sua subjetividade.

É muito reconhecível na trajetória de João a influência da produção de vida de personagens coadjuvantes como influências direitas sobre a história individual de João que resultam em formas de consciência social que levam –no a ser produtor de novas forças que configuram novas formas sociais que atingem a todos os participantes do processo histórico que é a narrativa do filme como um todo.

Articulação com a Teoria na Ótica da Psicologia Sócio Histórica

De acordo com a construção de historicidade João é de uma influência muito grande, e regente mediante a perda de seu pai, um ato que configurou todo seu comportamento e as competências de sua história, exposto por meio da violência, ódio, uma construção individualista dentro do cenário criado sobre sua existência, ou seja, de acordo com Leontiev (1978) "As relações sociais não são fatores externos de crescimento, mas sim a própria essência da personalidade". Logo a construção da persona de João é motivado por um conjunto de processos pelos quais este adquire uma existência psicológica, desenvolvendo sua personalidade à medida que faz, pensa e sente.

Conforme a socialização deste sujeito com o meio, precisamos estabelecer no indivíduo uma interação com outros homens e com o produto da história desses homens para que aconteça o processo de individualização, é neste aspecto que notamos a criação de comportamentos como roubo, sexualidade aflorada, a revolta de sempre está contra-atacando o que era imposto, no caso quando este é mandado para o reformatório ofusca ainda mais seu ódio pelas discrepâncias criadas dentro de um meio cultural, a discriminação de classe e raça, seu refugio é na mudança de cidade, exemplo "Salvador".

De acordo com a teoria a proposta da atividade vital humana priorizam através do trabalho, onde ocorre uma cadeia de ações e relações que articulam o indivíduo a coletividade, é nessa oportunidade de trabalhar e conhecer o belo da cidade de "Brasília" João desconstrói os comportamentos para uma mudança ao coletivo, onde agora ele trabalha para gastar seu dinheiro no seu prazer, sem a predominância do "roubo". O indivíduo atua sobre sua produção e se torna produto, ou seja, produz, e é produzido socialmente. (Conhecer novas pessoas, como exemplo o neto bastardo de seu bisavô).

Porém toda construção social tem suas barreiras, no caso de João se depreciou com a dificuldade financeira, com isto fundou sua própria renda, produção/venda de drogas. Na visão de Saviani (2004) As objetivações são permeadas de significação social, que é dada por outros indivíduos, dentro de um contexto social, este produzido através da relações que os homens foram estabelecendo (criar sua renda própria), entre si, no decorrer da história; desta forma ao transformar a natureza, os homens também foram se transformando. Dentro desta nova natureza, João foi novamente modificando seu comportamento, de curtição, onde começou a roubar, e a destruir as lacunas de papéis representados em "medidas social – policiais, capitão e traficante". Se tornando autor de sua vida por meio de tantos vínculos sociais aderidos com os outros.

Logo mais, conhece Maria Lucia, por quem novamente é modificado em suas estruturas, volta a ser um trabalhador, desestimando o papel do "homem honesto". Este o segundo princípio da hierarquia das atividades em relação aos motivos, implica o estudo da estrutura motivacional da personalidade. É a atividade principal responsável pelas mudanças mais significativas dos processos psíquico e da personalidade.

Mas logo após este comportamento, Maria Lúcia por quem ele tinha se apaixonado o traiu com seu inimigo de tráfico, e realiza com ela a vida que João a prometerá, é neste construto que origina-se os conflitos entre os fins e os motivos da atividade que resultam na mudança da atividade principal (casar-se e ter um filho com Maria Lúcia), é neste momento que sempre determinamos pela nossa história de vida e pela condições sócio históricas de seu tempo (duelo entre os homens em meio à multidão/mídia). De uma desconstrução de conceito criado por Maria Lucia, está julga-se culpada e desteme para julgamento, joga-se a morte junto o seu "Protetor".

Portanto na história construída de um meio histórico social, João agregou peças de todos os movimentos, sendo como criança o órfão de pai pela violência, sendo está a criação de sua persona quanto o contexto social, evidenciando sua singularidade individual em um âmbito coletivo, desregrando de várias atividades por ora principais e secundárias, mediante as mudanças de sua historicidade, então além de criar e nascer de uma singularidade, o homem constrói sua individualidade dentro das histórias de outros homens e aprimorando no seu contexto o que viu do outro, e do meio. É neste aspecto que Marx trás o homem com sua verdadeira dimensão e suas perspectivas de desenvolvimento ilimitado ao levar de volta a necessidade de desempenhar seu papel afetivo de ponto de partida genérico e de condição de possibilidade e ao revelar no âmbito da hominização, isto é do entrelaçamento da socialização e da personalização.

Referências Bibliográficas

FACCI. Marilda – O conceito de Personalidade: Uma Análise a partir da Psicologia Histórico-Cultural (Publicado em 2011).

RUSSO. Renato – Música (Legião Urbana "Faroeste Caboclo").

SILVA. Flávia – Subjetividade, individualidade, personalidade e identidade: concepções a partir da psicologia histórico-cultural. (Publicado em 2009).

Janela da Alma: Cinema & PsicologiaOnde histórias criam vida. Descubra agora