"Tempo de Despertar" e a Psicologia Social

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O longa-metragem americano "Tempo de Despertar" (baseado no livro de Oliver Sacks) é uma produção que após análise revela-se um material extremamente fecundo para que se aprofunde a reflexão sobre as instituições a que se está direcionando o curso no presente semestre. Nesta breve análise crítica se intentará correlacionar temáticas apresentadas no filme com pontos da teoria trabalhada em sala de aula.

O médico Malcom Sayer (Robin Willians) embora inserido na instituição total (termo de Goffman) que é o hospital onde a maioria da trama se desenrola, possui uma postura diferenciada do Dr. Kaufman (John Heard), personagem que personifica a hierarquia institucional e o resistente binarismo que permeia a relação internados/dirigentes. Após os experimentos de reflexo do Dr. Malcom e com a administração controlada da droga L-DOPA foi obtido em um primeiro momento a saída dos pacientes de seu estado de catatonia, com destaque para Leonard Lowe (Robert De Niro). Toda a insistência do Dr. Malcom nesse trabalho é motivada por ele acreditar que toda possibilidade de proporcionar mais dignidade humana ao estado do paciente deve ser explorada. Nisto é razoável conceder ao personagem do genial Robin Willians a posição de um olhar psiquiátrico-reformista dentro do conjunto da obra.

Conforme Leonard Lowe, o primeiro paciente tratado pelo L-DOPA alcança progressos ele sofre também uma tomada de consciência em relação aos 30 anos em que seu Mal de Parkinson severo o manteve em um estado de "adormecimento". Isso o faz ter pressa de recuperar o tempo perdido e ele confronta o corpo de médicos com o intuito de uma liberdade mínima lhe ser concedida. A recusa é a devolutiva que ele recebe, confirmando o dito por Goffman (Ferreira. 2012) quando aponta que todas as instituições têm um uma tendência ao fechamento. Nessas instituições o corpo dirigente tem contato livre com o mundo exterior enquanto que os internados têm esse contato reduzido a um mínimo que está sempre ao crivo dos supervisores. Goffman denomina este processo a que as instituições totais submetem seus internos de mortificação do "eu civil".

O "eu-civil" implica que o indivíduo possamos regular razoavelmente a imagem de nós mesmos que chega para os outros em nossas relações sociais. Há um outro conceito dentro da microssociologia de Goffman que pode nos ajudar a compreender essa crise do "eu-civil". Trata-se do "estojo de identidade", um termo genérico para todos os elementos físicos e estratégicos que podem influenciar a visão dos demais indivíduos sobre nós. Estes elementos podem incluir: espelhos, pentes, perfumes, roupas, cortes de cabelo e até mesmo gestos. Dentro da instituição total tudo isso será suprimido e se cultivará por imposição das classes mais altas na hierarquia uma imagem comum de uniformidade (Ferreira.2012). Com isso a singularidade é adormecida e dá lugar o que Foucault chamou de "corpos dóceis), um grupo social de condução facilitada pela administração do poder institucional.

Referências:

FERREIRA, MARCELO SANTANA. Polissemia do conceito de instituição: diálogos entre Goffman e Foucault. ECOS Volume 2. 2012. 

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