"Crash: No Limite" e a Psicologia Social

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O filme "Crash: No Limite" nos traz um interessante horizonte de reflexão tanto dentro da disciplina de Psicologia Social quanto de Grupos e Relações Interpessoais. No longa podemos observamos o surgimento de um grupo que se forma de maneira randômica e desenvolve uma complexa dinâmica interna.

Segundo a teoria de Martin Baró um grupo se definiria como um canal de necessidades e interesses em uma situação e circunstância específica, afirmando assim as formas de caráter concreta e histórica de cada grupo. Baró apresentou três parâmetros principais para a análise grupal: identidade, poder, atividade grupal.

A identidade do grupo de pessoas apresentado em "Crash" é de difícil definição. Isso se deve ao fato de nem todos os seus membros estarem diretamente ligados. Não há um aspecto de unidade no grupo de crash mas sim de multiplicidade de formas de identidade. O grupo é composto basicamente por pessoas mais intolerantes e mais tolerantes as diferenças que vivem em uma cidade altamente urbanizada e marcada por divisão de classes e papéis e onde as desigualdades sociais levam a preconceitos de raízes já muito profundas. Esse preconceito é retratado de maneira muito forte no filme com destaque para os sentidos raciais, étnicos e a nível de poder aquisitivo.

A questão do poder de que dispõe o grupo em suas relações com outros grupos também é difusa pois entre os membros há diferentes níveis de recursos materiais, culturais e/ou pessoais para submeter o outro. Um exemplo pode ser dado pela interação do grupo com as forças de justiça de Los Angeles. Dentro do grupo há um promotor, dois detetives, vários civis e até mesmo dois criminosos. Esses vários papéis têm níveis diferentes de dependência ou independência da segurança pública e suas ações na história se desdobram ora em contribuir, anular ou atuar contra a mesma. Por vezes os personagens fazem isso de maneira consciente e outras vezes inconscientemente.

A atividade grupal e a significação social que é produzida por essa atividade é como tudo em "Crash" algo multifacetado. A atividade do grupo não é coletiva, é individual, com cada personagem agindo de modo particular dependendo do membro com que se relaciona. Esse agir e as consequências dele fazem cada personagem tomar um rumo distinto. Alguns superam seus preconceitos, outros os atenuam, outros os tem questionados e encarados. O que é concreto dizer é que nenhum dos personagens chega ao final da história com exatamente as mesmas concepções com as quais a iniciou.

Esta análise só foi possível mediante uma imersão na compreensão da realidade histórica ocidental norte-americana apresentada no filme, método de investigação defendido pela teoria Marxiana, base da Psicologia Social. 

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