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— Arranje algo para se distrair enquanto eu termino. — Disse Jack e a ruiva revirou os olhos, saindo da cozinha.

Dalila se encaminhou para a sala de estar do adorável casal, analisou os quadros com fotografias dos dois e de seus filhos, elogiou mentalmente a decoração rústica e finalmente direcionou seu olhar para o piano encontrado no canto da sala.

Era muito bonito, pintado de um preto que reluzia graças à fraca luz do cômodo, era um modelo clássico e aparentava ser muito sofisticado. A ruiva caminhou devagar e passou sua mão pelas teclas do instrumento com delicadeza, em seguida se sentando sobe o pequeno banco.

Sua mãe havia a ensinado uma única música no piano de seus avós, mas fazia tanto tempo desde a última vez que não se lembrava mais a sequência correta. Tentou por alguns minutos, falhando ao tentar achar coerência entre os toques de Für Elise, de Beethoven.

Não sabia o que estava fazendo de errado e se encontrava cansada demais para raciocinar com clareza, apenas continuou tocando o que lembrava, nunca conseguindo terminar e tendo que recomeçar.

Dalila não parou quando sentiu o corpo do moreno se posicionar ao seu lado no pequeno banco, pelo contrário, estava frustrada por não conseguir lembrar, talvez tivesse esquecido junto das memórias ao lado da mãe.

Quando Jack retirou delicadamente a mão dela do piano e começou a tocar a melodia, os olhos da ruiva foram imediatamente para o seu rosto, cuja feição era de concentração.

Ele tocava com cuidado as teclas deixando o som pairar pelo cômodo, estava com medo de acordar os demais residentes da casa, mas ao ver a expressão no rosto da ruiva, todas as suas preocupações foram embora.

— Você estava esquecendo desta parte, por isso a melodia não entrava em acordo. — Ele levantou seu rosto e se pôs a observá-la.

Entre o som de Beethoven e o clima pairando entre eles, Jack reparou o quão bonita Dalila ficava naquela pequena iluminação, contornou seu rosto com o olhar e se segurou para não levar seus dedos até as sardas encontradas em seu rosto.

Ali, naquele momento, Jack sentiu algo diferente pela ruiva que não soube explicar nem a si mesmo, não era o ódio o qual estava acostumado a sentir antes, era algo novo.

Dalila não ficou de fora quanto a sentimentos, seu coração se agitou quando o olhar do moreno foi para seus lábios e a mesma apertou a barra de seu vestido. Delicadamente e com um pouco de receio pela possível reação vinda de Dalila, Jack levou sua mão até o rosto da ruiva e prendeu uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha.

Isso fora o bastante para as borboletas virem à tona no estômago da ruiva.

Ela desviou o olhar e voltou a encarar o piano a sua frente, tentando ao máximo não voltar a encaro-lo.

— Com quem aprendeu a tocar? — Perguntou Dalila, tentando distrair seus pensamentos bagunçados.

— Aprendi com Johnson, ele sempre soube tocar e eu sempre fui muito curioso. E você?

Dalila agradeceu aos céus por ele não comentar nada sobre o pequeno momento que tiveram e começou a brincar com suas mãos antes de responder.

— Minha mãe adorava tocar, por isso me ensinou sua favorita... — Fez uma breve pausa, falar da mãe não era algo fácil. — Ou pelo menos foi o que ela me falou, talvez tivesse mentido da mesma forma como mentiu sobre o que sentia por meu pai.

Marjorie era a mãe e esposa perfeita, até explodir e falar todo o desprezo que sentia pela família que até então era amada, Dalila ficou sem chão quando soube que a mãe havia abandonado ela e seu pai e jurou nunca perdoa-la pelo seu ato.

— Eu sinto muito por isso, Dalila. — Jack comentou assim que terminou de ouvir toda a história. — Eu sei que você não me suporta, mas se precisar eu estou aqui.

Inconscientemente, a garota pousa sua cabeça no ombro esquerdo do rapaz, que sente certa alegria no ato.

— Você foi a primeira pessoa para quem eu contei sobre isso... — Ela riu sem humor. — A razão pela qual eu sai pedalando igual uma ridícula era porque queria ir até o Alabama atrás dela e da borboleta estúpida que ela prometeu que mostraria a mim. Passei anos me perguntando porque ela nos odiava tanto e porque foi embora, mas agora, quão maior a distância entre mim e ela, melhor.

Talvez Dalila estivesse chorando neste momento, mas não deixaria o moreno saber, já a viu chorar vezes suficientes.

— Eu sinto muito, mesmo, você não merecia isso. Me desculpe por te chamar de mimada e por alegar que você estava dando em cima de meus amigos. — Ela sorriu com o pedido, jamais imaginaria que ele fosse capaz de falar isso.

— Me desculpe também por chamá-lo de protótipo de Shrek e ogro. — Os dois riram e Dalila se ajeitou, levando sua mão até seu rosto, limpando as lágrimas. — Eu estou com fome, espero que não tenha colocado fogo na cozinha, mesmo.

— Eu coloquei, não está sentido o cheiro de fumaça?

— Na verdade, estou sim... — O moreno arregala seus olhos e corre para a cozinha. — Jack!

— Ok, talvez eu tenha queimado uma parte da sobremesa. — Dalila gargalhou com a feição preocupada do rapaz ao adentrar a cozinha.

— Você deve uma panela nova a Sra. Rodriguez.

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