DALILA
— Será que ainda dá tempo de fugir pela janela? — Rachel sussurrou.
— Estamos no segundo andar... — Respondeu Leticia, parecendo ponderar.
— Peço perdão por interromper a conversa de vocês, garotas, mas preciso ter uma conversa séria com Dalila. — Meu pai me lança um olhar furioso e eu me levanto na hora. — Me siga até o escritório, por favor.
E ao terminar de falar, ele saiu do quarto. Lancei um último olhar desesperado para minhas amigas e me pus a segui-lo, sabia que quando se tratava de conversar em seu escritório significava que a situação estava mais do que séria.
Papai sempre me levava ao escritório para me dar broncas e sermões sobre meu comportamento, já fazia um tempo que eu não o visitava.
Quando chegamos no mesmo, o mais velho se sentou em sua cadeira e eu fiquei de pé, estava nervosa e não sabia por onde começar minha desculpa esfarrapada.
Ele suspirou, parecia exausto, talvez por causa do trabalho ou talvez por minha causa. Doía em mim preocupar o neurocirurgião a minha frente, sempre fui uma filha exemplar mesmo depois de aquela mulher nos ter abandonado, não queria ter o deixado preocupado.
— Explique-se. — Foi o que Edward Modler me disse, a voz rouca.
— Eu bebi muito na festa, roubei uma bicicleta e sai pedalando em direção.... em direção ao Alabama. — Engoli em seco, o vendo fechar os olhos. — Me perdi e dois garotos muito gentis me acolheram e me ajudaram, depois fui trazida para casa por um deles porém alguns imprevistos aconteceram no meio da estrada e....
Papai me olhou nos olhos, me calando e apoiando suas mãos entrelaçadas em seu queixo.
— Você sabe o perigo das suas atitudes? Você poderia ter sido violada por esses homens, ou por qualquer outro, poderia ter sido atropelada, sequestrada... você poderia estar morta, Dalila. Tudo isso porque foi descuidada com a bebida. — Minha boca estava seca, eu sabia de tudo aquilo, mas ouvi-lo falar fazia meu coração se apertar.
— Eu sei, eu tenho total consciência sobre isso, eu sinto muitíssimo pai, juro. Eu nunca quis que nada disso acontecesse, e eles foram legais comigo, não tocaram em mim uma vez se quer. — Tentei acalmá-lo, nem parecia que eu estava no auge dos meus dezenove anos, podia muito bem cuidar de mim mesma.
— Dalila, eu poderia tê-la perdido, e você mais do que ninguém sabe que não quero perdê-la, filha. Você foi extremamente descuidada e por isso ficará de castigo. — Ele se levantou, a severidade em seu olhar havia diminuído. — E não toque mais no assunto Alabama.
Levei minha mão ao rosto, sabia que ele era tão abalado quanto eu em relação as atitudes de minha progenitora e sabia que doía nele tanto quanto em mim. Porém Edward nunca soube me acolher neste assunto ou até mesmo entender o que sinto e ainda por cima quer me deixar de castigo!
E foi por isso que eu passei a não me controlar mais.
— Está de brincadeira, não é? Já parou para pensar que eu também estou mal com isso? Que a garota de sete anos que fui ainda chora por causa do que ela disse naquela noite? — Respirei fundo, minhas mãos estavam tremendo. — Eu queria ir pro Alabama porque achei que sentia a necessidade de por um ponto final nisso tudo e a bebida apenas me encorajou mais.
— Você queria ir ao Alabama por causa da promessa de ver aquela borboleta estúpida. Entenda que ela não vai voltar, nunca mais. — Meu pai se virou de costas, levando suas mãos as têmporas. — Vá para o seu quarto, nossa conversa acabou.
Lágrimas embaçavam minha visão e ameaçavam cair sobre meu rosto. Eu sei que uma parte de meu pai também estava quebrada, que ele se abalava fácil quanto a esse assunto, mas eu queria que, só por cinco minutos, ele colocasse para fora e também me ouvisse desabafar, ao invés de se trancar no seu mundinho.
Eu queria gritar com ele, destruir seu escritório, pular pela janela em uma tentativa besta de fuga, mas apenas dei meia volta e caminhei em direção à porta.
— Me desculpe por expressar o que eu sinto quanto a isso, papai. — Deixei que as lágrimas caíssem, deixei que encharcassem meu rosto e minha camiseta, mas não deixei que ele visse.
Quando cheguei em meu quarto minhas amigas não se encontravam mais, havia apenas um bilhete com a caligrafia de Louise com os dizeres:
"Sentimos muito, mas achamos melhor deixar você sozinha, sabemos que é o que prefere. Nos ligue se precisar de algo.
Com amor, as melhores amigas de todas. "
Sorri de leve em meio às lágrimas, as três realmente me conheciam e eu as amava muito por isso. Deixei o bilhete de lado e deitei sobre minha cama, ainda em prantos.
Odiava com todas as minhas forças brigar com meu pai, ele era tudo o que me restava para chamar de Família e sempre fomos muito unidos, porém questões como essa me fazem explodir e perder o controle.
Eu queria que ele entendesse, que visse e compreendesse o que me abala, mas parece que está cego demais para isso.
Me levantei, limpei meu rosto com as mãos e caminhei até a estante de meu quarto, pegando o grande portfólio escondido entre livros de fantasia e romance e o abri.
Lá estavam elas, vários exemplos ilustrados de borboletas de diferente espécies, cores, tamanhos, semblantes; todas elas desenhadas e descritas a mão por ela. Sempre me perguntei porquê nunca levou consigo, porquê deixou para trás uma das coisas que mais gostava.
Ali, no meio do portfólio, feita de uma forma totalmente única e diferente das outras, encontra-se uma das mais lindas e adoráveis na minha opinião, com o nome mais estranho e engraçado;
Eastern Tiger Swallowtail, um dos símbolos do Alabama.
Eu ainda irei conhecê-la pessoalmente no estado, irei fotografa-la e descrevê-la do meu jeito. Irei cumprir essa maldita promessa com ou sem Marjorie Cassels, mas ainda tenho assuntos pendentes esperando para serem resolvidos.

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accident.
Fanfictionjack gilinsky | ❝ Eu conheci você por acidente, e quero ter mais como esse. ❞ Onde depois de um pequeno acidente, Dalila acorda no quarto de Jack. started on september 10th #1 in magcon; november 22nd cover by lunchboxf copyright, 2019 © sfgilinsky