Olho Azul Como Um Rio à Noite

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Nunca trabalhei tanto na minha vida, para falar a verdade eu nunca trabalhei em todo os meus 16 anos, mas esta noite eu andei e andei, carreguei bandejas e vinhos por todo o lugar. Pareceria que o local não fechava de jeito nenhum, quando uma mesa era desocupada, apareciam grupos de quatro ou cinco para ficar com ela. A minha ou nossa sorte é que o restaurante é climatizado e eu não precisava tremer de frio, mas das três vezes que tive que ir ao banheiro - porque eu bebi água demais - eu pude sentir a natureza gelada que é esse lugar.
As pessoas chegam e entregavam os seus casacos para os funcionários que penduravam em cabides, coisa que só existe na Europa ou nós Estados Unidos. Nunca pude imaginar que aconteceria aqui, bem debaixo do meu nariz.
As horas não queriam passar, eu já estava ficando tonta de tanto andar para lá e para cá. Graças a Deus que eu estava usando o meu All Star verde, que na realidade está fazendo calos no meu pé porque na época em que comprei - quatro anos atrás - eu calçava 37. Agora calço 38, não tenho culpa se tenho um pezão.
Tive que conviver com o humor carbonato de sódio que é Andreia, para quem não sabe carbonato de sódio é uma substância química em que se usa muitas das vezes para acidezes no nosso corpo.
Só um aviso.
Graças ao bom pai que está no céu, a família Maia arredou o pé de lá em menos de uma hora, eles pediram o melhor da casa e quando imaginei que "melhor da casa" seria uma comida farta estava errada, era só duas colheres de um peixe com azeite e uns matos estranhos.
Só isso, eu daria duas mastigadas e pronto! Acabou o meu jantar, mas que merda Hã? U não pagaria o prato mais cara sendo uma coisa tão pequena e tão sem gosto como essa, mas como eles são ricos e se eles pediram é porque deve ser bom.
Não olhei para a cara do Caio nem por um segundo, mas o pior de tudo foi que tive que retirar os casacos caros de sua família e entregá-los. Essa parte foi foda, vou te contar. Eu tive que por os casacos no corpo das pessoas! Sim! Não era para entregar, era para vestí-los! Quando eu vi a mulher loiro da idade da minha mãe que deve ser a mãe ou madrasta de Caio se virar para mim e esperar feito uma estátua eu fiquei pasma, foi ai que vi Andreia pondo um casaco enorme mas costas da senhora de esmeraldas e entendi o recado.
Mas quanta petulância gente!
Pus o casaco na mulher e que cheiro bom que ela tem! Um perfume viciaste, respirei bastante e intenso para poder sentir mais ainda o perfume nas minhas narinas.
Deu duas horas da manhã - e amém - o restaurante estava fechando, não precisei limpar nada, tia Enie é a chef, mas também não é como os funcionários comuns e se fosse, pelo amor de Deus era trabalho demais!
- Está cansada Iabella? - pergunta tirando um sorriso de Rafael que esta ao seu lado.
"Não! Imagina, eu só estou me fingindo de morta porque eu sou uma cachorra."
Não respondo nada e entro no carro, meus pés estão doendo demais e eu gostaria mesmo de tirar os meus tênis, mas não posso porque eu tenho um chulé pior do que gambá. Jesus.
Cochilo dentro do carro antes mesmo que Rafael ride a chave, tia Enie me acorda e eu vejo tudo escuro, somente a luz do poste ilumina a rua deserta. Não tenho a menor ideia de onde estou, mas me lembro que dormi no carro por um motivo óbvio: cansaço.
Entro dentro de casa e caio em cima da sua cama, já que minha mãe e o meu pai estão dormindo no meu quarto - que não é oficialmente meu - e Valeria e o seu marido estão dormindo no quarto que era de tia Enie e eu e a minha tia estamos dormindo onde é o seu quarto agora, espero mesmo que ela não se importe, mas como disse antes: "não me preocupo em dividir cama, eu sempre dividia cama com a sua mãe por anos."
Não tiro a minha roupa, jogo os meus tênis no chão e me enrolo com o cobertor.
Tia fecha as janelas e reclama por eu ter jogado os meus tênis sujos de lama no seu chão limpo e me chama de porquinha por eu não ter tirado a roupa, tomado banho e vestido uma camisola.
Até parece que eu vou me levantar daqui para tomar banho nesse Canadá e com sono por sinal.
Acordo de manhã com um som horrível nas alturas. Ah não. Hoje é Carnaval e a festa começou foi cedo, o meu dia se remirá em musicas de 50 anos atrás, muita baderna, cerveja e gente presa.
Ninguem me leve para fora de casa hoje. Estou ainda cansada, minha garganta está ardendo, estou morrendo de calor e ainda com fome.
Hoje é o meu dia.
- Iabella, você acordou, até que enfim pensei que ia morrer ai em cima dessa cama - tia sorri e parece mais jovial, ela usa um shorts jeans comprido e uma regata branca, deixou os seus cabelos soltos e os seus brincos de argolas douradas dão um charme na sua pele morena clara.
- Que horas são?
- É quase a hora do almoço. - ela entra no quarto e guarda algumas roupas na gaveta - todo mundo saiu para o açude, eu não quis te acordar.
Grande novidade meus pais saírem sem mim.
- Já fiz o almoço, só falta fazer o suco, hoje eu não vou trabalhar então podemos sair de quiser.
- Sair? Sair para onde pelo amor de Deus? Eu não aguento nem andar aqui. - reclamo bocejando. - minha lista de hoje é passar o dia todo na cama.
- Mas Iabella, é Carnaval, todo mundo vai sair.
- Eu não sou todo mundo e eu não gosto de Carnaval, ainda mais com esses bêbados. Se quiser pode ir tia.
- Eu vou sair com o Rafael para um baile hoje à noite.
- Hm. Que legal, parece legal.
- É legal sim. Você não pode passar o dia todo na cama. Porque não visita algumas de suas amigas?
- Porque nenhuma delas mora aqui.
Shaila esta em Salvador, Teresa mora mais para o leste perto da escola e Elena, bem, eu não sei qual a cidade em que mora.
- Ah que chato, então vamos assistir a um filme, que tal? Eu comprei novos semana passada.
- Boa ideia. Comer e assistir filmes, existem coisas melhores?
- Existe sim, é só que você é preguiçosa.

Todo Dia é DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora