Todo Dia é Dia

Carnaval

- Como o Carnaval está chegando - o professor fala toda animado e da pulinhos de alegria, alguém diz para ele que esta ridículo? - a escola fechará por uma semana inteira - todos, quase todos, menos eu, festejam soltando gritos de alegria e "aleluias", como se as pessoas realmente fossem religiosas. - mas a Instituição ficará aberta como sempre, José, depois você grita, agora não, deixa eu terminar de falar... Muito bem! Voltando, a Instituição ficará aberta normalmente e já recebemos ligações de alguns pais alegando dizer que não poderão ficar com os seus filhos, pagando uma pequena taxa.
Pequena? Ah, bota pequena nisso, até parece, Zeca nos contou um dia antes que os pais que não querem levar os seus filhos consigo para casa terão que pagar em torno de 300 reais, por uma semana. Mas também, é Carnaval um dos feriados mais importantes do país e ainda tem gente que vai trabalhar?
Acho justo, eles só deveriam dizer a verdade.
- E você Zeca? Vai ficar aqui ou ir para casa? - pergunto, segurado o seu isqueiro de cobre que esta escrito "foda demais para amar" na frente.
- Eu vivo aqui criança, nunca saio desse lugar.
- Mas isso parece horrível Zeca...
- Nem tanto, nasci para viver no inferno. - ele diz tomando o seu isqueiro e acendendo dois cigarro de uma vez e os tragando em uma grande fumaça branca pelo quarto.

- Mais perguntas? - professor para de falar, esperando que alguém queira fazer uma pergunta, coisa que claro, ninguém faz. - tudo bem, vamos distribuir algumas coisas para vocês crianças, para se prevenir neste Carnaval, mais tarde vocês tentam uma palestra com Lira Campos, ela é especializada em outra Instituição que cuida de adolescentes problemáticos. Espero que todos vão.
As pessoas só vão para esta palestra por causa que receberemos pipoca grátis e dois copos de Coca de 500 ml. Até eu vou só para isso.
- Agora, por favor, escrevam os seus nomes aqui, teremos cadeiras contadas hoje, a palestra será daqui a 4 horas na sala 7.
Sala 7 é a maior sala de toda a Instituição, capacitada para ter 100 pessoas em cadeiras. Dizem que lá é bom porque tem janelas suficientes que vão do chão até o teto e um ar condicionado grande o suficiente capaz de congelar todo mundo.
- Vocês serão liberados amanhã de manhã, as 7 horas, vamos entregar os celulares em seus quartos daqui há meia hora. - explica.
Para a minha grande alegria - não estou sendo sarcástica - minha tia me ligou agora pouco, ela me disse que vira me buscar as oito, e que meus pais virão para cá, vamos passar o Carnaval na casa dela, todos juntos e será a primeira vez em 47 dias que eu verei os meus pais. Não sei se estou preparada psicologicamente para isso, mas preciso ser forte, até porque meu primo Lucas virá com eles.
- Pequena Iabella! Como você está?
- Estou bem tia, então, como vai ser? Vai me deixar aqui mofando ou vai vir me buscar amanhã para o Carnaval?
- Oh Iabella, falando assim até você me magoa, claro que eu vou buscar a minha sobrinha linda e querida! Não te deixaria ai sozinha nem louca! Irei te buscar com o Rafael as oito, tudo bem?
- Certo. Tudo, como ele está?
- Ele esta ótimo, ele e Iabella ficarão conosco durante o Carnaval, algum problema?
- Não, eu adoro gente tia e além do mais, é a sua casa, gosto do Rafael também.
- Estou morrendo de saudades de voce criança, nós veremos logo, um beijo, preciso trabalhar!
- Beijo para a senhora também tia Enie, tchau.

Eu e as outras garotas não estamos nós falando muito bem, somente um oi ou "me empresta a caneta, por favor?"
Somente isso, o necessário até porque eu ainda sinto um pouco de raiva das três por terem me deixado sozinha no dia do enterro da Ana Raquel e por terem ido ao Bar Lego's sem mim, só isso para completar.
Não estou muito bem de saúde, comecei uma gripe terrível ontem de noite, espirrei e espirrei tanto, ainda bem que tia Enie virá me buscar amanhã, ela poderá me dar remédios para a minha saúde, fui ontem de noite a enfermaria e a médica ou sei lá o que que essa mulher é me deu Vick e dois comprimidos para dor de cabeça.
Adiantou, mas eu ainda estou doente, o bom é que o clima esta que te favorecendo a minha doença, seria péssimo se estivéssemos no inverno.
Para constar, eu preciso usar uma blusa para espirrar e limpar - eca - o meu catarro, esta já é a terceira só hoje.
Não paro de espirrar nem por um segundo.
- Você esta bem? - pergunta Teresa.
- Ah, tô bem. - dou de ombros e viro as costas.
- Ah, Iabella, eu quero falar com você, pode ser?
- Mas já vamos entrar na aula... - falo, mesmo querendo não ir a aula.
- Mas... Tudo bem...
- Ok. Fala logo.
- Tá. - ela sorrir nervosa - eu... Eu sinto muito a gente não ter te chamado ontem para o enterro, e não ter te levado para o Bar... É que...
- Me poupe disse Teresa, o que me deixa irritada é o fato de você ter bebido, sabe! Você nem faz essas coisas...
- O que? - ela pergunta incrédula - eu não bebi.
- Você não o quê?!
- Você acha que eu bebi? Deus... Nunca, porque... Eu vai da cama naquele jeito porque eu estava muito cansada! Tivemos que andar muito até a Instituição...
- Ah, desculpa.
- Não! Não! Eu é que tenho que te pedir desculpas Iabella. - ela segura a minha mão e aperta - não devia ter feito isso com você, justo você quê é uma pessoa tão boa...
- Eu não sou uma pessoa boa Teresa. - digo.
- É claro que é. Não é perfeita, eu sei, mas é uma boa garota que faz coisas boas para as pessoas. - vamos esquecer o passado e viver o agora? - sorri e aperta mais as minha mãos.
O que eu tenho a dizer? Sim, claro que sim, porque todos nós vivemos em dias escuros e são pessoas como Teresa que nos salva para a luz.
Nossa, isso foi profundo.
- Claro Teresa. - abraço ela, forte, Teresa fica toda errada, mas eu não me importo, gosto de abraçar todo mundo.
Ela emagreceu muito nesses dias, mas ainda é mais baixa do que todos aqui, seus cabelos longos a deixam mais baixa ainda é a sua pele branca demais faz a parecer que tem algum tipo de doença.
Mas está é a Teresa, e ninguém é perfeito mesmo.
- Vamos para as aulas agora. Você vai para a palestra? - pergunta, se sentando ao meu lado.
- Sim, pipoca e refri grátis? É comigo mesmo.