A Arma

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- Como foi o dia? - perguntou a minha tia depois de termos chegado em casa.
- Foi legal. - digo sentando-me no sofá.
- Só legal? Ou... Teve mais coisas? - pergunta ela com um tom malvado.
- Só legal.
Eu realmente não quero entrar em detalhes sobre a minha tarde com o Caio para ninguém e muito menos para a minha tia, acho que a privacidade é a base de qualquer relacionamento, tanto namoro, como amizade e muito mais o familiar.
Espero que Caio entenda também e não diga para todos o que fizemos nesta tarde.
- E você? Como foi o seu dia? - mudo de assunto, eu não quero falar sobre aquilo.
- Foi legal, dormi mais um pouco, estava cansada! E depois eu e o Rafael fomos visitar a sua tia. Cheguei de lá agora.
Sei que a minha tia Enie está se coçando para contar algo para mim, ela me olha ansiosa e sempre treme um pouco, o que for que quer me dizer deve ser bom, então porque não me diz logo de uma vez?
- Fala logo tia. - corto o papo furado.
- Falar o que?
- O que você quer tanto falar pra mim.
- E eu quero falar alguma coisa? - franze o cenho.
Reviro os meus olhos, ok, se ela não quiser me contar nada, então eu não vou insistir
- Ta bom. - fala - eu e o Rafael vamos morar juntos.
Ah... Nossa. Isso é uma surpresa e tanto, pensei que os dois estavam confortáveis demais vivendo nas suas casas separadas, com medo da reação das pessoas se os vissem juntos.
- E isso é bom...?
- Mas é claro que é! Porque não seria? Ora mais Iabella, não pode ficar feliz por mim não?
- Eu estou feliz. - digo desanimada - é que um pouco cansada... Mas mesmo assim tia, eu estou bem feliz por vocês dois. Ele vai vir pra cá?
- Ah, sobre isso. - diz com desanimo - eu e ela vamos nos mudar, para a capital.
- O que? - falo espantada, não consigo controlar o meu tom de voz.
- A gente comprou uma casa perto da praia, e já fomos lá semana passada. Compramos todos os móveis, só falta a gente ficar lá.
Então era por isso que o guarda roupa dela estava vazio e também a cozinha, que tinha muita comida, algumas fotografias que antes estavam na sala, não estão mais.
Ela vai se mudar com o seu namorado para um apartamento na cidade.
- E eu?! Onde eu vou...? Morar.
- Era isso o que eu estava pensando. Eu conversei com a sua mãe e ela disse que você voltará a morar com ela. Paula disse que não quer que você more mais comigo, já que eu vou me mudar para a capital.
Eu não posso acreditar nas coisas que estão acontecendo comigo, isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto, eu voltarei a morar com a minha mãe na capital e nunca mais pisarei aqui? É isso o que estou ouvindo?
Porque diabos a minha tia vai morar na cidade com ele? Porque eles não simplesmente ficam aqui?
- Mas ela não me disse nada... - falo.
- Sua mãe está chateada com você Iabella, por um motivo que eu não sei. Mas mesmo assim, ela é a sua mãe e é a sua responsável. Você sabe disso.
- Então eu não vou mais morar aqui...
- Não querida. - fala, ela não parece nenhum pouco infeliz com isso. Está tão animada com a sua nova casa que não liga para mim.
Eu pensava que ela queria ficar comigo, que gostaria de morar comigo, na sua casa eu e ela juntas.
Não consigo esconder a cara feia, é muita putaria uma coisa dessas.
E a minha escola? Eu vou ter que viajar quilômetros para a minha casa e depois voltar para cá?
Pelo que eu saiba, a minha mãe não tem carro, então eu vou ter que vir de ônibus.
- Vamos jantar? - pergunta - a gente pode ir na pizzaria se você quiser, eu o Rafael e você.
- Pode pegar essa pizza e enfiar no seu... - Oh meu Deus, eu não posso falar isso, é demasiado feio
- Iabella! - diz espantada - eu nunca vi você desse jeito...
- Não importa - a interrompo - você pode comer a sua pizza com o Rafael sozinha.
- Iabella...
- Não me enche. - entro no meu quarto e tranco a porta - porra - murmuro.
Espero a minha tia ligar o seu celular, falar com o seu namorado e depois sair de casa. Agora sim eu estou sozinha. Eu não quero acreditar no que ela acabou de dizer. Eu pensava que ficaríamos juntas, aqui nessa cidade.
Eu quero sair daqui agora, eu quero ir para a Instituição pela primeira vez na vida, eu não quero mais ficar aqui.
Pego a minha mochila, junto as minhas coisas e saio da sua casa, vou até o ponto de ônibus e de lá eu compro uma passagem para a cidade da Instituição. Pela minha sorte, o ônibus chegará em 10 minutos.
Entro no ônibus e me sento no final, me cubro com o lençol e durmo, tentando esquecer por algumas horas toda a reviravolta que deu na minha vida.
Porque isso tinha que acontecer? Justo agora, que as coisas pareciam estar indo no caminho certo, eu e o Caio, o nosso beijo, a sua doce irmã... As minhas amigas, minha mãe não vai querer que eu estude aqui, existem outras Instituições para pessoas problemáticas como eu na cidade, ela não deixará eu viajar durante 6 horas todos os domingos para cá.

Todo Dia é DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora