Meu Sangue Carmesim

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"É como se as pessoas dessem uma importância maior para quem eu sou. Não é assim, sou um ser humano como qualquer um, um dia vou morrer também. Ainda assim eles insistem em mim."

28 de Setembro de 2072, Atsuo Watanabe em uma tentativa de fugir dos holofotes, deixa sua casa nos Estados Unidos e vai morar no Japão, mais precisamente em Tóquio, sem avisar ninguém próximo ou distante que ele iria se mudar. O que azarado não sabia era que Tóquio estava tomada pelo inferno criminal, junto com Saitama e Yokohama.

Ao chegar no Aeroporto tudo ainda aparentava estar normal, tudo ocorria como planejado e Atsuo parecia ser um mero cidadão que acabava de chegar a Tóquio, esta que era uma cidade imensa, com seus letreiros exuberantes de cores neon que já no aeroporto eram jogados aos olhos de quem chegava de outros lugares.

Ele decide ir até o banheiro do aeroporto, tudo aparentava ser tão tecnológico e alguns vendedores ambulantes ilegais se escondiam ali, tentando vender produtos falsos para os estrangeiros. Quando ele entra no banheiro, um vendedor tenta lhe oferecer um par de óculos que estavam 'inteiros' mas evidentemente manchados com sangue em algumas partes. Outro tenta lhe vender um Smartphone Xaong, ele apenas nega, lava seu rosto se olhando no espelho e sai do banheiro.

O moço sai do aeroporto e pede uma 'carona' usando um HUD visual de implante. Táxis foram completamente substituídos por opções mais viáveis ao consumidor pelos anos de 2020. Quando o carro chega, ele se depara com uma raridade nos tempos atuais: um motorista humano.

— Para onde Senhor? (diz motorista).

A localização era enviada por conexão curta: uma forma segura de enviar e obviamente, receber dados entre pessoas e apenas pessoas. O lugar ficava longe dali, um pouco apenas afastado do 'centrão' da cidade, mas não em um subúrbio qualquer.

— Motoristas humanos já não são mais algo comum nos Estados Unidos. — comenta Atsuo olhando para fora da janela.

— Em resumo eu sou um dos poucos motoristas humanos atualmente, por enquanto. Devido a falhas de segurança, alguns trilhas conseguem com facilidade controlar os sistemas e faze-los não cobrar pela corrida. Sendo assim as empresas vão voltar a investir de novo na mão de obra humana. É uma lenta volta, mas logo os controladores de carne serão a maioria novamente.

Atsuo responde sem muita animação, ainda olhando pela janela:

— Compreendo, confio mais em humanos do que em robôs, acho que o transito é muito difícil para uma lata poder pensar em tudo envolta dela. Mas mudando de assunto assim de repente, porque tantos letreiros? É tanta propaganda de produtos de beleza que eu sinto que estou na Coréia do Sul.

O motorista responde:

— Capitalismo vende senhor, os letreiros são exuberantes e dizem "produtos de beleza de alta qualidade aqui" pois enganam fácil aqueles despreparados. Você é novo por aqui, então pode estranhar de começo, mas você se acostuma, luzes cegantes, comerciais para todo lado... Chegou no dia certo aliás, o transito está congestionado, as pessoas saíram aos montes e lotaram as lojas, e está chovendo com direito a trovoadas, boa sorte até para chegar em casa cedo hoje.

Ele permanece quieto e observa cada canto que pode da cidade. Ficam evidentes as muitas pichações nas paredes, com frases ameaçadoras, símbolos irreconhecíveis e em algumas, até sangue cobrindo a parede toda. Confuso, decide perguntar ao motorista:

— Porquê tantas pichações? Isso aqui tá um caos. Achei que o Japão não tinha dessas coisas e que o governo cuidasse disso. Pelo menos mais do que no ocidente é claro.

O motorista responde da forma mais formal que consegue:

— Ééé... o Japão mudou desde que deixou de ser uma monarquia parlamentarista para se tornar uma república, nada aqui funciona mais, e isso tem um bom tempo.

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