Rachados sinos de bronze

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Comida de gato.

— Alguns minutos e já chegamos lá. — comenta Iori.

— Hum.

"O Mike parece estar preocupado. Não me admiro, ter que confrontar seu melhor amigo assim, de repente. Essa dai chegou nele como um socão no estômago. Não me afetou tanto assim pois... no fim éramos só mestre e aprendiz a curto prazo. Mas o Mike? O senhor O'leary era amigo do cara há mais de década... Sinceramente eu não sei em quem confiar depois de uma dessas, além da Sonia é claro."

— Éramos só nós dois uma época. Mas antes que pergunte, nunca passou de amizade.

— O silêncio é ouro.

— É eu sei que eu disse isso. Mas uma inquietação tomou conta de mim.

— Estamos apenas a alguns quarteirões de chegarmos lá, não quer chamar a Sonia?

— Não... Ela até gostaria de meter a porrada nele mas preciso te pedir algo. Não entre, fique por trás da parede, quero que o observe, procure algo sobre o que a Sonia vem falando; acha que consegue?

— Eu sou um mago, treinado por Masayoshi Kobayashi, é claro que eu consigo ver por trás das paredes.

— Vestiário feminino?

— Jamais. — Iori responde desviando o olhar para outro lugar.

— Rum... De qualquer forma, preciso que o observe, veja se consegue tirar algo, mande para Sonia urgentemente, não sei se sou capaz de derrota-lo.

— Eu acho que você tem poder sim, senhor O'leary.

— Não é poder o problema aqui, jovem Chiba. É... outra coisa.

— ... Ah... 

O céu começa a descer sua chuva cotidiana, a cada minuto que se passava, as coisas ficavam mais frias, mais escuras, mais nubladas. O garoto, que estava andando ao lado de Mike e com as mãos nos bolsos, com uma cara amuada, para de repente, O'leary continua a dar mais alguns passos, até parar, e dizer:

— E então?...

— É difícil, não é? Eu tento ser forte, mas é sempre uma paulada atrás da outra, nada na minha vida vem sem um custo enorme, um... um débito. Eu não posso ser feliz? É isso então?

— Iori...

O garoto se vira, para Mike não perceber que ele estava começando a chorar. Mas o choro não vem apenas pelas lágrimas, era evidente que sua voz havia começado a falhar na hora de falar:

— Que tipo de merda se passa na cabeça de um cara que deixa uma pessoa dessas tomar conta de suas responsabilidades, de suas escolhas? Ele não consegue ver que preso nesse tipo de relação, tudo o que ele vai fazer vai ser em prol de alguém que quer apenas tomar controle dele? Será que nem todo o treinamento do mundo pode te preparar para uma ilusão amorosa, ou nesse caso, te preparar para uma pessoa manipuladora?

— Aparentemente... se for mesmo a namorada dele quem fez isso... então é, eu concordo que não há treinamento que te prepare para o amor, que fraqueza esta dos seres humanos, não?

— É... — ele enxuga as lágrimas e se vira de novo — o senhor me promete uma coisa?

Alguns segundos de silêncio tomam conta da cena, mas logo ele responde:

— Eu... não sei se devo acreditar em promessa alguma, Iori.

— É coisa simples. Como melhor amigo, o último soco pode ser seu, mas o primeiro, pode ser meu?

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