__SOBRE O SENHOR TAKIRA TANAKA __
Aldir e Lucas gostavam de chegar na feira antes dela se abrir.
A melhor barraca era a deles, diziam os fregueses fiéis! A barraca que sempre vendia tudo antes do final do dia era a deles, não porque eles tinham alguma proteção do homem que administrava o local, mas porque sempre traziam os melhores produtos e os mais baratos!
Os alimentos orgânicos estavam em alta, pois o número de pessoas que adquiriam o hábito de fugir dos agrotóxicos só aumentava.
A plantação deles não era tão grande assim, mas era muito diversificada: frutas, verduras, legumes, além de ervas para chás. O segredo era a atenção que tinham de quando plantar e de como cuidar.
Lucas aprendera com Aldir a ter paixão pela terra, a ficar horas e horas, desde as primeiras horas do dia, apenas com os pés e as mãos enfiados na terra fofa e bem tratada cuidando dos canteiros.
O tamanho da casa fora sacrificado em prol de aproveitar todos os espaços disponíveis do terreno: dois quartos pequenos (um pra Lucas e um pra Aldir)...um banheiro pequeno...uma cozinha pequena...e nada mais. Nem sala...nem um quarto de reserva para um possível hóspede...apenas aquilo: quatro cômodos simples e muito bem organizados!
Aldir ensinara a Lucas desde cedo o valor do silêncio quando não havia mais nada a dizer e a preciosidade das palavras quando delas se precisava realmente.
Trabalhavam em silêncio, como se a voz pudesse atrasar o desenvolvimentos das plantas...faziam as refeições conversando, como se o alimento que entrava pela boca devesse ser reforçado pelo alimento que alimentaria a alma.
Fora difícil encontrarem a paz e a harmonia depois da tragédia vivida pelo garoto, mas Aldir tivera toda a paciência e todo o tempo do mundo. Respeito era a base de tudo: ele ouvia Lucas quando ele queria falar...ele respeitava Lucas quando ele queria ficar apenas em silêncio.
O dom do garoto ainda estava muito descontrolado e Lucas poderia soltar alguma premonição, ou mesmo reagir de forma a chamar a atenção de todo mundo a sua volta. O melhor, analisou o tio que se assumira pai do garoto, seria procurar uma escola que aceitasse que o menino estudasse com o pai em casa e prestasse os exames para ver se estava apto a ser aprovado.
Lucas sabia que não seria fácil encontrar uma escola que aceitasse aquilo, mas fora um dia na feira, logo nos primeiros meses após chegar na vida de Aldir, que ele de repente olhara atentamente para um cliente japonês que já aparecera na barraca deles várias outras vezes. Às vezes vinha sozinho...às vezes trazia a esposa também sempre simpática.
Era um japonês já idoso, baixo, aparência amigável e que sempre era o primeiro freguês do dia. Ele sempre comprava apenas o necessário para ser consumido naquele dia e não se importava em voltar no dia seguinte.
Lucas não saberia dizer em que momento ele teve a certeza de que ali estaria o seu salvador em relação aos estudos.
_Eu preciso estudar em casa e ir à escola apenas para prestar os exames. Pode me ajudar, por favor?_Lucas dissera ao homem de forma repentina assustando não só o japonês, quanto Aldir.
O japonês riu e estendeu a mão para o garoto.
_Takira Tanaka, dono de uma escola de ensino básico...como você adivinhou?_perguntou curioso.
Aldir pigarreou desconsertado e falou rapidamente:
_Prazer, senhor Takira Tanaka! Sou Aldir Silva. Este é o meu filho Lucas Silva. Me desculpe. O meu filho tem feito este apelo a cada pessoa que vem comprar na minha barraca, não é filho?

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UMA QUESTÃO DE AMOR-Armando Scoth Lee-Romance gay
RomanceIMPRÓPRIO PARA MENORES DE 21 ANOS_Heitor, um homem dividido entre o amor e a política...Lucas, uma alma atormentada por um dom que não queria...Para Heitor, Lucas é o seu verdadeiro eu, a sua alma gêmea, o seu corpo em chamas por um desejo incontrol...