CAPÍTULO 10-PORQUE HEITOR DECIDIU SE MATAR

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__QUANDO OTÁVIO LECLERC FAZ UMA DECLARAÇÃO MONSTRUOSA___



Heitor já vinha pensando naquilo há meses!

Ísis dera a volta por cima, fora morar com as sobrinhas no exterior, boatos diziam que ela estava bem na vida, se casara...talvez tivesse se esquecido completamente do que acontecera naquele dia maldito em que decidira desgraçar a vida do sobrinho pra sempre! O dia em que ajudara a provocar o suicídio de Eugênia!

Heitor não sabia se odiava a tia, ou se a desprezava como o verme que ela era...que espécie de mulher aproveita da fragilidade do sobrinho pra abusar sexualmente dele? Que tipo de pessoa consegue colocar a cabeça no travesseiro todos os dias depois de participar de um ato que levou ao suicídio de outra pessoa? Talvez o tipo de pessoa que Ísis era...talvez o tipo de pessoa que Heitor devesse ter se transformado...a exemplo da tia depravada...e ele não conseguira.

Heitor não sabia se aquela postura que fizera a tia dar a volta por cima  era digna de uma denúncia (ele tinha menos de 15 anos na época e ela fora sim uma pedófila), ou se era digna de aplausos!

Talvez Otávio Leclerc fizesse o que um pai que ama o filho faria: daria uma surra na irmã caçula e depois se entenderia com a justiça! Ainda não havia a lei contra o Feminicidio naquela época  e provavelmente os outros pais apoiariam a atitude dele! Mas, para Otávio reagir àquilo da forma como o filho esperava que ele agisse, ele teria  que estar a par dos fatos e isso não aconteceria...nunca!

O que o filho contaria ao pai não apenas destruiria Ísis...mas também Heitor...também o respeito e carinho que Otávio tinha pela irmã caçula...também criaria uma guerra entre as famílias do pai e da mãe! 

Ele já sabia que a família da mãe o apoiaria, mas a família do pai diria que ele estava inventando...que Ísis nunca faria algo assim!

Heitor queria que aquele fato fosse enterrado...fosse esquecido...apagado de sua mente, assim como a visão da mãe morta no banheiro que não deixava de visitá-lo todos os dias...mas, com o tempo, não foi o que aconteceu.

Desde o dia da morte da mãe...do suicídio da mãe após ver aquela cena monstruosa, Heitor Leclerc trazia aquela lembrança como se fossem as rodas que perseguem os pés de um boi condutor de seu carro. Era algo que parecia tatuado em seu cérebro...no seu DNA...Se Ísis tinha se esquecido, ótimo pra ela...mas ele não tinha aquele dom (ou seria uma maldição?), aquela sorte (ou seria azar?)...tudo tão confuso...guardar aquilo se tornara um fardo pesado demais pra ele carregar sozinho!

Uma nova mulher veio com o pai para dentro de casa: Marcela, uma das secretárias de Otávio. 

Marcela era bem mais jovem do que a mãe de Heitor...sorriso fácil...alto astral...o oposto da mulher calada, deprimida e sofrida que havia vivido ali antes de se matar.

Heitor tentou ignorar a convivência dos dois, do pai e da sua nova companheira,  como se aquela mudança já estivesse sendo cogitado há anos...será que mesmo antes da mãe dele morrer? Mais uma pergunta sem resposta para torturar o pobre Heitor...

Estaria Otávio Leclerc traindo a esposa com Marcela? E se isso tivesse acontecido...Eugênia saberia?

Talvez Heitor precisasse de um psicólogo, reconheceu, mas apesar dele ter ouvido um amigo falar que "com alguém pago pra te ouvir a vida fica mais fácil", o rapaz sabia que a sua família considerava um profissional daqueles como um médico pra loucos!

Para sustentar a farsa de filho equilibrado, ele teve que manter-se cumprindo o papel do filho com carreira promissora na vida da família...o futuro presidente do Brasil, como seu pai o fazia repetir religiosamente todos os dias.

UMA QUESTÃO DE AMOR-Armando Scoth Lee-Romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora