Capítulo 1

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ABBY

Assim que desço do ônibus, meus olhos percorrem a rodoviária atrás de minha avó. E sim, eu já havia deixado Manhattan, confesso que estava bastante abatida, afinal, eu tinha um legado naquela cidade.

- Abby! - Ouço a voz da minha vó e me viro. A encontro com um sorriso nos lábios, automaticamente sorrio também e me abaixo para abraçá-la - Desde a última vez que eu te vi você cresceu mais minha neta.

Rio.

- Não exagera vó, a senhora que é muito baixa. - Arrumo minha mochila nas costas - Podemos ir? Daqui a pouco minha renite ataca com o tanto de poeira que tem nessa rodoviária. - Bufo e varro meus olhos novamente pela rodoviária a analisando.

Esse lugar era mais velho que minha avó.

- Vamos, o carro está por ali. - Aponta para um corredor que havia na rodoviária que dava para o outro lado. Minha vó me ajudou com minhas malas e passamos pelo corredor dando de cara com o único carro estacionado por lá.

Nem carro isso poderia ser considerado.

- Como a senhora tem coragem de chamar isso de carro? - Arqueio minhas sombrancelhas para o fusca branco e velho á minha frente.

Minha vó revira os olhos.

- Não fale assim da Maya, Abby! Ela pode estar velha mas ainda funciona. - Ela diz abrindo a porta da frente do fusca e puxando o banco, jogando as malas lá trás - Entre.

Entro pelo mesmo e tento puxar o cinto de segurança que estava emperrado.

- Vó e a segurança desse carro? - Encaro a mesma que tinha acabado de entrar no fusca e fechar a porta do seu lado.

- É só você fazer com jeitinho Abby! - Ela calmamente puxa o cinto - Vamos lá Maya, segurança sempre princesa. - Depois disso o cinto solta e ela o prende.

Sério mesmo que ela estava falando com um carro?

- Vó, a senhora já tomou seus remédios hoje?

Ela apenas ri e coloca seu cinto, logo depois arrancando com o fusca velho que ela chama de carro.

****

Estava quase cochilando quando minha avó me avisa que chegamos. Retiro meus fones de ouvido e encaro o lugar que eu passaria o resto dos meus dias.

Eu havia esquecido de como aqui era verde. Minha vó morava em uma fazenda, a sua própria fazenda que ela e meu vô demoraram anos para construir-la, mas depois que meu avô morreu minha vó passou a cuida-la dela sozinha e com a ajuda do meu primo.

Minha avó já vivia em uma cidade do interior e ainda mora em uma fazenda bem no meio do nada... Mais solidão impossível.

- Seja bem vinda a Country Mitchell. - Minha vó abre a porta da Maya e sai sorrindente colocando as mãos na sua cintura.

Reviro os olhos e tiro o cinto com dificuldades porque o mesmo não destravava. Arrumo minha mochila nas costas e saio do fusca.

- Pede para o caseiro levar minhas malas para o quarto. - Aviso minha vó e ela arqueia as sombrancelhas me encarando.

- Você acha que aqui é o que?

- Uma fazenda ué.

- Você não tem empregado Abby!

- Vó, eu passei horas naquele ônibus, estou cansada... - Fiz meu drama e ela cruzou os braços.

- Tudo bem, mas não se acostuma. - Ela diz e eu sorrio a dando as costas.

Como eu já havia passado algumas temporadas aqui nessa casa, eu já tinha meu próprio quarto para a minha felicidade.

Assim que passo pela porta principal me deparo com a decoração rústica da casa, ela estava igual a última vez que vim aqui, parece até que foi ontem. Subo as escadas e ando pelo corredor que conforme cada passo que eu dava fazia barulho pelo chão ser de madeira, quero ver como que eu vou escapar de noite sem acordar a casa toda.

Bufo só de imaginar e quando percebo já estava em frente a porta do meu quarto. Giro a maçaneta da porta e a mesma se abre, meu quarto estava totalmente arrumado e com um aspecto de limpo, aposto que minha vó arrumou antes da minha chegada.

Ela era uma fofa as vezes.

Mas como eu disse, as vezes.

Coloco minha mochila na poltrona ao lado da cama e me jogo na mesma já imaginando o inferno que minha vida se tornaria.

Batidas da porta soam pelo quarto.

- Mas que droga, mal chego e já começam a encher meu saco? - Coloco o travesseiro na cara e grito um "entra".

- Oi priminha. - Ouço a voz de James e tiro o travesseiro do rosto o encarando - Trouxe suas coisas. - Ele sorri as colocando no chão.

- Obrigada! - Sorrio falsamente e me deito novamente colocando o travesseiro de volta no meu rosto - Fecha a porta quando sair! - O aviso.

O silêncio permanece no quarto mas não ouço o barulho da porta se fechando e estranho, quando de repente o travesseiro e puxado de mim e jogado para longe.

- Para de marra e vem me dar um abraço. - Ele me encara - Eu estava com saudades pirralha. - Puxa meu corpo para o seu me abraçando.

Demorei para raciocinar mas logo retribui o abraço.

Eu e James éramos bastante próximos quando pequenos, mas aí minha tia morreu e ele veio morar com minha vó aqui em Beuford, e acabamos nos afastando mas toda vez que eu vinha para cá, nossa amizade voltava a mesma.

- Agora é para ficar né? - Ele gargalha e eu reviro os olhos.

- Fazer o que...

Passamos um tempo conversando e James me contando como as coisas mudaram aqui na casa, um tempo depois ele saiu me deixando a só novamente.

Caminho em direção a janela que havia no meu quarto e observo a vista, não vou mentir que era linda, montanhas e árvores afastadas e mais para baixo as vacas da minha vó.

Bom, eu diria um recomeço na minha vida? Ou melhor, a continuação da minha antiga vida...

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