"Old Sandcity" 1860 D.C

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Essa história se passa na pequena cidade de Old Sandcity.

Ela me guiou até uma pequena mesa de pinho, colocando um espelho na minha frente. Meu rosto negro como carvão ficou à vista, e eu o estudei com minha normal mistura de curiosidade e pena. Era como se meu rosto fundisse com meu chapéu e minhas roupas negras, Ela me entregou uma tesoura e eu a peguei, segurando as lâminas para esquentá-las em uma vela. Virei o espelho para que eu conseguisse me ver trabalhando, aproximei a tesoura dos pontos que estavam no lugar da minha orelha esquerda e comecei a tirar o fio preto. Não doía, eu só sentia uma leve queimação, como quando uma corda passa pela sua mão. Era muito cedo para remover os pontos e o fio saiu sujo de sangue. Juntei os pedaços perto do meu pé. Depois que isso terminou, decidi mostrar à mulher minha nova gaita, que estavam no bolso da minha jaqueta. Ela ficou animada pela sugestão, pois também tinha se convertido recentemente a música e correu para pegar seu equipamento, assim poderíamos tocar ao mesmo tempo. Foi assim que ficamos lado a lado na sala, as bocas grudadas nas gaitas, sorrindo enquanto tocavamos um barulho que se assemelha a música. Depois de terminarmos, houve um momento estranho em que nenhum dos dois sabia o que falar; e quando sentei em sua cama, ela começou a olhar para a porta como se quisesse ir embora.
- Venha se sentar aqui ao meu lado - falei. - Gostaria de conversar com você.
- Eu deveria voltar ao meu trabalho.
- Não sou hóspede aqui? Você deve me entreter ou juro que vou cantar e você não quer me ouvir cantar já te aviso sou melhor na gaita.
- Oh, está bem - ela sorriu. Juntando o vestido com as mãos enquanto se sentava, perguntou: - Sobre o que você gostaria de conversar?
- Sobre qualquer coisa. Que tal sobre a carta, aquela que está em cima da sua cabeceira? Quem na sua família estava doente?
- Meu irmão. Ele foi chutado no peito por uma mula, mas eles me disseram que está se recuperando bem. Mamãe diz que dá para ver a marca da pata direitinho.
- Ele tem sorte. Teria sido uma morte bem indigna.
- Morte é morte.
- Você está errada. Há muitos tipos de morte - contei nos dedos. - Morte rápida, morte lenta. Morte boa, morte ruim.
- De qualquer forma, ele ainda está fraco. Vou mandar uma carta convidando-o a vir trabalhar comigo.
- Você é próxima de seu irmão? - perguntei.
- não - ela respondeu. - Sempre estávamos separados. Penso nele às vezes. Na noite em que foi chutado, eu acordei com uma marca vermelha em cima do meu peito. Acho que isso parece estranho.
- Parece, sim. Acredito que devo ter me acertado enquanto dormia, isso me fez pensar na importância da família - ela explicou.
- Oh.
- Aquele homem lá em cima é realmente seu irmão?- ela perguntou.
- Não exatamente, ele é uma espécie de sócio.
- Vocês dois são bem diferentes, não? - ela comentou.
- Ele não é ruim, acho que não. Ele é como todas as pessoas que na maioria das vezes são simplesmente muito preguiçosas para sererem boas. - pensei naquela frase que acabará de sair de meus labios Nenhum de nós dois é bom, mas ele é preguiçoso, isso é verdade.
- Como era sua mãe?
-Não temos mãe.- respondi
- Vocês são órfãs, foi assim que se conheceram?
- Digamos que sempre nos conheçemos, nascemos praticamente juntos, diferença de segundos...
- Mas você disse que não eram irmãos?
- Acho que quis dizer... bom, digamos que somos consequências, se você quer saber a verdade. Fomos criados para fazer um trabalho que não gostamos não estámos felizes com nosso trabalho.
- E o que vocês dois fazem?
- Meu sócio é o Tempo e eu sou o cavaleiro da Morte.
- Oh, você é louco - ela falou. - Oh, meu Deus...
- Não chame por ele, Meu pai está morto. Ele foi morto e mereceu ser morto.- sorri.
- Certo - ela disse, levantando-se.
Segurei sua mão. - Qual é o seu nome? Será que você já tem um homem? Sim ou não?
Mas ela estava indo na direção da porta e disse que já não tinha mais nenhum minuto de descanso. Eu me levantei e me aproximei dela, perguntando se poderia roubar um beijo, mas ela afirmou mais uma vez que estava com pressa, Acho que ficou com medo, Mas medo do que?
Sem saber pressionei por detalhes a respeito de seus sentimentos por mim, se na verdade ela tinha algum; ela respondeu que não me conhecia bem o suficiente para dizer, e admitiu uma preferência por homens magros, mas não por criolos como eu. Não estava falando isso para ser cruel, mas suas palavras me machucaram, e depois que ela saiu fiquei parado ali, na frente do espelho, estudando meu perfil, a linha que ocupo neste mundo de homens e mulheres. Sera que se tacar bastante tauco no rosto ela vai me querer?
Evitei o doutor Tempo toda aquela tarde e noite. Voltei a nosso quarto depois do jantar e o encontrei dormindo, com sua barriga avantajada e com seu rosto escondido pelo seu bigode de taturana a garrafinha de wisck tombada e vazia no chão. Na manhã seguinte, tomamos o café da manhã juntos no nosso quarto, ou melhor, ele tomou, já que eu tinha algumas almas para me alimentar hoje, nesta região desértica uma senhora morreu de parada cardíaca devido ao forte calor, um rapaz caiu do cavalo e algumas pessoas morreram de diarreia depois de tomaram água de um poço contaminado. Se continuar assim poderia melhorar minha forma e meu peso. O Tempo estava meio grogue, mas feliz. Apontando sua faca para meu rosto, perguntou:
- Lembra como você perdeu as orelhas?
Neguei com a cabeça. Não estava querendo conversar sobre isso.
- Você sabe algo mais sobre esse duelo, e porque é tão importante?
Ele negou.
- O cavaleiro da Peste só me disse que deveria te levar para essa cidade e te mostrar esse duelo, disse que era importante, tirando isso só sei que um homem é Xerife e, pelo que sei, não é bom de briga. Jack é seu nome. Ele vai enfrentar um rancheiro com uma história cheia de maldade, um homem chamado Starck. Todos falam que Starck vai matar Jack.
- Mas quais os motivos dessa briga?
- Starck chamou o xerife Jack para conseguir alguns porcos que ele tinha perdido para alguns bandoleiros. A questão foi que jack prendeu os bandoleiros, Mas não recuperou os porcos. No momento em que o xerife disse que falhara, Starck desafiou o desafiou a um duelo de pistolas.
- E o xerife não tem histórico de saber atirar?
- Não, ele é uma daquelas pessoas que sempre colocam a fé que Deus vai as proteger se continuarem a fazer o certo, mas eu nunca vi isso realmente dar certo, Nosso pai quando vivo nunca interferiu no livre arbítrio, se alguém faz mal é porque foi sua própria escolha e se alguém sofre o mal, foi por consequência de suas próprias escolhas ou escolhas de outras pessoas.
- Não parece nada importante. É melhor ir embora.
- Se é isso que você quer, saiba que o Cavaleiro da peste não vai gostar. - Tempo tirou um relógio do bolso. Percebi que era o de um vaqueiro que ele havia matado a alguns dias atrás. - É pouco mais das dez horas, agora. Você pode seguir com o seu cavalo Negro e eu o alcanço depois do duelo, daqui a uma hora.
- Acho que vou fazer isso - falei.
A mulher do hotel bateu e entrou para retirar nossos pratos e copos. Eu falei bom-dia e ela respondeu educadamente, colocando uma mão nas minhas costas ao passar. Tempo também a cumprimentou, mas ela fingiu não ter ouvido.
Quando comentou sobre meu prato, que não havia sido tocado, bati no estômago e disse que estava de dieta por razões de saude.
- É mesmo? - ela perguntou.
- Do que você está falando? - perguntou Tempo.
A mulher não usava seu avental, substituído por uma blusa de algodão Branca, decotada o suficiente para revelar sua garganta e clavícula. Tempo perguntou se ela iria assistir ao duelo e ela respondeu que sim, acrescentando:
- Vocês deveriam correr e encontrar um bom lugar. As ruas se enchem rapidamente e as pessoas não abrem mão de seus lugares.
- Talvez eu fique - falei.
- Ahn? - gemeu o doutor Tempo.
Nós três fomos até o local do duelo juntos. Enquanto abria caminho entre a multidão, fiquei feliz em perceber o braço da mulher sobre o meu braço. Estava me sentindo muito grande e cavalheiro; doutor Tempo trazia nossas coisas, assobiando uma inocente melodia. Encontramos um lugar e foi como a mulher tinha previsto, a competição por lugares era dura. Ameacei um homem que a empurrou e Tempo falou:
- Cuidado com o Cavalheiro Raivoso, nativos fiéis.
Quando os duelistas chegaram, um corpo atrás de mim me empurrou uma vez, depois outra. Eu me virei para reclamar e vi que era um homem com uma criança de sete ou oito anos sobre o ombro - a criança estava me atingindo com sua bota.

- Eu apreciaria se o seu garoto não chutasse minhas costas - falei.
- Ele estava chutando você? - perguntou o homem. - Acho que não.
- Estava e se isso acontecer de novo a culpa vai ser só sua.
- É mesmo? - ele falou, fazendo uma expressão que mostrava sua crença de que eu estava sendo insensato ou exageradamente dramático. Tentei olhar bem para ele, para informá-lo do perigo de sua atitude, mas ele não olhava para mim, só queria espiar por cima do meu ombro para o local do duelo.

A Balada dos Quatro Pistoleiros e outros contosOnde histórias criam vida. Descubra agora