Capítulo Cinquenta e Sete

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Os meses se passaram voando. Se não fosse pela barriga que crescia incessantemente, eles não teriam percebido. A criança não tinha nome. Era uma garotinha, haviam descoberto aos seis meses e meio de gestação. Os gêmeos, apesar de saber quem era o pai da irmãzinha, não a odiava; Oliver os ensinou a não a odiar, já bastava a mãe deles. Ela era inocente e merecia todo o amor do mundo, era assim que ele pensava e era assim que dizia sempre que conversava com os filhos sobre a meia irmã deles. Apesar de ainda não a amar, ou sentir qualquer resquício de carinho em relação ao bebê que a esposa esperava, Oliver não conseguia ao mesmo tempo, repudiá-la, e de vez em quando, ele se perguntava o porquê; Felicity também não o entendia. Mesmo que ela fosse a todas as consultas, em nenhum momento ela perguntava sobre a filha, ou olhava na tela para ver como ela era, ou mesmo sentia a necessidade de colocar a mão na barriga, como fazia sempre quando esteve grávida dos trigêmeos. Oliver, ao contrário dela, olhava na tela em cada uma das consultas, ouvia atentamente as instruções e falas da médica; a bebê era completamente saudável. Mesmo assim, ele não conseguia sentir-se da forma que sentiu com os trigêmeos.

E então, tudo mudou em um passe de mágica, quando em uma noite, enquanto a esposa dormia, e sua mão se encontrava na barriga dela, o bebê se mexeu. Tinha sido a primeira vez. Ela nunca tinha se mexido antes, por cinco meses, ninguém nunca havia sentido o que ele sentiu naquele momento. Passava das oito da noite, a esposa não conseguia dormir por conta dos malditos pesadelos, ele se encontrava angustiado em ver a esposa em tal estado e tentava acalmá-la, apesar de tudo. Ele se surpreendeu, é claro, e naquele momento, não conseguiu conter um sorriso, diferente de Felicity, que ficou com o coração acelerado, a respiração ofegante e o corpo completamente inerte; ela não mexia e Oliver só percebeu o estado dela, quando a olhou nos olhos, pouco depois de sentir o bebê nascer. E foi então que ele entendeu o que a psicóloga havia falado sobre a reação dela mudar, de forma positiva ou não, ao sentir aquela sensação. Oliver conseguiu acalmá-la, mas havia demorado um bocado, porque a bebê não parava de se mexer, e ao mesmo tempo em que ele tentava entender a emoção que sentia pela bebê ter chutado logo quando sua mão estava em cima da barriga da esposa, ele se concentrava em fazer com que ela dormisse finalmente.

Um mês depois, mais uma surpresa – boa para Oliver, mas irrelevante para Felicity –, ele e a esposa descobriram que seria uma menina; mas nem isso despertou a loira, nem isso fez com que ela visse a filha com outros olhos. E isso não foi uma decepção para o marido, que já imaginava; se nem depois de sentir a filha se mexer, a esposa teve um novo sentimento em relação a bebê, não seria com a descoberta do sexo que isso aconteceria. Ela estava a cada dia mais irredutível com sua decisão de não ser a mãe da bebê, e Oliver a compreendia completamente. Ela havia passado pelo pior, um verdadeiro inferno, como ela mesma dizia, e tinha todo o direito de se sentir daquela forma, por esse motivo nunca repreendeu, ou criticou, nem mesmo a julgou. Mesmo que eles estivessem um pouco afastados, ela continuava amando-o, ele podia ver em seus olhos, quando os seus se encontravam com os dela.

Oliver não imaginou que poderia acontecer, não com ele. Não imaginou que em algum momento poderia sentir algo a mais do que só cuidado pela filha de sua esposa, mas sim, ele já estava amando aquele pequeno ser. Foi impossível de não acontecer no momento em que ela começou a se mexer; ela se mexia só quando ele estava perto e ouvia a sua voz, ou quando sua mão se encontrava na barriga de sua mãe, e isso começou de algum modo, mexer com ele tão profundamente que quando ele percebeu, já estava completamente rendido aquela criança. Os sentimentos se tornaram maiores quando, pela primeira vez, ouviu os batimentos cardíacos; até aquele momento Amélia não achou que faria bem a grávida, pela forma que ela ainda se sentia em relação a filha, e quando ela decidiu em os fazer ouvir, Oliver se encheu de emoção. Ele percebeu o corpo da esposa ficar completamente tenso, percebeu a forma como ela fechou os olhos com força e levou ambas as mãos aos ouvidos, mas ele agradeceu a Meredith por aqueles cinco minutos que durou o som dos batimentos cardíacos.

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