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A ponta da caneta tocou o papel diversas vezes sem escrever nenhuma palavra. Estava certo do que faria, muito certo, mas algo parecia o segurar. Choi San. Ele não podia deixar aquilo pra lá, tinha que se despedir. Dos seus pais, mesmo que eles não mereçam.

— Que coisa, Shiber. Eu sempre fui ruim em Redação na escola. – Murmurou, cansado, para a pelúcia que o encarava na escrivaninha. Afundou o rosto entre as mãos, respirando fundo. Já nem conseguia mais chorar, tinha acabado com o seu estoque inteiro de lágrimas mais cedo, pouco antes de se sentar e decidir se despedir.

San sabia, lá no fundo, que não deveria desistir de tudo. Estava ignorando sua psiquiatra há dias, não saía de casa, não atendia a porta, sequer se levantava muito da cama, resultando em dias sem escovar os dentes, comer ou se banhar. Sentia seu corpo fraco, pesado, e sujo. Esse era o mais irônico da situação: o dia tinha começado bem. Ele se levantou cedo, tomou café da manhã, seguiu todo o ritual de higiene que estava deixando de lado. Então, alimentado, higienizado e com roupas limpas, se sentou na beira da cama e chorou. Chorou muito. Chorou tanto que estava com dor de cabeça e tonto, a visão turva. E decidiu se despedir.

A decisão havia sido tomada há cerca de duas horas agora, e desde então, San estava sentado em frente a escrivaninha, firmemente segurando a caneta que batucava no papel, as dezenas de pontos na folha mostrando que não tinha ideia do que fazer agora.

"Oh, mas que droga", pensou.

woosan; 「casa 77 」Onde histórias criam vida. Descubra agora