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[AVISO]
Alerta de gatilho; auto-mutilação.

Choi San passou o dia dormindo.

Ele dormia muito porque odiava ficar acordado por muito tempo. Seus braços se fecharam inconscientemente ao redor de Shiber pouco antes de acordar.

E San se sentia péssimo.

Ele sabia que, então, um daqueles tempos ruins estava vindo, e pensou em ligar de novo para Wooyoung, mas era meio da tarde e o loiro provavelmente estava trabalhando. San não queria atrapalhar, depois de passar a madrugada inteira falando no ouvido do outro.

Por essa razão, ele se obrigou a se soltar de Shiber e se levantar com dificuldade, se arrastando até o banheiro. Deixou a banheira enchendo enquanto tirava suas roupas. O frio não o incomodou porque ele não sentia nada. Nada além de um profundo vazio. Choi San procurou seu kit meio a contragosto. Era emergencial, claro, ele odiava aquilo, mas em dias que ele não sentia absolutamente nada, ele precisava se lembrar de que era humano. E humanos sentem dor.

Entrou na banheira morna.

Os dedos foram até o primeiro reflexo metálico muito conhecido. O segurou com firmeza familiar e apoiou o braço esquerdo na borda da banheira antes de pressionar a ponta da lâmina com um pouco de força na pele cheia de cicatrizes do seu antebraço. San cortou na horizontal, não queria morrer. Só queria sentir alguma coisa. Fez alguns cortes. O bastante para poder ver riscos pontilhados de vermelho aumentando de tamanho e pingando no chão do lado de fora da banheira. Não queria sujar a água com seu sangue sujo. Acendeu um cigarro, outra parte essencial do seu kit de emergências.

Enquanto tragava e soltava a fumaça no banheiro, os braços escorrendo e nessa altura ele já não ligava pra mais nada, San resolveu que não se importava tanto assim que Wooyoung estivesse no trabalho.

O loiro atendeu no segundo toque.

— Jung Wooyoung.

"Choi San."

San sorriu pequeno entre uma tragada e outra, os olhos se fechando. Ficou calado.

"Aconteceu alguma coisa? Você tem sorte que os donos da cafeteria são meus amigos, ou não poderia atendê-lo tão rápido."

— Eu estou sentado na banheira agora. E ao invés de fazer como sempre e colocar uma música, eu estou ligando pra você.

Wooyoung havia descoberto que San só usava a banheira quando queria se cortar. Na verdade, San próprio o disse isso durante a madrugada. Normalmente, segredou na ligação, eu gosto mais da ducha. Silêncio.

"Eu preciso pedir algo ao meu chefe. Um segundo."

A ligação foi encerrada. San soltou a fumaça, fitando a tela do celular. Esperou dois, três, cinco minutos. Os números rodavam pela tela, então oito. Nove minutos. Quando o nove se tornou dez, no entanto, Wooyoung retornou a chamada.

"Onde você mora?"

San achou graça.

— Por que está me perguntando isso?

"Porque estão fazendo doze graus, eu disse que ia te ajudar, acabei de pedir o resto do dia de folga e eu não fiz isso à toa, Choi San. Onde você mora?"

O moreno riu baixinho, apagando cigarro.

— Certo, certo. Eu moro duas ruas acima da cafeteria. É o número 77, a casa branca e azul.

Wooyoung nunca correu tão rápido.

woosan; 「casa 77 」Onde histórias criam vida. Descubra agora