VIII

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Wooyoung acordou uma hora mais cedo do que o habitual e não conseguia voltar a dormir. Suspirou fundo. Finalmente, parou de rolar na cama e oficialmente desistiu do cochilo extra ao se levantar e ir até o banheiro para lavar o rosto. Bem, não precisava ter pressa, então se permitiu andar arrastando os pés.

O tempo extra, no entanto, o deixou livre para se arrumar um pouco mais. Wooyoung sempre havia sido vaidoso, sim, mas suas prioridades haviam mudado com o começo da faculdade e do trabalho. Ele, sempre exausto, preferia dormir pela manhã para poder ter energias pra trabalhar bem pela tarde e estudar a noite. Aos sábados trabalhava o dia inteiro. A única vez na semana que poderia se cuidar era domingo. E ele optava por manter apenas seus cabelos impecáveis.

Dessa vez, deu atenção a sua pele também.

Wooyoung se sentia renovado sempre que podia exercer a sua vaidade. Até hidratou seus cabelos. Aquele estava com cara de ser um ótimo dia.

O loiro não poderia estar mais certo.

Por Deus, Choi San roubou todo o ar dos seus pulmões quando entrou por aquela porta, horas mais tarde. Parecia estar sendo um dia bom pra ele também. A jaqueta de couro era grande e cobria até suas mãos, mas quando acenou para Wooyoung, o loiro pôde notar que as faixas permaneciam lá. Sorriu. Menos mal.

— Sannie. Achei que não viria, falta pouco para fecharmos a loja.

San deu de ombros.

— Não vim comprar nada. Vou esperar o seu turno acabar.

— Oh..! Certo. Tudo bem, então.

O moreno o dirigiu um sorriso antes de ir se sentar numa mesa vazia, como sempre, a mais distante possível da porta. Wooyoung suspirou.

— Pelo visto, a sua cantada brega funcionou bem. – Um risonho Mingi se aproximou, assustando o Jung.

O loiro sentiu as bochechas coradas e se esticou para bater no amigo com um pano qualquer que havia encontrado ao alcance de suas mãos.

— Ei, não foi uma cantada! Eu ofereci ajuda. Ele me ligou. – Resmungou, ainda envergonhado. O Song revirou os olhos e negou com a cabeça.

O dono dos cabelos avermelhados analisou San durante alguns minutos.

— Ele vai te chamar pra sair. – Concluiu, por fim. Wooyoung engasgou com a própria saliva.

— O que? Como você-

— Wooyoung. Falta um mês pra eu me formar em psicologia. Análise comportamental, duh? – Mingi deu um peteleco na testa de Wooyoung, que reclamou baixinho, esfregando a o local com a palma da mão. – Além do que, ele era da minha turma até alguns meses atrás, mas trancou a matrícula. Então eu meio que venho o analisando já faz algum tempo.

— Por que?

— Ah. Não cabe a mim dizer, Woo. Só peço que tome cuidado, porque ele tem um comportamento meio.. Autodestrutivo. Veja, chegou alguém, vá atendê-lo.

Wooyoung assentiu e obedeceu, embora estivesse um tanto mais pensativo agora.

Song Mingi estava certo, o Jung percebeu algum tempo depois.

San tinha o convidado pra sair.

— Eu perguntei ao Shiber se era uma boa ideia. – Deu de ombros o moreno. Shiber?, pensou. Com a confusão explícita na face de Wooyoung, San resolveu explicar: – Shiber é o meu urso de pelúcia.

Urso de pelúcia. Certo.

— Shiber disse que era uma boa ideia..?

Um sorriso brincou pelos lábios finos do Choi.

— Ursos de pelúcia não falam, Woo. Se Shiber falasse, ele teria mandado eu desistir. Você é muito gentil pra sair comigo.

Wooyoung arqueou as sobrancelhas, surpreso, enquanto terminava de trancar as portas do estabelecimento. Guardou as chaves na mochila.

— E os seus amigos?

Dessa vez, San demorou um pouco mais a responder. Apertou os lábios e desviou o olhar, mas logo suspirou e balançou a cabeça.

— Eu não tenho amigos, Wooyoung.

O loiro travou. Engoliu em seco e trocou o peso do corpo de um pé para o outro. Como não tinha amigos? Por um momento, imaginou como seria sua vida sem seus seis amigos que o acompanhavam em qualquer lugar, onde cinco deles conhecia desde a infância. Mingi fora agregado na pequena família depois, quando viraram amigos no trabalho. Como alguém.. Como alguém poderia querer viver sozinho assim? Então, Wooyoung percebeu. Oh. O silêncio ficou um pouco desconfortável para o Jung, mas San apenas riu.

— Você seria um jogador de pôquer horrível. Vem, preciso te contar umas coisas.

woosan; 「casa 77 」Onde histórias criam vida. Descubra agora