Capítulo III.

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Distraio-me um pouco ao notar minha pouca firmeza dos dedos, mas logo decido retornar à minha pintura. O parecer de magníficas cores dos céus silenciam minha mente sem muita sombra.

Tal privilégio jamais será o suficiente. Ainda tenho tanto a contar. E ainda possuo muito o que aprender, incluindo minha paciência.

Não há razão para correr deste lado, por mais que nosso relógio biológico roube-nos tempo. O tempo que não lhe pertence, ou que nós não o merecemos.

É quase impossível não encontrar minha podridão correr pelas minhas veias. Minha pele com pouca melanina ainda é vista, mas não tão forte quanto minhas manchas escurecidas.

Eu nasci com isso, no entanto ela demorou a se apresentar para mim. Eu, e mais milhares de Viventes das 9 extensões de Siena. Acostumamos a tornar benéfico a admiração por nossas terras, de modo que a mesma tenha servido a nós de bom grado e nós mesmos a desolamos.

É onde conto nossa história. Longe de tocar os céus, como pássaros engaiolados.

A história da Devastação.

Nós, Viventes da Grande Siena, vivemos entre barreiras.

Nem sempre foi assim. Nem sempre ela teve esse nome. Antes desse território ser conhecido por Siena, aqui era um Continente. Novíssimo Mundo era seu nome. O último local a ser colonizado.

Mas tudo mudou quando há 100 anos atrás ocorreu uma explosão, a destruição em massa com a morte de inúmeras plantas em cultivo, animais infectados pela moléstia e as águas sendo impossíveis de beber.

O cenário era desolador. O Novíssimo Mundo, antes tão próspero e cheio de vida, havia se tornado um lugar inóspito e perigoso.

A poluição atmosférica era insuportável. As explosões e os incêndios desencadeados pela catástrofe haviam liberado uma quantidade imensa de gases tóxicos na atmosfera, tornando o ar irrespirável.

O céu antes azul e claro era agora uma massa cinzenta e sombria, coberta por uma densa nuvem de poluição.

Uma nova doença. Mácula. 

Esse foi o nome dado pelo efeito que a mesma causa se entrar em contato com o corpo. 

Se inicia como uma infecção no sangue, logo começa a transformar todo o líquido em um veneno podre. Seu nome significa sujeira, mancha, impureza. O que explica seu funcionamento em nosso organismo.

Os estudos realizados desta moléstia foram feitos em segredo. Nunca nos contaram de onde surgiu ou como, apenas que a Devastação poderia ser revertida com o apoio das pessoas que aqui vivem.

Um homem chamado Telles Dominic foi o principal responsável por formar um grupo que conhecemos hoje por Prisma, que convocou a todos a colaborarem para que fôssemos curados.

Entre o desespero e a ânsia por sobrevivência, não tivemos escolha. Os que aceitaram foram usados para experimentos, cujo o objetivo era compreender como a Mácula funcionava em cada corpo.

Após meses sem resposta, este grupo retornou dizendo que estávamos salvos.

Fizeram um comunicado oficial fazendo um discurso para aceitarmos o que eles oferecessem, pois a cura estava criada e apenas tínhamos que ir até o centro de nossa cidade para sermos resgatados e então graciar a vida.

Mas não era definitiva.

Os que aceitaram morreram 1 mês depois, provando que Prisma havia mentido sobre a criação e que os anteriores usados para experimentos também se foram.

Montanhas Distintas - Renascença.Onde histórias criam vida. Descubra agora