Me limito a apenas soltar um olhar indiferente em sua direção, tentando esconder meu desdém, no entanto sera impossível a essa altura.
Acelero mais um pouco o passo. Ainda devo tomar cuidado com as ruas, de modo que cada uma é coberta pelas faixas.
Quando observo a mudança entre um piso e outro, sei que estou longe de casa, mas conheço bem essa grande extensão de Siena para meus minúsculos olhos.
Ainda que o sol não esteja esbanjando seu calor a nós a essa época do ano pela proximidade do inverno, seu amarelo venera nossas ruas e torna o ambiente mais brilhante e vivo.
Por mais que aqui não tenha tanta gente, encontro com os Vigias atentos ao redor. Talvez eles não devam me conhecer, mas devido às nossas informações que um dia Prisma já obteve, devem saber quem nós somos.
Passo por eles tentando ser despercebida, sei que é impossível, no entanto. Ainda que sejam Cadetes, nada muda suas captações de qualquer movimento questionável, no qual involuntariamente eu entrego por meu medo e raiva deles. Evito olhar para trás desta vez, de modo que sinta que estejam seguindo-me com os olhos.
Mais algumas ruas e chego na casa de minha segunda melhor amiga, Verona. A moradia dela é igual a minha. Uma casa revestida por dois quartos, sala e cozinha juntas e um banheiro grande.
Porém, ao contrário de minha vista pela janela que são as montanhas trigêmeas grandiosas, ela tem uma vista marcante para o lago que aos poucos se congela. Não é uma caminhada longa até chegar ao píer. Também ao contrário de minha casa, há uma escadaria de três degraus até chegar a sua porta principal.
O ranger do piso amadeirado não é tão abrupto, ele é calmamente substituído pelo cantarolar dos pássaros cantores da Cidade. Aqui há muito deles. Os passeriformes. Eu não sei quanto tempo eles moram pelas redondezas, mas de acordo com a existência do mundo, estão aqui há muito tempo, mesmo após a Devastação.
Bato na porta por exatas três vezes e aguardo. Este pequeno percurso que ela geralmente faz de seu sofá até atender a porta é o suficiente para que eu olhe para trás e veja a pouca movimentação nas ruas.
— Bom dia, Liz! — Verona grita do lado de dentro. Sua voz é serena, mesmo quando animada. Ao contrário da minha, que é grave, rouca e pouco afeminada às vezes.
— Bom dia, ruivinha. — Gracejo. Abraço-a e demoro alguns segundos para soltá-la. Quando o faço, vejo uma sombra surgindo ao meu lado. Por um instante, pensei que seria alguém que realmente tolero, mas como Verona não me apresentou, deduzo que seja alguém que ela admira, não eu.
Seus cabelos encaracolados e porte indefinido não escondem a expressão esnobe que me encara. A voz dele me causa um nó no estômago.
— Bom dia, Oure. — Ele me cumprimenta, mas nunca se dignou a usar meu nome. Se fosse para um apelido, seria Olhos Cinzentos, mas isso nunca vai acontecer.
— O que você faz aqui? — Pergunto diretamente, sem rodeios. Ele ergue as mãos em rendição, sorrindo nervosamente.
— Calminha, Oure. Vamos com calma. — Isso só me irrita mais. — Estou aqui porque Verona pediu. Tínhamos negócios a resolver. — Ele olha para ela, buscando confirmação, como se precisasse de proteção. Eu também olho para Verona e sei que ele não está mentindo. Ela confia nele.
— Ah, vejo que você já terminou, certo? — Pergunto ironicamente. Verona abre a boca para protestar, mas não espero. Sei que ela está envergonhada pela minha atitude. — Agora você pode ir. — Digo, basicamente o expulsando. Verona puxa meu braço, tentando conter meu ânimo.
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Montanhas Distintas - Renascença.
Fiksi IlmiahNÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 16 ANOS. {Trilogia - Livro 1: Renascença.} Siena - Fim do novíssimo mundo. "E se fosse por uma promessa?"