Capítulo IX.

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Vazio...? Vazio...

Sinto seu eco silencioso tornar-me em suas mãos. Ver-te não é meu desejo, sentir-te é apenas apetrecho de minha loucura.

Deito em seu berço. Entrego-me a tal desvantagem. Durmo em seu colo. É como mergulhar em seu mar alucinógeno, tal qual nadar em sua piscina anca... e flutuar.

Estando de olhos abertos ou não, o escuro me carrega. É silencioso. Parece seguro... antes de notar que não respiro. Sinto-me sufocada. Engasgo. Bolhas formam-se ao ambiente obscuro e flanco. Formam-se ondas. Grandiosas ondas no qual me desesperam, me atacam. Me afogam. E dentre este Vazio e meu desespero, sou trazida de volta a vida, despertando em susto.

Suando, coração abalado, de minha constante experiência de quase morte.

É desta maneira que, após um sonho mortífero, eu desperto, portanto.

Mas acordar não torna tal pesadelo suportável ou apenas que tenha me livrado de sensações ruins. Ainda possuo a lembrança da Seleção de hoje.

E isso, contribuindo ao sonho, me desesperam. Sinto-me sufocada. E em instantes, sou atacada com minha respiração retornando com fúria. Engasgo com meu próprio ar desta vez, e é quando reparo que já chegou o dia de eu ressuscitar mais uma vez.

Deito outra vez. Viro para um lado. Minutos depois. Viro para o outro. Respiro fundo. Por mais que tentasse, não consigo mais me manter inconsciente, afinal minha mente está em alerta.

Em meados do amanhecer, peguei-me pintando de novo. Como em um recém pesadelo cujo você se esquecera sua última memória e apenas se deparasse com seu momento presente.

Foi assim que clamei por misericórdia. Mais uma noite no qual tive o mesmo pesadelo de alguma noite atrás. Em que os vejo feito bonecos. Feito cacos de vidro. Feito monstros. E eu tendo de ser a responsável por mais um ódio entre nós.

Já fazem quatro horas que estou aqui, ignorando o relógio. Sinto Lizzie passar por minhas pernas e prender sua calda em torno de uma delas.

Pego-a no colo ao soltar o pincel. Sua pata está sobre meu ombro agora e ela deita em meu peito. Ela pressente minhas cobranças quando me nego a descansar.

— Sei o que está pensando. — Começo. Mesmo que prosseguisse a olhar para fora. — Eu não devia fazer isso comigo mesma, mas sabe o quanto odeio este dia. — Ela não vai me responder. Ela não pode. No entanto este silêncio revela toda a sua reflexão sobre meus atos e eu também. — Também estou tentando manter minha cabeça ocupada. Já que não posso dormir, não quero ter de pensar. — Revelo.

E eu a abraço com firmeza afim de me aquietar um pouco mais. Amigavelmente ela me apoia, subindo levemente em meu pescoço e deitando sua cabeça sobre ele.

Sinto-me arrependida de não tê-la abraçado enquanto estávamos deitadas.

O fato de eu não querer pensar é revelador ao que me traz disso: lembranças. Da minha saudade. Seus olhos, sua boca, sua voz se materializa em um rosto em minha mente. O rosto de Ed. E me sinto imersa e entregue à aquele nome, cujo o ser encontra-se perdido, navegando apenas em minhas vivas lembranças.

Eu não tinha dúvidas de que íamos ficar juntos.

Era uma certeza que permeava cada pensamento, cada sonho, cada batida do meu coração. A conexão entre nós era tão intensa, tão profunda, que parecia transcender o tempo e o espaço. Eu podia sentir a presença dele ao meu lado, mesmo quando estávamos separados por quilômetros de distância.

Mas ela acabou se perdendo quando eu soube que ele havia se juntado aos Renegados. A notícia foi um choque para mim.

Tentei entender suas motivações, mas tudo o que encontrei foram desculpas vazias e promessas quebradas. Para mim, ele havia se perdido em um caminho obscuro, onde a violência e a destruição reinavam.

Montanhas Distintas - Renascença.Onde histórias criam vida. Descubra agora