Capítulo X.

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A ventania leve, porém gritante transcendem minha caminhada mais eufórica. Meus cabelos, mesmo estando presos, invadem minha boca e olhos com alguns fios. Os pedregulhos em meus pés viajam comigo. 

Por enquanto, as ruas estão parciais. Poucas pessoas se antecipam a comparecer na Catedral, é um ambiente caótico, pouco se diz enquanto estiver lá, apenas cumprimentos e desejos de boa sorte. 

Chego aos portões fechados e os abro parcialmente. Certifico-me se não há mais alguém vindo para não ter de fechá-lo, mas deste lado da Nascente há poucos moradores ainda vivos. De 50 mil Viventes da 9°Divisão, atualmente somos 5 mil.

Não preciso me preocupar com os Vigias aqui, ainda que devesse tomar cuidado, eles não rondam pela área do hospital onde trabalho. É longe da praça e para eles, não há graça alguma em ver pessoas morrendo, a menos que seja de medo deles. 

Os portões do mesmo se abrem automaticamente quando sentem minha presença, no qual não preciso questionar se há energia ou não. 

Chego na recepção e vejo Chiara. A mulher cujo qual está sempre escrevendo algo em um caderno desgastado, o número de mortos que chegam aqui. 

— Oi, Chiara. — Digo, através da máscara. Ela rapidamente ergue os olhos a mim e parece se decepcionar com minha presença. Ajeito os meus óculos em meu rosto e sinto os meus dedos dormentes segurando a flor, mas ignoro. 

— Não mandei ficar em casa? — Ela diz. Não foi uma pergunta, e sim uma afirmação, ela fez parecer que fosse. A mesma coloca uma mecha de seus cabelos pretos cacheados longos atrás da orelha. — Você ainda tem uma semana de folga.

— Não vim para trabalhar, vim ver Sahill. — Digo, puxo o meu ar com certa dificuldade, a caminhada levemente me cansa. 

— Conhece as regras, você não é um membro de sangue da família, não pode entrar sem ter um parentesco. — Relembra-me. 

— Ele é alguém importante para mim, sabe disso. — Tento falar, mas sei que pouco irá funcionar. — Por favor, deixe-me vê-lo. Eu preciso vê-lo. 

— Não posso, existe um protocolo a ser seguido, Lara Liz. Essa regra foi estabelecida para a segurança e o bem-estar dos pacientes, se eu abrir uma exceção para você, todos também irão exigir e eu não quero problemas. — Disse, voltando aos seus afazeres. Chiara é 14 anos mais velha do que eu, e aprendeu de uma das piores formas a respeitar as regras da Antiga Divisão 9. Ela nunca me contou como, só que havia conseguido uma cicatriz que vai de seu pescoço até sua cintura, no qual sua blusa social denuncia que sua pele é deformada. 

— 5 minutos. — Falei sugestiva. Ela fecha os olhos para conter a raiva. — E não lhe atormento mais. 

— Lara Liz, você está me ouvindo? É uma questão de padrões e igualdade aqui, eu não poderei fazer isso por uma situação pessoal sua. — Ela dizia, mantendo a postura e concentração. — Além do mais, o senhor Bellini está lá e ele proibiu qualquer pessoa de entrar. — Meu coração dispara. Ed está aqui. Sei que meus olhos estão brilhando agora. 

— Eu não sou qualquer pessoa. — Digo rapidamente. — Pode falar com ele sobre a minha autorização em entrar. Nem precisamos nos ver. Eu só quero dar o meu apoio à Sahill. — Ela olha-me desconfiada. — Por favor. - Sussurrei, suplicante. Ela vê isso em meus olhos. Então suspira e diz que irá verificar. 

Ela puxa o telefone e digita o meu número - que temporariamente é o de Cora - do cartão de enfermeira. Algumas vezes ela olha em minha direção com a decepção estampada nos olhos. Ela não aguenta a minha teimosia, mas também não pode negar o meu pedido, uma vez que com a autorizacao adequada, não estou indo contra nenhuma regra do hospital. 

Montanhas Distintas - Renascença.Onde histórias criam vida. Descubra agora