Cap. 6

121 13 10
                                    

- Luke P. O. V. -

— Meus amores! — ela me abraça apertado e depois pega Hope do meu colo que para de chorar estranhamente e fico me perguntando como ela conseguiu — que coisa mais linda, filho... — ela a olha encantada.

Eu ainda não consegui dizer uma palavra.

— Surpresa! — Ashton sorri e só então noto a presença dele e de Kaytlin que traziam malas consigo.

Fazia tanto tempo que eu não a via pessoalmente.

Sempre fui muito ligado a minha mãe e morar longe não era algo fácil, mas nos falávamos sempre por mensagens e telefonemas.

Eu tento visitá-la sempre que posso, ela também bem que tenta vir para cá mas é difícil por conta de seu trabalho como fotógrafa e professora, está sempre ocupada.

Entendo por ela não ter vindo ao enterro, até porque tudo aconteceu muito rápido.

Desde que tudo aconteceu eu não falei com ninguém pelo celular, nem sequer sei onde o mesmo está.

Ele só é uma caixa de memórias, cheio de fotos e vídeos de momentos felizes, mensagens e redes sociais. Não tenho o mínimo interesse em ver essas coisas agora.

— Luke... Tá tudo bem, filho? — me olha preocupada.

— Eu não... Eu não sei... — minha mãe e Ashton se entreolharam.

O que eu sentia agora podia se assemelhar a um coquetel de sensações, e por mais que a ver aqui me traga um certo conforto, não consigo expressar isso de maneira alguma.

— Podemos conversar, querido? — ela diz passando as mãos no meu cabelo com carinho.

Eu apenas assinto e volto para o local onde passo a maior parte possível do meu tempo.

Ela me segue e fecha a porta para que eu me sinta mais confortável em me abrir enquanto me sento a beira da cama.

— Luke... Me perdoa por não vir antes filho...

— Tá tudo bem mãe, de verdade, eu sei — o silêncio se instala.

— Minha neta é a coisa mais fofa do mundo — ela quebra a tensão — é ainda mais linda pessoalmente...

— Você já a viu antes? — pergunto confuso.

— Claro, tenho meus contatos — ela pisca para mim — ela se parece muito com você, amor — Liz sorri

— Eu acho que ela se parece mais com a mãe.

— Ah Chloe... Uma moça tão boa... Vai fazer muita falta.

— Já faz — tento disfarçar a lágrima que cai mas minha mãe percebe.

— Sinto muito, filho... — ela passa as mãos pelo meu rosto para enxuga-lo e nesse momento já não aguento mais segurar o choro forte que estava por vir.

— Mãe eu não... Eu não sei mais o que fazer... Ontem fez um mês. Eu tenho mais condições de viver desse jeito — digo em meio a soluços.

— Amor... Você precisa se acalmar — ela me puxa para um abraço e eu me encosto a ela chorando em seu ombro como se voltasse a ser uma criança.

O carinho e a segurança que ela tentava a todo custo me passar acabaram funcionando e eu finalmente consegui me recompor e levantei encarando os olhos cheios de tristeza por me ver nessa situação.

— Eu deveria ter vindo antes — ela diz com certa culpa mas não quero que ela se sinta assim.

— Não mãe, foi melhor assim.

— Olha só pra você... tão magro — revirei os olhos e dei risada, ela sempre diz isso.

Mas acontece que dessa vez ela podia realmente ter razão, minha atual e deplorável aparência é a de alguém que não vê a cara de uma refeição a um bom tempo. Acontece que comer já não tinha mais a mesma graça de antes.

Nada tinha a mesma graça de antes.

— Robert, eu conversei com os meninos sobre tudo o que você está passando e...

— Mãe... você sabe que não gosto quando me chama só de Robert — revirei os olhos e tentei fugir do assunto.

— Luke, você precisa voltar pra sua casa, cuidar da sua filha, organizar sua vida, parar com essas bebidas... Me parte o coração te ver assim, filho.

— Mãe eu não consigo, eu não vou conseguir voltar a entrar lá dentro de novo.

— Você nem ao menos tentou.

— Mas é claro que eu tentei.

— Você não pode morar na casa do Ash pra sempre.

Ela tinha razão. Por mais cômodo que parecesse eu não queria passar o resto da minha vida aqui. Talvez voltar para casa fosse mesmo a melhor coisa a se fazer, mas como?

— Eu preciso de ajuda — falei com toda a sinceridade.

— Eu estou aqui pra isso, e não vou sair do seu lado tão cedo — sorri ao ouvir suas palavras e voltei a abraçá-la. O colo dela era o lugar onde eu queria passar o resto do dia.

***

Essa era só mais uma das muitas noites que eu não conseguia dormir. Me levanto para ir dar uma olhada na minha filha e na minha mãe e vejo que as duas estão bem.

Ao passar pela cozinha na volta, eu tento me controlar o máximo que posso para não ficar por lá mesmo. O armário onde Ashton "escondia" as bebidas parecia mais chamativo do que nunca.

"Só um pouco pra acabar com a ansiedade", penso.

Abro a pequena porta derrubando alguns produtos de limpeza que estavam no caminho fazendo algum barulho e logo alçando uma garrafa do fundo para sair de lá o mais rápido possível.

Me sento no sofá e fico um bom tempo encarando aquele líquido cristalino. Isso que eu estava fazendo era errado de tantas maneiras...

— Você é a pessoa menos silenciosa do mundo — me assunto ao ouvir a voz de Kaytlin e não consigo dizer nada quando ela se senta ao meu lado — vai mesmo fazer isso?

— Bom... Vou.

— Posso te fazer uma pergunta? — assinto — por que bebe?

— Porque é bom, me tira as sensações ruins, me faz dormir bem... Tantos motivos.

— A Chloe tinha uma família, Luke... Ela tinha amigos, e todas essas pessoas a amavam tanto quanto você. Sabe disso, não sabe?

— Eu sei.

— Sem querer ofender mas... Você não é o único que sofre. Não é só você quem passa noites em claro, não é só você quem tem pesadelos, não é só você que sente falta dela, entende?

— Eu entendo...

— Então por que o seu sofrimento vale mais do que o dessas pessoas? Por que só a sua dor importa? — ela era cautelosa ao dizer as palavras que me acertavam como socos — Todos estão sofrendo agora, e quando você toma essas atitudes que destroem a sua vida, você nos afeta também. Quer mesmo tornar tudo isso mais difícil?

— Eu quero mudar mas... Não sei como.

— Acho que nós dois sabemos muito bem por onde começar — olhei para a garrafa que eu segurava nas mãos e entendi do que ela falava.

— É mais difícil do que eu pensava.

— Só se sai do fundo do poço subindo. Ou você consegue, ou morre tentando — se levantou saindo da sala — Eu sei que você é capaz de subir, Luke.

— Kay Kay? — a chamei antes que saísse — leva — estendi a garrafa a ela que sorriu com a minha atitude.

Ghost Of Past | LRHOnde histórias criam vida. Descubra agora