Cap. 7

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- Luke P. O. V. -

Neste exato momento eu me encontrava em pé na calçada da minha casa, mordendo os lábios a procura de um piercing que já não se encontrava mais alí a um bom tempo.

Os punhos cerrados e os pés juntos denunciavam um outro hábito antigo de nervosismo.

— Tudo bem filho? — pergunta a mulher ao meu lado.

— Eu não sei — era difícil dizer enquanto uma onda de memórias adentravam minha mente.

Flashback On

Assim que o carro adentrou a garagem, Chloe desceu correndo antes mesmo que eu pudesse desliga-lo.

— Ei! Não vai entrar sem mim!

— Então anda logo, Luke! — disse em meio a risos.

Assim que me aproximei, ela colocou a chave na fechadura da porta e me olhou nos olhos.

— Amor, antes de entrar eu quero te dizer uma coisa — assenti — eu te amo muito Luke, eu to muito feliz mesmo, aliás, eu quero ser feliz com você nessa casa pra sempre! — sorri ao ver sua expressão de felicidade.

— Se depender de mim, você vai ser a mulher mais feliz desse mundo princesa...

Ela me abraçou apertado e eu senti o perfume inconfundível adentrar todos os meus sentidos. Quase posso senti-lo agora.

Virei a chave e abri a porta.

— Pé direito pra dar sorte? — me disse em meio ao sorriso que não saia de seu rosto por nada.

— Pra dar sorte!

Nós gargalhamos e adentramos a casa com o pé direito ao mesmo tempo.

Flashback Off
    
Olhando para a porta sinto meu coração mais apertado ao assistir no meu cérebro a imagem do dia em que eu a perdi.

As imagens que eu mais queria esquecer, ironicamente eram as únicas que eu nunca esqueceria.

— Luke, você não vem?

— Vou, eu só... Preciso de um tempo — murmurei com a cabeça baixa e os olhos fechados tentando excluir aqueles malditos pensamentos.

— Luke... — ela segurou minha mão mas eu logo afastei.

— Eu achei que ia conseguir, mas não dá mãe, desculpa.

Me virei dando as costas a ela, pronto para entrar no carro e ir para qualquer lugar que não fosse onde eu estava nesse exato momento, sem nem me importar que elas ficariam para trás, mas antes que eu tomasse essa atitude completamente covarde e estúpida minha mãe entrou na minha frente me impedindo.

— Mãe, por favor, me deixa passar.

— Não — disse calma e firme — você vai dar meia volta e vai entrar por aquela porta. Você não pode se afundar nisso pra sempre Luke... — segurou minha mão — sua vida não é mais só sobre você, sua ações agora não refletem só em você. Olha só a filhinha linda que você tem meu amor! Você também tem que pensar nela — eu ouvia com atenção — não pode se deixar corroer pra sempre, filho.

É impressionante o quão forte essa mulher é, ela moveu céus e terra para me ajudar em todos os momentos em que precisava dela. Desta vez não era diferente. Liz me criou para ser o homem que sou hoje.

Bom, o homem que eu era antes de perder a Chloe.

Sei o quanto isso a chateia, preciso fazer algo para não decepciona-la mais.

Hope. Ela é tudo o que eu tenho, minha princesinha. Eu estava falhando com ela também, muito, aliás. Não estava dando a ela toda a atenção que precisava.

Eu estava deixando minha esperança de lado, em todos os sentidos possíveis.

— Vou entrar — respirei fundo segurando qualquer lágrima que ameaçava escorrer, arrancando uma expressão orgulhosa da minha mãe.

Antes que que mais alguma coisa pudesse estragar minha coragem repentina, peguei dos bolsos da jaqueta nossa chave que ainda tinha um chaveiro do Big Bang escolhido por Chloe na nossa viajem a Londres, e sem mais delongas abri então a tão temida porta.
    
"Pé direito pra dar sorte", penso no meu subconsciente lembrando da voz única.

O cheiro de mofo aqui dentro é gritante, tudo ainda meio bagunçado, louças sujas pela pia, até os cacos da caneca branca ainda permaneciam intocados no chão.

Continuo andando pela casa observando todos os centímetro dela. Cada móvel, cada quadro na parede, cada mínimo detalhe... Tudo foi planejado por nós dois, juntos, com todo o carinho e atenção.

É impressionante como todos os itens da decoração carregam uma lembrança dela. Do chão ao teto, tudo. Eu poderia facilmente listar cada uma delas, mas eu passaria horas fazendo isso.

Era impossível não me emocionar, mas eu tentava parecer firme, precisava ser firme, de uma vez por todas.

***

Assim que consegui fazer com que Hope dormisse, eu finalmente pude voltar a ajudar a minha mãe com a limpeza da casa.

Agora era a vez do closet.

Arrastei para perto de mim a caixa onde eu colocaria as roupas de Chloe que receberiam um novo fim. Provavelmente essa era a tarefa mais difícil de todas, mas eu queria que fosse feita por mim, eu sentia que tinha de ser feita por mim.

Era como se eu pudesse vê-la vestida com cada peça. Cada cabide ali, carregava uma história, mas eu procurava não me aprofundar, apenas fechar os olhos para elas e apagá-las no fundo da caixa.

Depois de muito esforço, eu consegui, mas ao me abaixar para levantar a caixa do chão, uma única peça jogada no fundo do armário me fez parar.

A blusa do Led Zeppelin.

Eu poderia me livrar de cada item de Chloe, mas essa blusa seria a que me traria a maior culpa.

Larguei o que tinha em mãos imediatamente e peguei a peça amassada com cuidado. Já era uma blusa muito antiga, desbotada, a estampa já estava se desgastando e se analisada com cuidado, era possível ver alguns furos no tecido, Chloe é quem a usava e jamais cogitou jogá-la fora por isso.

Aquele pedaço de pano acizentado não cheirava a mofo ou a roupa guardada, pelo contrário, o perfume de Chloe era eminente e me trazia milhares de sensações.

Mas a saudade, era a mais evidente de todas elas.

Apenas me sentei no chão do closet e deixei que caíssem as tão insistentes lágrimas acumuladas o dia todo.

Cada momento nostálgico arranca um pedaço diferem do que restou de mim. Todos dizem que compreendem a minha dor, mas eu não tenho tanta certeza assim.

Esse era um dos momentos eu que eu desejava estar a sete palmos embaixo da terra no lugar dela. Se eu tivesse o poder, de fato estaria.

Ghost Of Past | LRHOnde histórias criam vida. Descubra agora