2. Noiva Por Acaso

674 49 12
                                    


Ariela está uma montanha russa e sequer sabe de onde começar a dizer que está tudo errado.

A maquiadora reclama seu rosto, a manicure e a pedicure atacam suas mãos e pés, e Rupert Sanderson ocupa todo o seu campo visual inclinado bem em frente ao seu rosto enquanto faz uma pilha de perguntas e ela sequer consegue pensar direito deitada sobre aquela cadeira.
Se sente uma pessoa que foi ao ginecologista, ao dermatologista e a um manicómio ao mesmo tempo.

- Pode ser uma só pessoa a tocar em mim a cada vez, por favor? Sinto-me numa orgia de um videoclip da Lady Gaga com tantas mãos no meu corpo. - ela reclama, mas ninguém se importa. Há pouco tempo para deixar a noiva pronta, então dois manicures e dois pedicures trabalham, cada um com seu pé e sua mão, uma maquiadora cuida do rosto e o cabeleiro vai fazendo o que pode, já que tem que disputar espaço com Rupert Sanderson, o advogado, para que possa redigir um adequado contrato para ela.

- Os seus pais estão mortos? - Rupert pergunta e Ariela franze o sobrolho, estragando a linha que se traçava nos contornos dos seus olhos e irrita a maquiadora.

- Santo Jesus, usa a boca, Ariela, não arruine o meu trabalho. - ela reclama.

- Me perdoa. É claro que os meus pais estão vivos, é o que devia perguntar, senhor Sanderson. Meu pai está bem sentado na minha casa e a minha mãe... ela...

- Abandonou a família? Não se preocupe, pode acontecer com qualquer um. - Rupert diz, já superou isso há bastante tempo - Sem filhos, nem histórico criminal, confirma?

- Olha, - Ariela se ergue da cadeira e pára o trabalho de todo o mundo para olhar para Rupert que registava os dados no seu tablet - eu não sei porquê vocês todos estão a perder o vosso tempo comigo, eu não me vou casar com ninguém. Isto é loucura.

- Ariela, diva, você está para realizar o sonho de um mundo de miúdas por aí. Casar-se com ninguém mais que Colin Vaughn? Assim sem pedir? Eu daria os dois rins e minhas bolas por isso. - diz o cabeleireiro, morrendo de amores - Agora deita aí, Cindirela, volta a posição de parturiente para nós te deixarmos divina para viver esse sonho.

Ariela não cede.

- Aí está o problema, pessoal. Eu não pedi por isto. Se é um sonho, é um sonho que me está a ser dado, mas não me pertence.

- Posso ter um momento com a senhorita Smoak, por favor?

Todos se viram para ver Colin parado na porta, de terno preto perfeitamente alinhado e um lenço de água marinha média a sair do bolso do casaco.

Todos saem do compartimento e deixam-lhes a sós. Colin fecha a porta e Ariela senta-se devidamente na cadeira virada para Colin. Sente-se possuída pelo olhar fixo dele quando caminha em sua direção a passos medidos como se fosse para dá-la tempo suficiente de aprecia-lo, de ver o que antes via e reconhecia que era do mais belo, clássico e desejado que existia, mas agora era para ela perceber que podia ser seu, se desejasse.

- Está muito bonita, mesmo com o trabalho ainda pela metade, Ariela. Posso chama-la, Ariela?

Ariela desvia o olhar por um segundo. Está tudo errado, é só o que pensa. Ele é seu chefe, sua relação sempre foi profissional e nada mais. Só o pensamento de estar naquele lugar, a só com ele, já era estranho o suficiente.

- Senhor, Vaughn...

- Eu fui abandonado no altar, senhorita Smoak. A minha noiva, Monique Vaux-Durant, embarcou nesta manhã de volta a Paris, vestida de branco e champanhe na mão.

Ariela sente no tom dele um peso diferente, não é a voz confiante e impositiva que ouve no escritório, cuja palavra é sempre uma ordem.

- Eu sinto muito, senhor Vaughn.

Um sonho Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora