7. Uma Dama condenada

349 31 6
                                    

A mulher era estranha, entrou no taxi com a criança no colo e só falou o endereço que o taxista identificou como de um orfanato e sequer tirou o capuz enorme da capa de chuva da cabeça. Ela manteve a cabeça baixa o tempo todo como se escondesse seu rosto e dela o taxista só conseguiu ver alguns fios do cabelo loiro pelo espelho.

Podia dizer que era uma mulher rica pelo anel de ouro grosso e uma enorme esmeralda cravada nele e suas roupas. Coisas finas e caras vêem-se de primeira. Ela entregou-lhe uma nota quando parou em frente ao local de destino e desceu sem esperar pelo troco.

A mulher protegeu a criança com sua capa de chuva e se apressou para o alto e velho edifício de arquitectura folclórica, tocou a campainha e do interfone ouviu a voz da administradora do orfanato.

- Quem é? - perguntava.

- Zelda, sou eu. - ela respondeu e não tardou ouvir o tique da porta destrancada e a mulher forte e alta esperava por si. Ela correu para o interior, a sala estava escura e fria, o pequeno candeeiro na mão de sua anfitriã não iluminava mais que onde estavam.

- Não te conheço como alguém com medo do escuro, Assuh, então sinta-se em casa. - Zelda diz e segue da sala para o longo corredor das camaratas e podiam ouvir o barulho das crianças a brincar dentro delas - Cortou a corrente, sabes como é por aqui. É tudo tão velho que qualquer temporalzinho nos deixa às cegas.

A cozinha estava melhor iluminada e mais quente. Três candeeiros maiores iluminavam o lugar e a lareira aquecia o ambiente. Assuh deixou sua filha sentada numa das várias cadeiras da enorme mesa do refeitório enquanto sua anfitriã fervia chá e pendurou a capa de chuva no mancebo ao lado da porta.

Ela aproveitou para dar uma última vista de olhos naquele lugar e procurou não se incomodar com as paredes com a tinta a descamar devido a infiltração, nos prováveis parasitas que inundavam o lugar, nem em todos os outros pontos negativos da vida num orfanato para não voltar atrás com sua decisão.

Ela tossiu uma vez, seu peito doeu demais , mas procurou esconder seu estado e virou-se para a sua filha, sua pequena Mirella. A menina olhava para ela com a expressão abalada como se já soubesse o que ia acontecer.

- Ela é sempre tranquila assim? - Zelda perguntou a colocar o bule de água quente e uma bandeja com as chávenas, chá, açúcar e alguns biscoitos.

- Nem um pouco. Penso que ela consegue sentir maus agouros, percebe que maus ventos estão a chegar. - Assuh responde a mexer o chá para deixa-lo mais escuro.

Zelda percebeu que ela não colocava açúcar.

- Não temos adoçante e o mel acaba tratando os ferimentos das crianças.

- Tudo bem, não se preocupe comigo, Zelda. Já vai um tempo que vivo sem mordomias, me acostumei a não ter tudo na vida. - ela diz e ia tomar o chá, mas Zelda segura seu braço e a pára. Ela sente que algo está errado e no seu reflexo dentro da chávena de chá vê, um fio de sangue que sai de sua narina direita.

Ela recebe o lenço de papel de Zelda e se levanta para ir a casa de banho.

- Am! - a pequena a chama quando a vê sair.

- Am já volta, meu amor. Você conhece a mama Z, lembra? Brinca com ela. - Assuh responde.

- Eu só estive no parto dela, Assuh, e depois você sumiu com ela. É claro que a pobrezinha não se lembra. - Zelda diz.

Um sonho Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora