Wishing On a Star

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"Mesmo que Pandora te aguarde, há esperança
Então, meu amor, não se assuste"

TAEHYUNG

— Vamos sair daqui, Taehyung-ah. Você é competitivo demais para sua saúde. — Jiminie falou brincando, estávamos no fliperama como de costume.
Alunos de todas as escolas da região matavam aula ali. As máquinas eram antigas, o lugar tinha uma péssima aparência e servia uma comida pior ainda, mas era um dos meus lugares favoritos na cidade.
— Só mais uma... — respondi sobre o ombro me preparando para a próxima partida.
— Eu não quero que você agrida um aluno do ensino fundamental.
Eu ri alto e o garoto rechonchudo de 12 anos com quem eu disputava a partida me olhou desconfiado.
Depois de 3 partidas e 2 vitórias minhas, Jiminie finalmente me convenceu. Saímos do fliperama para enfrentar o frio rigoroso daquele inverno. Caminhávamos lado a lado em silêncio na antiga estrada de ferro desativada, uma fina camada de neve acumulava sobre os trilhos.
Apesar das obrigações do dia-a-dia, horários diferentes de trabalho e os treinos de dança, Jimin e eu passávamos boa parte de nosso tempo livre juntos. Não precisávamos ter longas conversas, nem contar todos os nossos segredos, bastava que estivéssemos na companhia um do outro.
— Vamos até o Namjoon hyung? - ele perguntou depois de alguns minutos em silêncio.
— Acho que ele está em turno no posto essa hora.
— Nunca sei quais são os horários do hyung... - Jimin chutava as pequenas pedras da velha estrada de ferro.
— Podemos ver se ele está em casa e chamá-lo pra ir ao Dionysus mais tarde — sugeri, ele assentiu
Jimin ao meu lado com a velha jaqueta surrada que já foi de Yoongi hyung, o fim de tarde nos trilhos desativados, nós dois a caminho do trailer de hyung só para passar o tempo. Aquele era um cenário tão familiar, que de repente fui tomado pela estranho sentimento de nostalgia por algo que ainda está acontecendo. Como se a qualquer momento aqueles dias tranquilos em que nada de especial acontecia, pudessem escapar pelo meus dedos.
Ao meu lado Jimin cantarolava uma antiga canção de trote, dançando de um jeito engraçado para me fazer rir. Puxei seu capuz até o meio do nariz e saí correndo.
— EI GAROTO — ele gritou com o sotaque forte de Busan, correndo atrás de mim.
— Jimin-ah... — parei subitamente de correr e Jimin se chocou violentamente contra mim, ofegante — Olha ali...
— Onde?
— É a garota que te falei — apontei para a menina que escalava desajeitadamente um muro com uma mochila pichada com um enorme símbolo da anarquia nas costas.
— Fala com ela, Taehyung-ah! — ele se animou — Posso chamá-la? Qual era mesmo o nome dela?
— Eu não sei, ela nunca me disse...
— Como você sai com alguém que não sabe o nome, Taehyung?
— Eu não SAIA com ela — falei na defensiva — Ela só me seguia às vezes e sumiu sem se despedir, só pichou uma mensagem
— O que dizia a mensagem?
— "Não é sua culpa".
— Ela parece tão esquisita quanto você, Taehyung, formam um bom casal...
— Cala a boca, Jimin — assistimos a menina desaparecer de nossas vistas.
— Da próxima vez, pergunte o nome dela — ele disse antes de retomarmos nosso caminho.
Encontramos Namjoon hyung entre seus desenhos e rabiscos, parecia mal-humorado, então os convencemos a beber no Dionysus, bar onde Yoongi hyung trabalhava e ele concordou a contra gosto. Jimin sabia ser insistente.
Passamos na casa de Jungkook para resgatá-lo, em seguida aparecemos no restaurante onde Hoseok hyung trabalhava para esperar seu turno terminar. Seokjin hyung nos encontraria no bar, sua vida de jovem executivo era corrida demais e ele sairia tarde do trabalho.
Hoseok hyung nos recebeu com um enorme sorriso.
— A que devo a honra?
— Viemos te buscar para ir ao bar, hyung. - Jungkook disse.
— Jungkookie pode fazer convites para bares agora que ele é maior de idade — Namjoon hyung falou, bagunçando os cabelos do menor.
— Como se ele não frequentasse bares com Yoongi hyung desde os 16... — apontei e hyung riu.
— Hyung, conheço essa expressão, você não pode negar! Até o Jin hyung está vindo pra cá... —Jiminie falou.
— Não sei, gente. Eu preciso treinar.
— Hyung, você é o melhor, não precisa treinar mais. Precisa ajudar a deixar o Namjoon hyung bêbado até ele cantar — Existem diversos tipos de bêbados, Namjoon era um bêbado cantor.
— Eu já falei que não vou beber hoje... — Namjoon hyung comentou.
— Tá vendo, ele não precisa da minha ajuda.
Entre protestos e argumentos nada convincentes, Hoseok hyung concordou em nos acompanhar.
Mais tarde estávamos todos reunidos na mesa de sempre do Dionysus, Yoongi hyung se juntou a nós após o fim do turno, Sora noona passou a nos servir.
Soju, cerveja e tequila; Meus melhores amigos falando alto uns por cima dos outros; White Stripes nos autofalantes do bar; Risadas e apostas sem sentido. Antes das 3h da manhã diversas pessoas se reuniram a nossa volta para assistir Jungkook e Yoongi hyung apostando copos de cerveja nos dardos.
Sora nos advertia severamente sobre não deixar Jungkook alcoolizado demais, mas garantimos que o levaríamos para casa.
Era uma daquelas noites infinitas que passam rápido demais.
Como sempre, fomos os últimos a deixar o Dionysus quando já passava das 5 da manhã. A manhã congelante de inverno ainda estava escura. As ruas estavam vazias, bares e boates fechavam as portas e os cidadãos de bem ainda dormiam. Subimos a rua cantando Travel To Me do Buzz.
Jin hyung com a camisa social semi-aberta por fora da calça e o terno jogado por cima dos ombros, cantava mais alto do que qualquer um de nós. Jungkook jurava por todos os deuses não estar bêbado, mas tropeçou tantas vezes no meio do caminho, que fui obrigado a apoiá-lo.
Quantas vezes não fizemos aquele mesmo trajeto em outras madrugadas? Por vezes alguns de nós, em outras todos juntos. Algumas vezes felizes, outras nem tanto. A madrugada desta cidade era a maior testemunha das nossas melhores histórias.
O plano era deixar Jungkook em sua casa, mas ele preferiu ir para a minha, dizendo que sua mãe não se importaria. Então cada um de nós seguiu o seu caminho.
Chequei o celular dentro do ônibus a caminho de casa.
Noona:
"Taehyung, cadê você?"
Eu tinha avisado que passaria a madrugada fora, por isso estranhei a mensagem. Teria noona esquecido que eu sairia hoje a noite?
Jungkook cochilava esparramado no banco ao meu lado. A tranquilidade de sua expressão não conseguiu aliviar o sentimento crescente de que algo estava errado. Descemos do ônibus no último ponto, minha casa ficava há algumas ruas de distância em um bairro isolado, Jungkook me seguia semi-acordado. Abri a porta de casa com cautela, meu coração acelerado aparentemente sem motivo, quando acendi as luzes me deparei com a casa completamente revirada.
Garrafas de vidro quebradas no chão, conteúdos das gavetas da sala espalhados pelo chão.
— NOONA! NOONA! — chamei desesperado enquanto abria a porta de cada um dos cômodos de casa.
— Hyung... O que aconteceu aqui? — A expressão nos olhos de Jungkook eram de choque, eu não podia imaginar qual seria a minha própria expressão agora.
Eu queria acreditar que algum ladrão comum tinha invadido minha casa, levado pertences sem importância que ele poderia vender e juntar algum dinheiro. Mas eu sabia o que tinha acontecido ali. Sabia sobretudo, quem tinha estado ali.
Dentro de meu coração temeroso, eu sempre soube que era questão de tempo até que ele nos descobrisse. A falsa sensação de paz que vivemos nos últimos meses era reconfortante, mas passageira.
Eu só queria encontrar minha irmã.
Só isso.
— TAEYEON! — chamei por fim e a porta do banheiro se abriu.
Minha irmã me recebeu com os olhos assustados e a face direita marcada por um enorme hematoma, seus braços tremiam.
— Que bom que é você — ela falou tentando afirmar o tom de voz.
Eu a abracei, as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
— Estou bem, Taehyung. Juro. Eu estava tentando arrumar essa bagunça, só me escondi no banheiro quando te ouvi se aproximar, porque temi que ele pudesse voltar, agora que sabe o caminho.
— Noona... — Meu coração estava dilacerado, eu a vi ser agredida tantas vezes durante a infância, eu prometi a mim mesmo que agora que eu era um homem feito isso nunca mais aconteceria, eu a protegeria como ela fez comigo a vida inteira. Mas eu não estava aqui e agora ela estava machucada e assustada outra vez.
Meus braços tremiam de raiva, eu não podia acreditar que estava passando por aquilo de novo.
— Ele queria dinheiro, levou o que podia e não vai voltar a nos atormentar por um tempo — ela falava tentando recobrar a racionalidade se esforçando para acreditar nas próprias palavras.
— Ele vai — falei sem reconhecer meu próprio tom de voz — Mas dessa vez não vai ser você quem ele vai encontrar.
Recolhi a bagunça da sala para me acalmar, Jungkook se juntou a mim em silêncio. Taeyeon discutia com a polícia no telefone. Eles não fariam nada, nunca fizeram.
Em alguns minutos eu já podia pensar com clareza, mas dentro de mim eu sabia que a calma do dia anterior não voltaria. Enquanto caminhava com o lixo para fora de casa, o dia amanhecia em cores vivas e bonitas, era uma manhã de inverno comum, mas de repente a vida não era mais a mesma.

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