Raça, amor e paixão

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Nosso adversário é o River Plate. Atual campeão. Argentinos. Chamaram alguns torcedores nossos de macacos e toda aquela coisa escrota de racismo. É um grande time, jogam juntos há muito tempo... será um jogo duro.

O juiz apita. Naquele momento, parece que tudo congela e um filme sobre tudo que ouvi passa na minha cabeça

23 de Novembro de 81, ganhamos a América pela primeira vez. Não chegávamos à semi-final há 34 anos. Em termos de final, aquela foi a última.

Um time grande. Gigante. Uma seleção.

O Flamengo é uma das coisas mais importantes da minha vida.

Hoje, 23 de Novembro de 19, podemos ganhar a América para, quem sabe, conquistar o Mundo de novo.

Pessoas que venderam tudo. Ficaram sem comida, dinheiro... mas estão aqui

Deus, por favor, dá alegria ao meu povo.

Nessa Libertadores, ficamos perto da eliminação várias vezes. Até que ele chegou... Mister. Um técnico português. Quase conquistando a América novamente. Pode ser o primeiro título internacional dele. Hoje, ele está de colete. Normalmente, usa um terno.

Volto minha atenção ao jogo.

Bola que poderia ser perigosa para o River. Rafinha tira. Como é bom ter um lateral bom...

Eu e a torcida não paramos de cantar "vai pra cima deles, Mengo"

No time adversário, percebo um zagueiro que dará trabalho: Pinola. Sempre marcando o Gabi e me parece ser excelente. No entanto, qualquer zagueiro pode falhar, mesmo os excelentes...

Flamengo se impõe.

Trombada entre Armani, goleiro deles, e Bruno Henrique. Nada demais, logo levantam. Situação de jogo.

Por favor, joguem como torcemos

Rodrigo Caio com sangramento nasal. Lance normal com o Borré, mas já está sendo atendido.

Bruno Henrique bate de longe e vai para fora.

River começa a trocar passes. Cruzamento. Falha nossa, Arão e Gerson. Surge o espaço. Chute. Gol. Borré.

Respiro fundo. A calma é essencial.

- Bruninha, qual o tempo? - pergunto para a Bruna

- 15 minutos do primeiro tempo - ela fala

- Ainda tem tempo. Vai dar.

Tem que dar

Falta no Gabi. Não marcam. Ah, caralho!!!

Eles se aproximam de novo. Marí tira.

O jogo muda após o gol. Eles marcam, fazem falta, enrolam... argentinos filhos da puta!

Começamos a jogar juntos. Cantamos. Gritamos. É hoje que eu fico sem voz.

Reparo no Gabi. Parece que ele não está jogando tão bem hoje. Gabi, por favor, hoje não...

Em um contra-ataque, River ataca. Graças a Deus, ele chuta para fora.

Cadê o caralho desse empate?

Termina o primeiro tempo.

Nisso, um argentino vem mexer com a gente.

- Los monos de Flamengo vieran hasta Lima para perder la copa - ele diz (Tradução: os macacos do Flamengo vieram até Lima para perder a taça)

  - Va a la mierda, hijo de puta - falo - hay que aprender a respetar (Tradução: vá à merda, filho da puta. Você precisa a aprender a respeitar)

- El tal de Gabigol no juega nada. Pero el fútbol de Brasil es tan malo que allá él es uno de los mejores - ele continua (Tradução: o tal de Gabigol não joga nada. Mas o futebol do Brasil é tão ruim que lá ele é um dos melhores)

- Vamos a ver que pasa - respondo. Esse curso de espanhol tem que servir para algo - hoy sólo no voy a pelear porque nos sacarían del estadio, y yo necesito ver tu cara de culo cuando Flamengo sea campeón (tradução: vamos ver o que vai acontecer. Hoje só não vou brigar porque nos tirariam do estádio, e eu preciso ver a sua cara de merda quando o Flamengo for campeão)

Paro de responder o cara e compro uma água. São os minutos mais longos que já vivi.

No segundo tempo, o time volta de outra forma. Além disso, o Mister troca o coletinho pelo terno.

Bem no início, o Gabi chuta ao gol. O goleiro defende.

É isso mesmo, artilheiro... você vai conseguir. Vai deixar o seu.

Aos 10 minutos do 2º tempo, eu me desespero. É claro que eu acredito no meu elenco, mas ainda estamos perdendo.

Então, as lágrimas saem. Continuo torcendo, cantando e chorando. Seria até engraçado, se não fosse o retrato de um desespero.

- Vem cá, amiga - a Marília, esposa do Everton Ribeiro, me abraça

Abraçadas, continuamos vendo o jogo.

  Toda vez que o River chuta para o gol, eu choro mais. Quando é o Flamengo, eu grito, apoio...

- Mierda! - ouço a Veronica, esposa do Pablo Marí, falando

O Pablo, nosso grande zagueiro, tinha levado um cartão amarelo

- Tranquila. Vamos a lograrlo - falo (tradução: Calma. Vamos conseguir)

Ela se junta no meu abraço com a Marília e ficamos as três nervosas e torcendo

  Arão toca pro Gerson. Gerson toca pro Miteiro. Miteiro faz a bola chegar no Gabi e ele passa pro Bruno Henrique. Já dentro da área, o Bruno devolve pro Gabi, mas, na hora do chute, a bola para na barreira. No rebote, o Miteiro chuta. O goleiro pega.

Caralhooooo, esse gol não vai sair hoje? São Judas Tadeu, por favor, precisa ser hoje...

We have each other - Gabriel Barbosa (Gabigol)Onde histórias criam vida. Descubra agora