Sentir

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Suas mãos suavam e tremiam sobre o braço de seu trono, seu coração não havia se acalmado desde a noite passada, quando aquilo aconteceu... Por alguns momentos pensou que tivesse sido mera imaginação causada pelo vinho, ou talvez um sonho louco mas, o gosto... Aquele gosto doce, ainda o sentia em sua boca, o toque daquelas mãos pequenas em seu rosto, a sensação de calmaria que sentiu por aquele breve momento, o suave tocar de seus lábios nos seus... Nenhum vinho, mesmo sendo o mais valioso e saboroso, seria capaz de lhe proporcionar tais sensações, lhe proporcionar a tão falada e desejada paz.

Olhou para a frente e viu Itachi e seus conselhos. Os mesmos conversavam sobre algo, talvez sobre a batalha que teriam com o rei Haruno e seus quatro exércitos, mas nem sequer ouvia o que diziam e pouco se importava, pois agora, aqueles olhos verdes não saia de seus pensamentos, muito mais do que das outras vezes.

—... O espiã retornou - disse Itachi — Ele relatou que viu um exército acampado a dois dias de viagem... Eles carregam o símbolo da família Haruno

— Ravenna fica a quatro dias daqui - disse Jiraya

— Então eles estão avançando - Kakashi olhou para o Uchiha mais velho, que agora ocupava o cargo de general do exército bárbaro

— Devemos avançar também - Jiraya se aproximou do Uchiha — Pegá-los em campo aberto é bem melhor do que deixar que se aproximem para morrer nesta terra... Assim sujaram nosso solo

— Concordo , mas parece que eles esperam um movimento nosso - respondeu Itachi

— Talvez eles acham que devolveremos a princesa deles - Kakashi tinha uma expressão séria no rosto — Se bem que o corpo do mensageiro tenha sido uma boa mensagem de nossa resposta

— De fato - Itachi virou-se para seu rei — Devemos mandar o exército, meu rei? Ou devemos continuar observando?

Ele estranhou a demora de seu rei o responder, percebendo que o mesmo parecia distante.

— Meu rei? - Itachi o chamou, vendo ele lhe olhar — Quais são as ordens?

Sasuke não sabia bem do que o general de seu exército falava e, não se importou com isso, nem mesmo o assunto que tratavam, sua cabeça estava cheia demais para aquilo agora.

— Falaremos disso depois - Sasuke o respondeu e se levantou de seu trono, andando até a porta ao lado

— O que? Meu rei, onde o senhor vai? - Kakashi perguntou, sendo totalmente ignorado por ele que abrindo a porta, saiu dali.

(...)


— Como pode fazer uma coisa dessas? - Mikoto perguntou a ela

Tinha voltado para o aposento e permaneceu ali desde então, vendo o dia amanhecer pela janela, e agora, a rainha estava diante de ti e já sabendo do que tinha feito na noite anterior, com certeza Ino havia lhe contado e, não a culpa, sabia que mais cedo ou mais tarde a rainha tomaria conhecimento , assim como sabia que era uma questão de tempo para todos saberem e, de uma tal forma que até mesmo o rei Kizashi saberia... Estava certa disso, sabe muito bem como os "boatos" eram, corriam quase mais rápido de o vento.

— E você Ino - Mikoto olhou para sua serva, a vendo abaixar sua cabeça — Não devia ter a levado lá, sabe o risco que a colocou?

— Por favor majestade, não a repreenda - Sakura se aproximou da rainha — Eu implorei que me levasse até ele

— E por que?

— Eu queria fazer alguma coisa por Ravenna - respondeu com tristeza — Não pude ficar parada sabendo que uma cidade inteira, um povo fiel, será morto sem qualquer tipo de piedade... Eu tinha que tentar

— Eu sinto muito Sakura, sei que é seu povo e, acredite, eu conheço essa sensação mas... Foi muito arriscado - disse a rainha com a voz mais branda — Você poderia ter morrido e, pelo visto não conseguiu nada, o exército ainda está aposto

— Eu realmente não consegui, e me sinto péssima por isso - ela abaixou seu olhar — Será que a única forma de eu obter algo que salve aquele povo e me deitando com o rei?

— Não se venda dessa forma

— Ele sugeriu isso ontem... Disse que só havia uma coisa que podia oferecer

—... Como ele ficou assim? - a rainha se perguntou, decepcionada por saber, e ver, o quanto seu filho havia, de fato, mudado

— Espero que os deuses me perdoem pelo beijo - disse ela, chamando a atenção das duas ali

— Que beijo? - Mikoto perguntou

—... Eu... Eu o beijei ontem - Sakura a respondeu — Pensei que assim eu poderia fazer...

— Você o beijou?! - os olhos da rainha estavam arregalados

— Na boca? - Ino estava igualmente surpresa

— Sim - ela respondeu estranhando — Qual o problema?

— Bem que reparei que meu filho estava diferente nesta manhã... Meio distante e quieto demais - disse a rainha

— Como assim? Não compreendo - a Haruno tinha o seu cenho franzido

—... Sakura, nós, bárbaros, nascemos impuros e pecadores, cultivamos a raiva e o ódio dentro de nosso corações e, quando alguém surge em nossas vidas é como se toda a nossa impureza e escuridão fosse exposta, deixando-nos imersos - respondeu a rainha — Nossos sentimentos são algo sério e importante, muito mais do que qualquer outro... Apenas aquele que amamos verdadeiramente pode conhecer nossos lados, pois, os aceitará sem julgar, irá ver a beleza de nosso lado bom e, quanto nos toca, ou nos beija, é com se pudesse sentir nossos lados, e não sentirá repulsa ou o peso do lado ruim

— N-não compreendo muito bem - disse

— É uma coisa antiga, alguns dizem que é até mesmo uma lenda - disse a rainha — Mas, existem aqueles que ainda acreditam que somente a pessoa certa que pode ver nossos lados e aceitá-los de bom grado e fé... E, Sasuke é um desses

— Então... Por isso ele agiu tão estranho?

— Sasuke já se deitou com mulheres, mas nunca havia beijado alguém antes... Isso é para alguém muito especial, aquele que sentará ao lado dele no trono

— Pelos deuses... O que eu fiz? - seu coração acelerou em seu peito

— Não fique assim - Ino se aproximou da Haruno — Você ainda vive, isso deve ser um bom sinal, não é?

—... De certa forma sim - Mikoto concordou - Sasuke poderia tê-la matado naquele momento e não fez isso, e agora ele está... Distante

— Como assim? - Sakura perguntou

— Pensativo, quieto, entende? - respondeu — Recomendo que fique longe dele... Meu filho é imprevisível e eu não tenho tanto poder a ponto de lhe proteger em todo o lugar

— Então, ficarei trancada aqui novamente? - o tom da rosada soou triste

— Não, não acho isso certo, não a vejo que uma prisioneira - um pequeno sorriso surgiu no rosto da rainha — Ino, leve-a para o jardim

— Sim senhora, minha rainha - a Yamanaka disse um pouco mais aliviada

— Mas evite os corredores que o rei geralmente anda, como os que levam a sala do trono, do conselho e o do seu aposento. Não quero que se encontre com Sasuke, pelo menos por enquanto

— Pode deixar, tomarei cuidado - Ino sorriu para sua rainha

— Ótimo - disse — Agora eu preciso ir, tenho assuntos a resolver no julgo... Cuide de tudo Ino

A loira curvou sua cabeça para a Uchiha, que andou até a porta, assim saindo do aposento.

— Antes de irmos ao jardim, vamos até a cozinha - Ino se dirigiu a rosada — Poderá fazer seu desjejum mais a vontade

— Obrigada mas, eu não estou com fome

— Você deve se alimentar, e tenho certeza que sentirá fome quando sentir o delicioso aroma dos bolos de carne da senhora Fob

O sorriso da loira contagiou a Haruno, que sorriu junto a ela e a seguiu para fora daquele aposento.

(...)



O doce aroma das flores teve, naquele momento, o poder de acalmá-lo, toda a vez que o vento soprava e sacudia as folhas das árvores ele fechava seus olhos e se permitia sentir aquela... ''paz''?... Não, não era como aquela, a mesma que sentiu ao ser beijado, nem, mesmo o cheiro das flores era como o dela. Pensou que o jardim, um lugar que a muito tempo não visitava, seria o bastante para lhe acalmar e assim, colocar sua cabeça no lugar, organizar seus pensamentos, e talvez, ver o porque estava com tudo aquilo na cabeça mas, infelizmente o jardim não teve esse poder.

Mais e mais pensamentos sobre ela invadiram sua mente, queria entender, desejava isso, mas não conseguia e isso o frustrava. Porque, depois de tanto tempo... Porque somente agora?

— Meu rei

Sasuke abriu seus olhos ao ouvir alguém lhe chamar, já reconhecendo aquela voz.

Itachi parou a alguns passos de seu rei, o olhando com atenção, já fazia bastante tempo que não o via nem mesmo próximo do jardim.

— Está tudo bem? - ele perguntou

— Diga-me Itachi... Você já... Sentiu algo por uma mulher? - Sasuke perguntou a ele, não tirando seus olhos do tronco da árvore a sua frente

— Tesão?

— Não, algo mais do que isso - ele se virou e olhou para seu primo — Algo mais... Não sei dizer ao certo - ele desviou seu olhar

— Refere-se a amor? - Itachi viu seu rei voltar a lhe olhar — Eu nunca senti isso, e não me importo muito... Mas meu pai sempre me falava sobre isso, sobre o que ele sentia sobre minha mãe

— E... O que ele lhe falou? - a curiosidade estava nítida em sua voz

— Que é uma coisa que só sabemos quando é sentida, que nós bárbaros vemos isso como a uma luz em nosso mundo, e , quando achamos, ficamos confusos e até tolos - o Uchiha soltou uma leve risada, e agora foi sua vez de desviar o olhar — Talvez tenha sido isso que o destruiu... Alguns dizem que isso é uma distração, que serve apenas para arruinar, para nos levar a miséria de força e espírito... Já outros dizem que é a nossa salvação, que é o que nos liberta de nossas impurezas, que nos faz sair do escuro

— Isso é o que os deuses falam - disse Sasuke de forma séria

— Mas eles tem razão, não? Não é o que está sentindo agora?

— O que? - ele franziu o seu cenho

— Não lembro muito bem de meu pai, apenas algumas lembranças e ainda sim falhadas mas... Lembro bem do olhar dele... E vejo um pouco disse no senhor, meu rei - falou o general

Sasuke desviou seu olhar mais uma vez e , virando-se para a árvore, passou a olhá-la, como estava fazendo antes, fechou seus olhos como antes, e sentiu o soprar do vento, leve, calmo e gélido. Podia ouvir seu coração batendo em seu peito e, ali, com os olhos fechados, parecia que tudo aumentava, tudo aquilo que estava dentro de si... E tudo por causa de uma coisa tão simples que muitos acham ridícula.

—... Isso é uma distração - ele disse depois de um tempo em silêncio

Abriu seus olhos novamente e, agora, estavam mais sério que antes.

— Prepare o exército... Partiremos ao anoitecer de amanhã - ele virou-se para seu general — Vamos focar no que é, de fato, importante aqui...




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