As Dúvidas de um Coração

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" É obrigação sentir dor
Seja ela qual for
Mesmo quanto o passado retorna
Para mudar o curso da história
Preencher os vazios das lembranças
E Mostrar que há esperança
Que meus braços será a fortaleza de alguém
Alguém que sempre desejarei o bem
Verei a força de um rei e a sabedoria de uma rainha
E as lágrimas que agora banha minha face
É por saber que ainda existirá um futuro na qual faço parte"

Alpha Romanoff




O sol havia deixado o céu já a algum tempo, fazendo o mesmo ficar em tons alaranjados e escuro. As ruas já não estavam tão movimentadas como na manhã daquele dia. Tochas já eram acesas, para iluminar a cidade. A troca de guardas estava próxima.

Na carruagem que andava pelas ruas, fazendo barulho com suas rodas de madeiras e os dois cavalos a puxar, sob o comando do soldado que guia as rédeas, a jovem lady Haruno estava acomodada no banco confortável dentro da locomoção.

Não havia nenhuma expressão em seu rosto, seu olhar estava distante, assim como sua mente, que flutuava nas palavras que ouviu de sua amiga. De cada revelação que chocou seu interior e a fez travar, não conseguir raciocinar... Somente agora pode parar e pensar direito. Colocar sua cabeça no lugar.

"Sua mãe nunca foi estéril, Sakura..."

Aquela frase, com certeza a que mais a abalou, a fez franziu suas sobrancelhas levemente. Como isso tudo pode ter acontecido?... Tudo foi, de fato, obra dos deuses?

Seu pai... Quando era jovem, naquele tempo onde as coisas eram mais fáceis, quando pensava que seu destino era se tornar uma sacerdotisa, havia ouvido, mais de uma vez, histórias sobre o rei de Ravenna. Piedoso e justo, muitos diziam que ele era um homem bom, já outros, poucos na verdade, que ousaram falar aquilo que pensavam em sussurros pelas paredes do templo, dizia que sua alma era negra e sua bondade era como as maquiagens dos artistas do teatro.

Será que foi por isso que era infértil?... Será que ele sabia que ela não carregava seu sangue?

As sobrancelhas da jovem Sakura franziu-se ainda mais, já com a resposta que veio logo a mente. Não! Seria impossível. Se não ele não teria se revoltado contra os bárbaros, não teria declarado guerra, não teria feito tudo para salvá-la do Sul e daquele povo... Ele não teria morrido se soubesse.

Os deuses lhe disseram através de Hinata que ele não era seu pai, que seu sangue não é dele, que nada em si é dele, mas ela pensava diferente. Ele fez tudo que um pai faria, ele honrou seu nome e por sua pureza, por sua liberdade, ele deu sua vida no campo de batalha.

Um longo suspiro foi dado pela jovem, que encostou-se na porta da carruagem e, pela pequena janela ali, ela olhou para o lado de fora, vendo quase ninguém andando pelas ruas, vendo as mesma iluminadas e o céu estrelado, começando a aparecer, com mais nitidez.

Desejava dizer que aquilo não importava, que devia olhar para frente, que, como sua amiga disse, "o futuro é belo". Devo segui-lo, sorrir para meu caminho, para a coroa que será colocada em minha cabeça, para o homem que amo e que irei me casar por amor. Para os filhos que iram vir, para o florescer daquela terra que tantos acham que é escura como o Norte... Mas não podia... Não quando um sacrifício foi feito. Não quando o sangue clama na terra, não quando os gritos vem do pântano...

— Parem a carruagem! - disse Sakura em alto som, ao ver algo do lado de fora

Imediatamente sentido a carruagem parar com certa violência, ouvindo os resmungos dos soldados, acompanhado do reclamar dos cavalos.

Não se importando com isso, Sakura abriu a porta da carruagem e saiu da mesma, entreabrindo sua boca ao ficar de pé para aquele lugar... Só podia ser um sinal.

— Um templo - sua voz saiu em um sussurro, ouvida apenas por ela

No momento em que negou-se a acreditar em seu passado, nos meios que levaram seu pai a morrer, no momento em que pensava o que poderia fazer... Aquele templo surgiu em sua vista. Entre um comércio o outro, no meio de tabernas e de um povo, que a anos atrás julgava como um povo sem deuses e incrédulos...

— Milady? - um dos soldados saltou do lado da frente da carruagem e andou até a jovem

— E-eu... Por favor, esperem aqui - disse ela ao encarar o soldado — Preciso falar com os deuses

— Já é tarde, Milady. O escuro está no céu, a senhora deve ir para o castelo - disse o soldado

— Por favor, prometo que serei breve - disse —... Entre comigo então, se acha necessário

— Não é sobre a proteção de Milady que estou preocupado, mas sim em seguir as ordens de meu rei

— Garanto que ele não ficará irado e não irá contra ti

Ela trincou os seus dentes com certa força, sentindo a tensão em seu corpo, vendo o soldado bufar levemente e olhar para a carruagem logo atrás. Parecia pensativo.

— Encostem a carruagem - disse ele ao outro soldado, que assentiu, tornando a olhar para a jovem —... Esperarei aqui. Peço que seja breve

— Obrigada - um suspiro de alívio foi solto por ela, que sorriu para o soldado, vendo ele curvar sua cabeça levemente

Seus olhos voltaram para aquele tempo. Seu tamanho não se compara ao do deus Dís que viveu toda sua infância, mas era do tamanho de templos típicos de cidades.

Deu passos lentos para frente, aproximando-se da porta, sentindo cada batida de seu coração. "Há quando tempo não visitava um templo?" ... Ficou surpresa com tal pergunta que surgiu em sua mente. Em Ravenna havia templos, mas nunca os visitou, sempre preferiu fazer suas oferendas nas pequenas "salas sagradas", como era chamado, no castelo. Logo ela que cresceu em um templo.

Suas mãos foram até a porta e as abriu, entrando em seguida. "Há sim" aquele aroma, aquela sensação... Quanto tempo fazia?... Cinco anos?

A sua frente estava a divisão típica de um templo. Um corredor longo, com várias portas em sua extensão, onde , cada uma, continha um dos deuses. E sabia exatamente onde ela ficava.

Seus passos agora foram mais rápidos, passando por todas as outras salas, pelos deuses Mamoti, Tifru, Nakazi, Hamura, Otsutsuki, Hashira, Sengo, Fungi, Ridari, Tsuna, Ravenna, Makaia... Seus pés pararam, assim como sua respiração, que travou em sua garganta. A última sala.

O lugar era bem iluminado, uma abertura podia ser vista no teto, onde a luz da lua entrava e descia bem no centro, onde o altar ficava... Onde a estátua de Dís e Kaguya estão.

Seus pés voltaram a funcionar e ela se aproximou lentamente do altar, sem tirar seus olhos das estátua da deusa Kaguya, bem ao lado de Dís.

Sua respiração também voltou, juntamente com o coração acelerado, ela parou diante deles, sentindo seus olhos umedeceram.

— Meus deuses, peço perdão por não ter vindo ao templo durante todo esse tempo - disse Sakura, curvando sua cabeça — Confesso que outras coisas estavam em minha mente e, achei que rezar em casa era o bastante... Mas, assim que me coloquei aqui dentro, vejo o quanto estava enganada

Lentamente, Sakura ergueu seu rosto e olhou para a estátua da deusa Kaguya, deixando suas lágrimas descerem por seu rosto com liberdade. Seria inútil impedi-las.

— Minha deusa, sei que sabe o que passa, sei que já sabe o que aconteceu e, talvez, saiba o que me trouxe aqui - disse ela — Apesar de tudo que Hinata me disse hoje, de todo o espanto e dúvidas eu... Eu aceito de bom grado, e não desejo ter ciúmes... Eu sou a rainha da profecia, então... Não importa os meios ou quem foi chamada primeiro

Ousou, ela, a dar um passo a frente, não deixando de olhar para a estátua da deusa em nenhum momento.

— Mas, não foi isso que me trouxe aqui - Sakura continuou —... Meu pai... Sei que ele não era isso, que eu não tenho seu sangue mas... Não é o que eu sinto... Mas também sei que ele lutou contra o escolhido, desrespeitando as suas ordens, as ordens dos deuses... Sei que foi a desobediência que o levou ao pântano, a se tornar um Takari, mas eu sinto meu coração incomodado... Ele fez tanto por mim, mesmo eu não sendo sua filha, ele me teve como uma. Me amou como uma... Aquele que ama o escolhido, é amado por quem o escolheu.

Mais um passo foi dado pela Haruno.

— Eu não sei tudo o que aconteceu - disse — Desconheço o interior de meu pai e tão pouco falei com ele... Tudo que sei é o que ouvi dos outro e de Hinata, mas... Ainda sim eu peço, imploro se for preciso... Retire tal desonra dele, p-por favor... Seu coração não era negro, disso eu tenho certeza pois, ele morreu por mim... Quem tem o coração negro não se sacrifica, não coloca tudo em jogo por alguém... Muito menos alguém que ele nem conhece, mas amou mesmo assim... Se é errado pensar assim, deseja isso, então me diga, agora ou por alguém... Mas não me deixe desta forma, por favor

Mordendo seu lábio inferior, na tentativa de conter seus soluços, Sakura curvou sua cabeça, sentindo suas lágrimas banharem, cada vez mais seu rosto, enquanto era envolvida pelo silêncio daquela sala.

Nada fora mais dito ou ouvido, apenas as lágrimas da rainha escolhida caía no chão da sala aquela templo, enquanto seu corpo tremia e seu coração, cheio de dor por alguém já morto, batia em seu peito.

E ali, mais uma vez, o futuro foi mudado...

The Love Between Opposing WorldsOnde histórias criam vida. Descubra agora