3 | Não deixe o gato selvagem solto por aí!

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Depois da audição na manhã de segunda, Clarissa desceu as escadas do prédio o mais rápido que podia. Era seu aniversário de namoro no mesmo dia em que seu namorado voltara de viagem. Ela não podia conter a saudade, então isso meio que a fez esquecer o resultado da audição.

Quando saiu pela porta enorme de vidro do prédio, com suas tranças balançando soltas, Carly estava encostada a parede de pedra, com os olhos meio inchados. Dava pra perceber que nada estava bem, além da cara de choro, porque a amiga não usava tshirts largas na faculdade de jeito nenhum, e era isso que ela estava exatamente usando. Quando viu a amiga, Carly enxugou o olho.

- Theo está me evitando. - disse, com voz de choro.

Lembrando da conversa com Theo pela manhã, Clarissa mentalmente deu um pouco de razão a ele.

- Bom, talvez ele precise de um tempo. Todo mundo precisa de um tempo as vezes, Carly.

- Eu sei... Eu só, tenho medo de perder ele, sabe? Com todas essas garotas em cima. - choramingou Carly, com desespero. - Tenho certeza, Claris... Theo é o amor da minha vida. Ele é perfeito pra mim.

Clarissa pensou com um aperto no estômago no que Theo havia dito no carro, depois de saírem do Stars and Sky. Talvez devesse contar a Carly? E se estivesse sendo a pior amiga do mundo em não contar? Mas talvez contar fosse piorar tudo. Todos acabariam chateados: Carly se sentiria traída e triste, ela e Theo brigariam e talvez até terminassem de vez. E se parasse pra pensar, ele não estava muito lúcido. Não fazia sentido algum falar sobre isso. E talvez ela estivesse dando muita importância pra uma coisa que nem tinha tanta importância assim.

- Você não vai perder, ok? Só tenta não culpar ele pelas garotas ficarem em cima...

- Como você sabe disso? - Perguntou ela, arqueando uma sobrancelha.

- Ele me disse hoje cedo. Nos encontramos na hora da audição.

Carly chorou mais ainda. Suas lagrimas borravam seu rímel preto, e ela estava parecendo muito desiquilibrada com o cabelo preso e alvoraçado na frente. Clarissa já tinha visto isso antes: toda vez que Carly e o namorado brigavam, a garota ficava péssima e jogada as traças. Literalmente.

- Puta merda! A audição! - esganiçou Carly, com desespero. - Eu deveria ter dado boa sorte, eu deveria ter apoiado ele. Ele não me atende, Claris. Ele me odeia... Né?

- Claro que não te odeia. Porque você não o encontra no almoço? - Sugeriu. - Mas acho melhor limpar o rímel primeiro. E talvez parar de chorar também...

Carly achara uma ótima ideia ir ve-lo no almoço. Talvez devesse ao namorado um enorme pedido de desculpas. Ele não tinha realmente culpa por estar sendo chavecado. Ele não tinha culpa por ser charmoso, por tomar seu coração com aquele sorriso e aquela lasquinha perfeita. Mas ela sabia que ele era dela, e que sempre seriam um do outro. E que não podia deixar as garotas aleatórias da faculdade atrapalharem um namoro de quase quatro anos.

Enquanto Clarissa estava parada ao seu lado esperando Carly limpar os olhos borrados na câmera frontal do celular, Carly começou a imaginar que nao havia porque em estar triste e chateada. Ela tinha muitos planos, expectativas e promessas. Ela queria se casar após formar na faculdade, queria uma casa nova e uma vida nova com o garoto que amava. Ela tinha tudo, e seria perfeito. E prometeu a si mesma não ser tão controladora e ciumenta.

Quando as duas amigas desceram ao refeitório, Alisson estava fumando um cigarro do lado de fora. Ele sorriu, o sorriso perfeito tilintando tanto quanto a pulseira em seu pulso.

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