17 | Sei que você gosta, Clarissa.

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A vida era cheia de contradições. Por exemplo: Lara amava flores, as achava uma arte perfeita da natureza, embelezavam tudo onde estivessem e a delicadeza delas sempre e cantavam a menina, porém ela definitivamente odiava o cheiro de várias flores em conjunto, simplesmente lhe embrulhavam o estômago.

   O enjôo matinal já tinha começado a uma hora, quando ela chegou na floricultura. Trocar de emprego era uma droga. Ela preferia o Hot, onde o cheiro era de comida e ela não precisava usar o chapéu feio da floricultura. Sem contar os caras bonitos que frequentavam lá. Trabalhar na floricultura só tinha o salário como vantagem, pois os clientes geralmente eram idosos e ela tinha que entregar vasos de flores numa bicicleta amarela, como uma garotinha de dez anos. Era ridiculo.

  Mas não podia reclamar, pois precisava do emprego. Seus pais só podiam pagar metade de seus gastos e faculdade, então o resto era com ela. Não que ela não gostasse de trabalhar, ela só sentia falta do Hot.

  Ela entregou alguns vasinhos de orquídeas na vizinhança e voltou para a floricultura. O sininho tocou e ela ergueu o olhar ao ver um homem de meia idade entrar, com um ar tranquilo e descontraído.

  - Bom dia senhor, em que posso ajudar? - Perguntou Lara. Ela gostaria de parar de se sentir ridícula com aquele chapéu.

  O homem abriu um sorriso, meio amarelo e meio estranho. Lara tentou não encarar, coitado do homem. Talvez ele só precisasse de um clareamento.

  - Vocês tem margaridas, menina? - Perguntou ele, sem lhe responder o bom dia.

  Lara olhou pra dona Maria, sentada atrás do balcao, que encarava o homem por baixo dos óculos. Talvez ela também sentisse que ele era estranho.

  - Temos sim, senhor.

  O homem retirou as mãos do bolso, com um papel branco pequeno dobrado.

  - Quero uma margarida. - Disse ele, franzindo as sobrancelhas. Ele se virou para dona Maria, sentada no canto. - A senhora teria uma caneta?

  Dona Maria lhe estendeu a caneta que estava em cima do balcão, sem dizer uma palavra.

  - Você quer apenas uma margarida? - Perguntou Lara, meio confusa.

  - Foi o que eu disse. - respondeu John.

  Indo até os fundos com uma sensação meio esquisita, Lara ajeitou a margarida com um plástico transparente e um laço. Seu nariz formigava com o cheiro enjoativo das flores, ela precisaria de um comprimido para asia urgente.

  - Aqui está. - Disse Lara, estendendo a flor, na qual o homem não aceitou.

- Você faz entregas? - Perguntou ele, com o olhar inexpressivo.

Inferno, pensou Lara. Teria de sair outra vez na rua com a bicicleta infantil e o chapéu ridículo, como se não bastasse o uniforme amarelo bebê. Odiava esse homem, queria enforcá-lo.

- Faço. - Respondeu, meio descrente, agarrando seu bloquinho de notas. - Por favor, preencha aqui o endereço para a entrega, o nome do destinatário e o seu nome.

Sem dizer nada, o homem preencheu as lacunas com as informações. Depois disso agarrou a flor no balcão e enfiou o pequeno bilhete que tinha escrito antes.

- São doze dólares. - Disse dona Maria, bem alto, para o homem.

Ele simplesmente colocou uma nota de vinte no balcão, com ar de superioridade, o que fez Lara detestá-lo como detestava o cheiro enjoativo de flor.

- Podem ficar com o troco. Tenham um bom dia. - Disse, e saiu.

Dona Maria estalou a língua duas vezes, como quem discordasse de alguma coisa.

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