A primeira coisa que o diretor e professor da peça da faculdade se lembrou de dizer, antes mesmo do "bom dia", foi que sem desculpa alguma eles deixariam de fazer a cena final.
- Eu quero que comecem agora da parte final. - Disse ele, parado com um olhar impenetrável e com as mãos cruzadas, firmando os cotovelos nas coxas. - Um, dois, três, ação!
Com um sorriso camuflado que só Theo conseguia notar, Clarissa disse suas falas perfeitamente alinhadas e bem ditas. Ela era tão perfeita para o papel que Alana se tornava uma atriz amadora meia tigela.
Clarissa não tinha escrúpulos. Ria em deboche para Theo quando estava de costas para o diretor: ela não estava nem um pouco nervosa por ter de dar um beijo técnico. Já o garoto... Parecia que seus lábios iriam explodir, de tanto que queimavam. Mas nada que ele deixasse a amiga perceber.
- Tá legal, agora é o momento em que ela cai e você a beija.
Engolindo em seco, Theo repetiu mentalmente que ele estava sendo ridículo e aquilo não era nada demais. E não era mesmo. Ele agarrou Clarissa, se aproximou do rosto bronzeado dela, separou uma mecha de cabelo rebelde que grudara em sua bochecha e encostou seus lábios nos dela, que retribuiu no mesmo instante. O beijo foi lento, gostoso e sem língua. Técnico. Completamente.
O diretor faltou expelir fogos de artifício pelos orifícios.
- Uau, você realmente sentiu o papel dessa vez. Agora eu sei o que Alana queria dizer com emoção! - Exclamou ele, com os olhos meio arregalados.
Clarissa mantinha sua cara de deboche.
- Você viu, Grandão? Nao foi tão ruim assim, não precisava ter ficado com medo.
Os outros atores caíram na gargalhada.
- Eu não estava com medo! - Disse Theo, revirando os olhos.
- Então que ótimo! Pois vocês vão fazer isso mais cinco vezes hoje... - Disse o diretor, agora exalando ar de superioridade e autoritarismo. - Um, dois, três, ação!
Meio sem fome, porém se sentindo vitoriosa por ter vencido os caprichos de Theo na peça, Clarissa desceu para o refeitório a fim de encontrar Will. Ela queria matá-lo por deixá-la preocupada na sexta-feira, não tinha aparecido nem tampouco dado uma satisfação. E se lembrava muito bem de ter ligado várias vezes pra ela desde o momento em que chegou do Hot, mas nenhuma chamada tinha sido retornada. E isso continuou pelo sábado, e pelo domingo.
Desceu correndo as escadas até o refeitório, esbarrando em Alisson no fim do lance de escadas.
- Ah, mas é claro que tinha que ser você, flor! - Exclamou Alisson, fazendo um bico. Ele usava um gloss muitíssimo interessante do qual Clarissa teria de se lembrar de perguntar qual a marca depois. - Porque você nunca usa o elevador?
Clarissa fez uma careta.
- Tenho medo que ele pare de funcionar logo quando eu estiver dentro.
Alisson revirou os olhos.
- Quanta bobagem.
- Se você soubesse o quão sortuda eu costumo ser, não diria isso. - Disse Clarissa, jogando uma mecha de cabelo atrevida pra trás. Se sentiu muito mal quando notou Kevin parado ao lado de Alisson, quieto e franzino, sem dizer uma palavra. - Ah, oi Kevin. Me desculpa não ter dito antes.
Kevin deu o seu melhor para abrir um sorriso.
- Olá, Clarissa. Não se preocupe com isso. - Disse ele, com muita educação. - Estou meio distraído observando sua faculdade. Faculdades de artes são tão diferentes...
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Razões Pra Escolher Você
RomanceMesmo cursando atuação, foi muito irônico quando a vida de Clarissa Rock virou uma perfeita novela barra comédia romântica. No meio de traições, atrações proibidas, perseguições e sexo secreto, ela sentia como se tivesse caindo num aspiral sem fim d...