19 | Como se um peso fosse retirado das costas.

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Num salto, Clarissa pulou do carro quando Kevin girou a chave e puxou o freio de mão. Ela estava a um fio de chorar, mas não, jamais, nunca, iria dar esse gostinho a Will.

Por incrível que parecesse, ela não iria chorar por tristeza, por angústia, paixão ferida ou coração partido... Sim, na verdade era coração partido. Mas não do jeito habitual. Ela só estava sentida pela falta de consideração de William, pois ela realmente confiava nele e agora, como num estalar de dedos, enxergava ele de uma outra maneira tão diferente e tão ruim.

- Me esperem aqui. - Disse ela, colocando as mechas de cabelo da frente atrás da orelha.

Em passos duros e confiantes, Clarissa subiu as escadas de madeira da mansão que era a fraternidade. Provavelmente uma veia na sua testa estava pulsando, mas ela não ligava, então apertou o botão companhia da casa três vezes seguidas, sem se importar com quem atenderia.

Foi Otávio quem atendeu, com o cabelo ruivo desgrenhado e uma manete de videogame na mão. Ele arqueou uma sobrancelha para a garota.

- Will está? - Perguntou Clarissa, impaciente.

- Na cozinha com os caras. - Disse Otávio, sem muita paciência também. Ele parecia ter sido interrompido de seu jogo.

Como um raio Clarissa atravessou a sala, deixando um Otávio confuso pra trás. Seu tênis fazia barulho no piso de madeira então quando ela apontou na cozinha, com os braços cruzados, todos já estavam olhando pra ela como se o tênis caguete tivesse anunciado sua chegada.

Os cinco homens presentes estavam sem camisa (isso incluía Theo), estavam estranhos e se outras garotas vissem, parariam de idolatra-los como se eles fossem deuses. Eles simplesmente estavam horríveis, inclusive Will, que parecia ter desgostado dos pentes e gel de cabelo desde que saíra com Briane.

- Oi amor. - Disse Will, com um sorriso que imediatamente Clarissa se deu por falso e fingido. - Pensei que só íamos sair mais tarde.

- E eu pensei que você tinha passado o fim de semana na casa dos seus pais. - Falou ela, reta e direta.

Ela não pode deixar de notar Will engolir em seco, e então ele começou a se levantar de sua cadeira e vir em sua direção, mas Clarissa balançou a cabeça para que ele não fizesse isso.

- Eu passei sim, amor. Eu te disse. - Mentiu ele, novamente.

Clarissa observava sua expressão de perfeito mentiroso enquanto fazia sua melhor cara de debochada. Ela amava saber da verdade quando outros insistiam em mentir.

- Onde você estava na sexta, Will? E onde passou o resto do fim de semana? - Perguntou ela, novamente.

Ela estava dando a ele uma chance de dizer a verdade, ali, na frente de todos. Todos encaravam ela e Will, revezando os olhares entre os dois. Clarissa odiava showzinhos, mas não se importava com isso agora. Não estava ali pra dar um show, mas falaria com ele onde e com quem ele estivesse... Pensou que fosse encontrá-lo no quarto, mas já que estava na cozinha, seria alí mesmo.

- Eu... Amor, vamos conversar em outro lugar?

Clarissa estalou a língua.

- Não! - ela revirou os olhos, impaciente. Ele realmente não iria contar a verdade que ela já sabia. - Olha, Will eu sei que estava no apartamento. Eu sei de Briane e eu sei da casa de praia.

Will riu, sem graça em ver seus colegas de fraternidade encarando. Eles começaram a se levantar, saindo da cozinha, cochichando um "a coisa ficou feia" aqui, um "o negócio tá sério demais" ali.

Menos Theo. Ele permaneceu intacto, encarando Will com olhos que Clarissa julgavam ser de fúria e raiva, com as mãos cerradas em punho e os olhos azul piscina na nuca do amigo.

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