Clarissa conseguiu terminar seu roteiro pra aula antes de pegar turno em Stars and Sky. Ela tomou um banho rápido, lavou o cabelo e vestiu o uniforme do bar. Precisava de gorjetas, então passou um batom vermelho, um creme corporal com partículas de brilho e botou uma argola preta de piercing no nariz. Não estava tão calor quanto os outros dias, então tudo bem se ela usasse uma bota preta sem salto.
Will fez questão de buscá-la e levá-la até o bar. Ele se sentia culpado por pressionar tanto ela, mas queria muito que ela estivesse com ele, pra qualquer coisa. Talvez estivesse muito cedo, mas ele precisava saber. Era questão de necessidade, ter a certeza que os dois ficariam juntos. Por mais que não funcionasse assim, na prática: ninguém podia simplesmente ter certeza do futuro.
- Me liga quando sair, Claris. Te levo pra casa.
- Obrigada, amor. - Disse Clarissa, dando um beijo em seu rosto. - Até mais tarde.
Quando Clarissa chegou, o bar estava vazio, mas alguns minutos depois, o fluxo de universitários foi aumentando e enchendo o lugar, as mesas e a pista de dança. Alguns caras pediam bebida como se não houvesse amanhã. Um homem vestido de camisa social preta bateu o copo no balcão, chamando a atenção dela. Ele era estranhamente familiar, com sua barba grossa e olhos grandes.
- Mais uma. - Disse, com um sorriso convidativo. Clarissa estremeceu e engoliu em seco, enquanto enchia o copo do cara mais uma vez. Ele não parava de encara-la, o que era desconfortável e irritante. - Espera, menina. Você estuda Artes, certo?
- Estudo. - Respondeu ela secamente.
- É, eu me lembro do seu rosto. Gravei sua audição para as peças da faculdade.
Os ombros da menina relaxaram. Ela se lembrou dele, sim. Era o cara em que todos menos prestavam atenção, mas ela tinha esbarrado sem querer na câmera dele, e pedido desculpas umas cem vezes, então tinha visto o rosto dele e se lembrava.
- Ah, claro, claro! Agora eu me lembro... As vezes minha memória é uma porcaria. - Disse Clarissa.O homem virou a dose, mostrando um sorriso amarelo. Era meio medonho, talvez, ou talvez ela pudesse só estar sendo paranóica. Ele olhou para o pote em cima do balcao com curiosidade.
- É o seu pote de gorjetas?
- É. Vinte dólares ou travessuras - Disse Clarissa, rindo.
O homem tentou rir de volta. Tirou uma nota de cem do bolso, dobrou em várias partes e passou pelo buraquinho do pote. Clarissa ficou boquiaberta.
- Eu não estava falando sério - afirmou ela, abismada.
- É um presente.
- Você costuma das presentes como gorjeta com frequência? - disse Clarissa.
- Não. - Disse o homem, com uma sobrancelha arqueada propositalmente. - É um presente e uma recompensa. Você merecia ter passado naquela audição.
Droga, a audição. Quanto mais corria de se lembrar daquilo, mais pessoas apareciam do além para falar sobre. Era apavorante.
- Bom, é a vida - Disse ela, como quem estivesse conformada.
- Acho ótimo que esteja conformada, mas eu sou seu anjo hoje... - Disse o homem, passando a mão no cabelo e olhando desconfiado para a esquerda e direita. Clarissa ouviu, atenta, sem nem piscar.
- Do que é que você está falando?
- Posso te colocar na peça final. A gente pode, sei lá, se encontrar quando você sair? - Perguntou o homem. - Posso te mostrar o que fazer.
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Razões Pra Escolher Você
RomanceMesmo cursando atuação, foi muito irônico quando a vida de Clarissa Rock virou uma perfeita novela barra comédia romântica. No meio de traições, atrações proibidas, perseguições e sexo secreto, ela sentia como se tivesse caindo num aspiral sem fim d...