A viajem

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   Assim que entramos em casa, Sara já está atirando sua mochila no sofá e correndo para o seu quarto. Esquento a comida que minha mãe fez para nos almoçarmos. Grito para ela vir, arroz, bife e feijão, esse foi nosso almoço. Eu lavo a louça e minha irmã seca. Assim que terminamos vamos cada uma para nossos quartos.

   Em geral só iremos olhar uma na cara da outra quando uma ficar entediada e vier irritar a outra.

   Assim que abro o computador recebo um aviso do site de intercâmbio, clico para ver o que é, pois sempre costuma ser sobre novas promoções ou propagandas, mas aparece uma notificação no meu chat. Isso nunca aconteceu.


Brittanie

- Olá, sou Brittanie Christesen, estou atrás de mais um membro para minha família, achamos você muito parecida conosco, moramos em Copenhague na Dinamarca, caso esteja interessada, nossas portas estão abertas para você.

   Estava tremendo, um dia, faz apenas algumas horas que minha irmã havia publicado minha descrição. Contaria a minha mãe no jantar, tinha mais umas seis horas para entender o que tinha acabado de acontecer, o que tinha acabado de ler.

   Fiquei um tempo pesquisando sobre a Dinamarca, aprendi a língua por causa de uma série, ela meio que fez com que me interessasse, nunca fui muito atrás de saber sobre a Dinamarca. Eles tem uma família real, é um lugar bonito e as pessoas de lá são absurdamente bonitas, é um país rico. E sua moeda é mais barata que a nossa.

   Após isso fiquei na sala assistindo "O mundo sombrio de Sabrina" com Sara, minha mãe chegou mais cedo. Eu já tinha parado de tremer, mas tinha a sensação de que quando falasse vomitaria.

   Iríamos jantar a mesma coisa que havíamos almoçado. Felipe estava no horário hoje, no meio da nossa refeição silenciosa, criei coragem e falei:

   - Consegui uma família... Na Dinamarca.

   Sem animo e sem a menor melodia, foi assim que dei a notícia que poderia mudar a minha vida. Todos pararam de comer e me olharam, a única que falou alguma coisa foi a Sara.

   - Parabéns, mamãe posso ficar com o quarto da Vivi?

   Não houve resposta, meu celular começou a tocar no meu quarto. Levantei e fui atender, mas ele parou de tocar, era a moça que estava me ajudando a encontrar uma família. Quando fui retornar a ligação me virei, minha mãe estava parada na porta como o próprio capeta.

   - Puta merda!  Mãe! Você me assustou.

   Coloquei a mão no peito para ver se não estava tendo um ataque do coração. Ela me abraçou, ignorando meu palavrão e começou a falar baixinho no meu ouvido.

   - Eu sabia que conseguiria, você vai até o fim desta semana.

   Escutei uma voz fina e melodiosa gritar.

   - Mãe! Tem um avião que sai amanhã a noite para São Paulo, e de lá para Copen... Copenhague!

   Minha mãe me soltou e disse como se fosse à coisa mais simples do mundo.

   - Arrume suas malas, amanhã você vai embora.

   Inicialmente fiquei com uma leve sensação de que estava sendo expulsa de casa, acreditava que nem era um incomodo tão grande assim na vida deles... Pelo jeito estava enganada. Nossa! Eles querem tanto se livrar de mim... Logo a sensação passou, era apenas o animo deles mesmo, sei disso, mesmo assim, por alguns segundos doeu.

   Abri meu computador correndo para enviar uma mensagem para a Brittanie.


Brittanie

- Olá, então... Consegui uma passagem para amanhã, chego ai em dois dias, no máximo, desculpe a falta de organização, senhora Brittanie. 

Não deu nem três minutos para conseguir uma resposta.

- Certo, estaremos a sua espera. Seu visto e sua documentação estão certas?

- Sim, tudo pronto, posso te enviar os documentos pelo watts, para você conseguir me matricular em alguma escola.

- Certo.

   Ela me enviou seu telefone, sua foto de perfil era bem diferente do que achei que seria. Ela era loira de cabelos bem lisos compridos, os olhos azuis e de pele branca como neve, jovem, absurdamente jovem, mas enviei tudo.

   Coloquei todos os tipos de roupa que pude, como lá tem um rio e praia, por algum motivo, coloquei um biquíni também. Minha mala ficou enorme. Mesmo sabendo que poderia comprar coisas lá, eu e minha mãe estávamos planejando isso desde os meus doze anos, estava com muito dinheiro guardado, teria um ano fora sem nenhum problema financeiro.

   Peguei meu celular novamente para avisar o Pedro teria que se despedir de mim no aeroporto, ele ficou feliz, pelo menos foi isso que disse... Não sei se senti confiança, mas não queria ir, não de verdade. Acho que era tudo coisa da minha cabeça.

   Não consegui dormir naquela noite, ficava pensando como seria meu primeiro ano do ensino médio em um país estrangeiro, em nenhuma das minhas fantasias era bom.

   O voo seria apenas às oito da noite e ainda eram sete da manhã. Não iria para a aula hoje, tinha o dia livre para fazer nada e sofrer de ansiedade. Comecei a pesquisar mais para onde eu iria, estava me metendo numa enrascada e já sabia disso.

   A Dinamarca tem um príncipe um ano mais velho que eu, Félix Henrique Valdemar Cristiano, oitavo na linhagem do trono, nada sobre ele era lá muito bom, tudo sempre relacionado com ele quebrando regras, tradições e criando problemas pequenos que provavelmente devem ser enormes para um monarca. Um típico menino revoltadinho por ter tudo de bandeja. E sobre sua namorada, ela parece ser simpática, tem um rosto lindo e seus cabelos ruivos dão a ela um ar único, jovem e bonito.

   Às nove me levantei, fiz um rabo de cavalo e lavei o rosto, passei um rímel e iluminador. Minha irmã já havia ido para a aula e eu estava sozinha. Troquei mais algumas mensagens com a minha futura tutora.

   Pensei em dançar pelada, mas... Percebi que não era uma boa ideia, tinha muitos vizinhos e não tenho tanta confiança para tal coisa, mas para ficar cantando músicas do legião urbana, só para saber se eu ainda sabia foi um bom programa de tarde.

   Assisti série até minha mãe começar a me ligar, me mandando descer para irmos para o aeroporto, o elevador estava com uma das luzes queimadas e fazia muito barulho, estava com apenas uma mala enorme e minha mochila da escola que já estava com uma alça rasgada, assim que entrei no carro, a coloquei nos meus pés, Felipe colocou a mala na parte de trás, no porta-malas.

   Coloquei meus fones e ignorei todo o mundo a minha volta, Sara não estava nem ai, estava ocupada admirando as próprias unhas. Descemos todos juntos e fomos para o portão nove onde Pedro já me esperava, seus cabelos marrons quase pretos, totalmente bagunçados, mostrava que ele não chegou há muito tempo. Ele me deu um abraço e um beijo na testa, igual todos da minha família. A partir dali seguiria sozinha.

   Minha mala já havia sido despachada, só faltava eu. Mas antes de passar pela catraca Pedro me pegou pelo braço e me abraçou novamente e disse baixinho no meu ouvido:

   - Sentirei saudade, se alguém der encima de você, vou correndo para lá bater nele... Eu te amo.

   Dei um selinho nele, seus olhos cor de mel estavam vidrados no meu. Ele é tão bom para mim.

   Deixei todos para trás e embarquei, meu acento ficava na janela, estava com 80% de bateria, com a economia de energia ligada tudo daria certo, Brittanie pediu para avisar assim que chegasse que ela iria me buscar.

   De Curitiba a São Paulo fui acordada, mas também era meio que impossível dormir naquele avião, mas como a viajem era curta, nem valeria apena de qualquer forma.

  Mas a de SP para a Dinamarca, essa acabei dormindo a viajem toda, não tive nenhum acompanhante ao meu lado. A primeira pessoa que avisei quando cheguei foi minha mãe, e depois meu namorado, só então Brittanie.

Como agarrar um monarcaOnde histórias criam vida. Descubra agora