Esse não pode ser o fim

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   Cheguei em casa e subi as escadas limpando as lágrimas, me sentei na cama e comecei a pesquisar passagens para o Brasil pelo celular. Não queria passar nem mais um segundo aqui. 

    Nunca mais quero ver o Félix. Antes achava que não havia ficado magoada. Antes achava que conseguiria tirar o príncipe da minha cabeça na mesma velocidade que ele entrou, mas hoje em dia... Eu o amo. Eu amo o príncipe da Dinamarca, mas ele não me ama... Nunca amou.

   Havia apenas voos para o outro dia. Estava com bastante dinheiro, quase não gastei nada até agora. Quase não tive gastos nos últimos meses... Sou tão fraca, não fui capaz de ficar mais de oito meses longe de casa. Sou uma decepção tão grande assim?

   Peguei minhas malas e comecei a guardar as minhas coisas. Droga, não tinha conseguido guardar nem metade das coisas e já havia acabado o espaço. Com certeza iria pagar excesso de bagagem. Precisava sair.

   Vou ter que comprar mais uma mala.

   Quando estava tentando guardar tudo possível na mala. Lise entra no meu quarto, estava de fone de ouvidos quando passou pela porta, parou quando viu o que estava fazendo. Então tirou os fones antes de começar a falar. 

   Comecei a chorar de novo. Não queria perder minha única amiga.

   - O que você acha que está fazendo?

   - Minhas malas, vou voltar para casa.

   Limpava minhas lágrimas enquanto falava.

   - Não, você não vai...

   - Em momento algum pedi a sua autorização, Lise.

   Vi a tristeza misturada com decepção em seus olhos. Não queria ver ela triste. Então sai o mais rápido possível do quarto. Não a empurrei, apenas desviei dela.

   Estava fugindo de todos. Peguei a Bicicleta da Lise, de novo. Knut a trouxe para cá logo depois de Nikolai me arrancar do café em que nos estávamos nos reconciliando. 

   Nikolai. Não posso... Não consegui nem contar para ele. Pedalei o mais rápido que consegui até o centro. E lá prendi a bicicleta num bicicletário e chamei um Uber. Precisava ir a um lugar, que vamos dizer... Que é um pouco longe de tudo.

   O parque estava frio, o dia nublado e tudo indo de mal a pior. A roda está tão longe, enquanto caminho até ela, começo a me lembrar de todas as minhas memórias, de todos esses meses com o Félix. Meu coração é tão bobo e tão frágil, como deixei o príncipe brincar com ele assim? Como pude deixar? Idiota.

   Agora, cá estou eu, na frente da minha roda-gigante, que um dia foi uma forma do Félix demonstrar seu amor a mim... Infelizmente, todos sabemos que brinquedos enferrujam e perdem a graça... No fundo, acho que ambos sabíamos que isso não iria dar certo, nunca iria durar.

   Me sinto uma merda, não consegui ficar um ano vivendo fora, parece que sou um imã de azar... Quando voltar para casa, irei dizer adeus para Lise antes de ela ir para a aula, e o resto das pessoas que se danem.

   Ver esse trambolho totalmente apagado o deixa mais realista, isso é algo tão sem graça, é apenas bonito, mas quando não está brilhando, posso dizer que é feio. Mesmo assim, subo pela escada, a mesma que usei quando a roda estava caindo aos pedaços. Fico parada lá em cima, no ponto mais alto da roda, olhando o sol se por. Graças a Deus Félix também mandou trocarem a escada de segurança por uma que não ameaçava despencar.

   Esse parque fantasma é tão assustador quanto romântico. A única que passa na minha cabeça é, nossa, esse é o fim. Amanhã irei a Lufthavnsboulevarden 6, 2770 Kastrup. O aeroporto de Copenhague. E finalmente acabará.

   Fico sentada até escurecer, depois vou embora, volto para o centro para pegar a bike e vou para a casa de Lise pedalando. Meus responsáveis estavam parados na porta ao lado da filha. Sabia que estavam tristes pela minha escolha, mas sabia também que entendiam.

   - Você vai realmente voltar para o Brasil?

   - Sim. Me perdoe Brittanie. Mas aqui não é mais o meu lugar... - Acho que nunca foi de verdade...

   - Entendo... Vai precisar de outra mala, pelo o que a Anelise me falou. Posso dar a minha.

   Ela estava com um sorriso triste no rosto, no fundo acho que sabia que estava infeliz aqui. Não me segurei, a abracei e Josh veio sobre nós e minha irmã e fada veio por último. Como vou sentir saudade deles, dessa família.

   Subo as escadas junto deles, todos vamos para o meu quarto. E desta vez arrumamos a minha mala com calma, conversamos muito e avisei minha mãe que voltaria antes. Ela não me perguntou o porquê, que foi bom, pois o motivo era uma merda e bem vergonhoso.

   Enquanto arrumávamos mais eu pensava que, apesar da atração que meu corpo ainda sinta pelo Félix, o meu cérebro funciona bem o suficiente para seguir sem ele.

   Meu plano é nunca mais voltar, pois pessoas como eu e o Félix são pessoas juntadas pelo destino e pessoas juntadas pelo destino sempre se reencontraram. Essa é nossa benção e nossa maldição.

Como agarrar um monarcaOnde histórias criam vida. Descubra agora