Maloqueiros de Dubai

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   Lise disse que tinha um parque de diversão abandonado na parte Leste da cidade, não na cidade, na estrada. Disse que era um lugar romântico e que eu precisava conversar com Knut. Ela estava certa. Minha amiga mandou para todo o grupinho de amigos que nós tínhamos, um convite para nos encontrarmos lá, disse também que eles podiam convidar pessoas para irem, que assim seria mais divertido.

   Não via nada de divertido em invadir um parque de noite, num frio de lascar e com chance de ter que tomar uma antitetânica depois do role, mas era óbvio que eu ia. 

   Iríamos sair às oito da noite, desta vez me vesti do jeito que eu quis. Uma calça jens preta cintura alta, meu all star vinho e um moletom da cor do tênis. Pela primeira vez, me sentia totalmente confortável em uma roupa. Minha maquiagem foi rímel e iluminador. Lise estava com o seu reboco de sempre e com roupas brilhantes e chamativas.

   Pegaria o meu celular  de volta e isso era o mais importante. Não sei o porquê, minha mãe não me mandou uma mensagem nenhuma vez, sempre eu. Acho que ela nem liga de verdade, sabe que sei me virar sozinha e que estou em um país seguro, mesmo assim... Me sinto até que um pouco abandonada...

   Jantamos e fomos para o parque de Uber. Acho que os pais da Lise não sabiam que iríamos sair, mas eles são tão liberais, isso é muito estranho, mas não posso negar que adoro. Acredito que existe uma diferença em ser liberal e não ligar, os pais da Anelise se preocupam com ela, mas dão liberdade para que cometa os próprios erros e crie independência. Minha mãe... Ah, minha mãe se importava comigo até os meus treze anos, dali para a frente, já era grande o suficiente para me virar sozinha em qualquer coisa. Ela não ligava mais, não que isso significasse que não me amasse, mas era um jeito estranho e que considero ruim de criar os filhos, jamais faria isso com o meu, já que não gosto que façam comigo, as vezes é como se nem tivesse... Mãe...

   Quando chegamos, tivemos que pular uma cerca de uns 3 metros, levamos quase cinco minutos, pois minha amiga não queria estragar as unhas. O parque estava todo escuro, apenas a lua e as estrelas iluminavam o local e a fogueira que os nossos amigos fizeram. Eles estavam bebendo e fumando, parei quando vi o príncipe, não acho que o pai dele aprovaria sua presença em uma invasão de propriedade.

   Knut caminhou em nossa direção e me entregou o meu celular, não disse uma palavra e eu realmente também não estava a fim de escutar e nem pronta o suficiente para dizer algo. Não queria ficar perto do príncipe, pois não queria mais problema.

   Fui caminhar sozinha, tudo estava enferrujado, Knut carregou meu celular, pois estava com 97% e precisava da sua lanterna. Ele era um cara legal, o deixei numa situação péssima e mesmo assim Knut carregou o meu celular... Eu sou uma pessoa de merda!

   Era assustador andar sozinha naquele lugar, as latas de lixo eram de palhaço, estava tudo muito macabro e frio, do nada as coisas faziam barulho e sempre tinha alguém gritando, estava com medo de alguém também tentar me dar um susto. Havia uma roda gigante, ela não estava tão longe e eu precisava de um rumo.

   Havia grama crescendo por todos os cantos e cipós na roda, iria subir nela, se caísse seria uma queda que me mataria na hora, então não seria tão ruim. Antes morta que dependente de alguém, nossa! Que coisa horrível de se pensar, mas isso ainda era um fato, nunca seria dependente de ninguém, independente da situação. A escada deixou minhas mãos todas marrons com cheiro de ferrugem, tomei todo o cuidado do mundo para não me cortar, não queria tomar uma antitetânica, detestava agulhas e aquela vacina doía uns três ou quatro dias.

   A visão do acento mais alto era linda, quando sentei a roda gigante inteira rangeu e balançou, me segurei em todos os lugares possíveis. Conseguia ver o parque inteiro, a fogueira, as pessoas, os brilhos das lanternas dos jovens que estavam desbravando o terreno, outras que estavam pintando com spray as paredes e alguns brinquedos. Estava tão próxima das estrelas, estava tudo tão quieto. Até que tudo rangeu novamente, Félix sentou ao meu lado, ficamos em silêncio por uns dois minutos, sim, minutos.

Como agarrar um monarcaOnde histórias criam vida. Descubra agora