As compras

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   No outro dia, exatamente às sete da manhã, Anelise estava abrindo minhas cortinas e entrando no meu novo closet e mexendo nas minhas roupas, até tirar uma calça Jens e uma blusa cheia de brilhos e colocar na cama.

   - Levanta, vou te maquiar e você vai vestir isso, temos um longo dia. Hoje ainda tem sol, temos que aproveitar!

   Me levantei relutante e lavei o rosto até Lise chegar com cinco tipos de base diferentes todas da Mac, duas palhetas da Anastásia e outras coisas que não fazia a menor ideia para o que servia.

   Ela já estava pronta quando foi me acordar, estava com um conjunto de moletom cinza cheio de brilhos, sua maquiagem era quase igual do dia passado, só que desta vez o batom era um rosa mais leve que o vermelho sangue.

   O carro era o mesmo de ontem, estava levando meu celular e meu cartão na capinha, mesmo com Lise dizendo que ia me pagar tudo.

   - Vic, vamos começar pela loja da Gucci...

   - Tória, me chame de Tória ou de Vivi, mas não de Vic.

   - Ok, me chame de Lise pelo amor de Deus... Eu odeio o meu nome, tipo, ele é péssimo.

   - Gosto do seu nome.

   A conversa acabou naquele momento, pois havíamos chegado, algo similar a um shopping só que claramente mais caro, muito mais caro. Lise andava como se fosse lá todo fim de semana, todos a conheciam e todos gostavam dela. Acho que algo que ninguém poderia dizer é que Lise não era simpática ou engraçada, pois ela é bem lerda, pelo que ela me contou é por conta da maconha.

   Já estávamos a quase quatro horas comprando coisas, ela não me deixou nem ver o valor. Era quase meio dia e ainda não tínhamos comido nada.

   Até que meu celular começou a vibrar, Pedro estava me mandando mensagem, mas sinceramente não queria escrever mensagens de texto, estava com preguiça, essa é a verdade. Nem tive tempo de ler, pois Lise já estava me puxando para fora da loja, assim que paramos no corredor a loira me puxou mais uma vez, quase me fazendo cair no chão.

   - Cacete Lise, qual é o seu problema?

   Ela estava nervosa? Havia um grupo de uns sete garotos parados a uns bons dez metros, não me escondi com aquela maluca, é a garota mais popular que já conheci e mais ousada também, e descobri isso só na nossa saída de hoje. Não entendo o porquê estava se escondendo.

   Sai andando, foda-se eles, não vou me intimidar por um grupo de meninos riquinhos, e ela também não deveria. Estávamos cheias de sacolas, estava me sentindo a própria patricinha de Beverly Hills. Estava poderosa e nada iria mudar isso.

   Peguei meu braço esquerdo que estava com menos sacolas e o prendi no de Anelise e puxei-a para fora de seu esconderijo. Ela estava reclamando, mesmo assim foi comigo. Quando estávamos quase dando a volta e saindo da vista do grupo um deles gritou o nome da minha amiga e paramos, um garoto negro de cabelos pretos crespos veio correndo com um papel na mão, ele era bem mais alto que nós duas, os outros estavam vindo, só que mais devagar.

   - Oi Lise! Vamos fazer uma festa na minha casa, meus pais foram viajar, depois vamos pular no rio, você está convidada. – O garoto colocou um pedacinho da língua para fora e me olhou de cima a baixo, com uma certa malícia no olhar. – Sua amiga está convidada também.

   Revirei os olhos, o grupo agora já estava ao nosso lado, melhor, nos cercando, escutava os cochichos deles. Não dava para sair. Lise estava tremendo e apertou meu braço quando um garoto loiro, olhos azuis, alto como todos os machos padrões desse país. Mas seu rosto me era familiar, não sei o porque, sinto que já tinha visto ele antes. Agora ambos nos analisávamos como os outros, mas ele já estava na minha frente e por algum motivo aquele garoto me intimidou.

   - Perdeu alguma coisa?

   Todos me olharam como se tivesse acabado de cometer o maior erro da minha vida. Senti Lise fraquejando.

   - Você sabe quem eu sou?

   - Eu tenho cara de agente do FBI para saber quem você é?

   Agora as pessoas estavam pálidas, com os olhos em nós dois, o garoto parecia que queria me dar um soco, só que as palavras dele foram piores que qualquer soco que ele poderia ter me dado.

   - Sou Félix Henrique Valdemar Cristiano, segundo filho do príncipe Joaquim, assim sendo neto da rainha Margarida II. E oitavo na linhagem do trono... Realmente não sabe quem sou?

   Sim eu sei, mas não posso dizer, não posso deixar ele me diminuir mais depois dessas palavras, agora já estava segurando o corpo de Lise com o meu ombro.

   - Não, mas agora sei. Obrigada. Monarca. Podemos ir?

   O silêncio pairou sobre o ambiente, ele abriu espaço para eu passar de uma forma debochada deu uma leve abaixada e gesticulou com os braços para que passasse. Estava seguindo sem olhar para trás quando finalmente ele fez o comentário desnecessário:

   - Ei! Qual é o seu nome?

   O olhei dos pés a cabeça, franzindo as sobrancelhas, então dei um sorriso tosco.

   - Você vai descobrir.

   Virei-me e fui embora praticamente carregando Lise, a sentei em uma cadeira e fui no Mc, comprei dois hambúrgueres e dois guaranás, ela me deixou pagar e não comentou nada até terminar de comer, estava me mostrando totalmente calma, mas sabia que tinha acabado de fazer a maior cagada do meu ano, agora era só questão de tempo para a minha vida virar um inferno.

   - Nos não deveríamos ter ido lá, eu falei para não irmos!

   - Meio que você não falou nada... Ainda estamos convidadas?

   - Sim... Se você está pensando em ir nisso a resposta é não, você tem noção do que acabou de fazer? Pode ser deportada por isso... Eu acho.

   - Acho que ele tem problemas maiores que isso. E nos vamos, vai mostrar que não temos medo deles...

   - Mas eu tenho medo deles, eles podem me quebrar como quebram um palito, e, são todos de famílias ricas, amigos do meu pai, não vou nessa festa.

   - Certo, eu vou, independente do que...

   - Você tem sorte que gosto muito de você... - Nos conhecemos a um dia. - Vamos, tem mais algumas lojas para irmos antes de voltar para casa para nos arrumarmos.

   As duas últimas lojas foram rápidas, voltamos para casa com apenas sacolas de marca, não sei o motivo de gente rica gostar tanto disso.

   Anelise me colocou em um vestido de brilhos pretos, absurdamente justo, que fazia meus peitos quase pularem para fora. Ela usava um vestido igual, só que prata, que ficava muito mais perfeito no seu corpo, a dinamarquesa me obrigou a usar salto e refez minha maquiagem, deixando algo mais escuro, penteei meu cabelo, ele já está na minha última costela, preciso cortar. O de Lise é até a bunda, uma verdadeira cascata loira.

Como agarrar um monarcaOnde histórias criam vida. Descubra agora