Como agarrar um monarca

É mentira ou boa parte...

   Quando peguei meu celular, para ver o que estava acontecendo no meu Instagram e no meu Twitter, percebi que eu estava em todos os lugares, estava com 130 mil seguidores, nossa! Era tudo que conseguia pensar.

   As notícias falavam da possível namorada do príncipe Nikolai, esse povo curioso, não sabe de nada e cria cada teoria, mas uma coisa era verdade, conte uma mentira mil vezes que ela se tornará verdade. E era nesse nível que estava agora. Era perigoso, acho que fiquei umas duas horas no celular, até Lise entrar no meu quarto, estrondosa como sempre.

   - Você deu para o Nikolai?

   Meus olhos se arregalaram e foi automático.

   - Não.

   - Não acredito. Você e Félix que foram ajudar o príncipe... Pelo amor de Deus, você conhece a mãe deles! Ficou na casa deles durante a tarde. – E durante uma noite. – Todos estão pensando isso... Mas se não foi isso... Onde passou a noite?

   - Eu não passei a noite com Nikolai, pois nós somos apenas A-M-I-G-O-S, sabe o que é isso Lise? Nunca dormiria com ele. E não acredito que você pensa isso de mim.

   - Certo, se não dormiu com ele, foi com quem?

   - Por que acha que dormi com alguém?

   - Sua vibe mudou, está mais feliz e tranquila até virou amiga do...

   Fiquei em silêncio, olhei para o meu celular de novo, fingi estar mexendo em algo que fosse mais interessante que a nossa conversa.

   - Meu Deus! Você dormiu com o Félix!

   - O que? - A intuição dessa menina me assustava de vez em quando.

   - Caralho! Eu acertei! Como não presumi isso. Vocês se odiavam e do nada viraram amigos.

   - Não! Claro que não. Que nojo, Lise. Eu dormi em um hotel e comprei o vestido.

   - Que hotel?

   - Vai se foder. Sei lá o nome do hotel, mas te levo lá se quiser.

   Minha mentira está virando uma bola de neve.

   - Não precisa, acredito em você, mas desde quando você é amiga do Nikolai?

   - Há um tempo Lise, desde que ele me deu carona... Mas não quero falar sobre isso. Ele me deu bastante dor de cabeça hoje.

   - Vou fazer compras no fim de semana, quer vir?

   - Já tenho programas... E não é com um grupo de pessoas que conheço, então acho que não posso te levar.

   - Onde vai?

   - Sair com o meu amigo problemático.

   - Knut não vai gostar disso.

   - Que Knut vá à merda. Ele não manda na minha vida.

   - Certo... Quer que eu apague a luz?

   Fiz que sim com a cabeça e dormi, acordei para jantar. Ninguém comentou de o meu rosto estar estampado em todas as coisas. Foi um jantar até que cômico, pois ninguém queria falar sobre nada que pudesse levar a aquele assunto.

   Fiquei deitada na cama até umas duas da manhã, mas o sono não vinha e eu tinha aula no outro dia. E seria um inferno, por conta do todo... Como odeio esses príncipes.

   Meu celular vibrou e meu coração vibrou também, mas era ele.


Nikolai
- Por que está acordada até agora? Não tem aula amanhã?

- Não consigo dormir, a culpa é sua, sabia?

- Sei que sou irresistível, mas não sabia que tirava o seu sono... E olha que nem estou ai. Conte-me seus pensamentos impuros. Amo escutar essas coisas.

- Não é por isso, idiota. E não tenho pensamentos impuros com você.

- É verdade! Você tem com o meu irmão. Kkkk

- Babaca. Quer fazer algo?

- Estou na porta da sua casa.

   Nikolai. Quem mais faria isso? Coloquei um moletom e um tênis da Adidas e amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo alto e desci. Todos estavam dormindo.

   Ele estava com uma Lamborghini vermelha. Estava encostado na lateral do carro, usava uma roupa parecida com a minha, fez um meio sorriso quando estava a poucos metros de distância dele. 

   Pulei a porta do carro, o teto estava guardado e olhei para a cara dele, nossos olhos se encontraram. Ambos estávamos de toca, que fazia nós parecermos rebeldes que estão prestes a fazer muita merda.

   - Só vou te devolver amanhã. Pega o seu uniforme e o seu material e deixa um recado falando que você foi a pé... Pois... Vamos pensar... Você precisava de um tempo para você, por as ideias em... Sei lá. Vai lá.

   Revirei os olhos e sai do carro, levei oito minutos para separar tudo e deixar o bilhete na minha cama. Levei o vestido azul na mão. Voltei e desta vez ele já estava dentro do carro. Entrei do mesmo jeito de antes. E joguei o vestido no banco de trás.

   - Se você arranhar o meu carro fazendo essas suas entradas, eu te mato.

   Consegui apenas rir. Então Nikolai deu partida e fomos embora. No caminho perguntei para onde ele estava me levando, disse que era surpresa. Quando estava sentindo o vento destruindo o meu rabo de cavalo olhei para o meu amigo, seus cabelos estavam sendo levados pelo vento como nos filmes dos anos 80.

   - O que você teria feito se eu não estivesse acordada?

   Ele riu e passou a mão no cabelo e jogou a cabeça para trás.

   - Iria te ligar até você acordar, ainda ia ter a cara de pau de perguntar o motivo de você ainda estar acordada.

   Ri e comecei a cantar a música "In the name of love" e ele cantou comigo, estávamos claramente dispostos a acordar Copenhague inteira. Quando finalmente chegamos à praia, foi estranho. Era um clima romântico, não para amigos. Mas se tratava de Nikolai, então não sei o que raios queria fazer naquela praia que estava deserta.

   Descemos do carro, ele abriu o porta-malas, tinha duas cadeiras, Madeira, pedras e muita, mas muita bebida. Olhei para ele com reprovação.

   - Ontem, a menos de quarenta e duas horas, você entrou bêbado na minha escola e falou muita merda. Não vamos beber... Quem trás pedras no porta-malas?

   - Quem disse que a gente ia beber? Você não tem nem 17 anos ainda... Vamos ali.

   Ele apontou para um prédio de dois andares que mais parecia uma cafeteria, não tinha nome. Muitas pessoas estavam entrando. O príncipe fechou o porta-malas, mas pegou as latas de cerveja, 12. Ele ofereceu o braço para mim e, como de costume, aceitei com um sorriso no rosto.

  Era um ambiente mal iluminado, Nikolai entregou as latas para alguém, pois não as carregava mais. Nos sentamos em uma mesa no fundo. Ele chamou um garçom que trouxe um café e um bolo de morango com glacê para nós dois.

   - Esse é meu lugar favorito da cidade, vinha aqui sempre com a minha antiga... Namorada... Nós podemos falar de qualquer coisa aqui, é só subir no palco e falar... As pessoas cantam, falam poesia, contam piada, os problemas e nós estamos aqui para escutar e ajudar. Não podemos julgar as coisas que são ditas.

   - Por que me trouxe aqui?

   - Como disse, aqui é meu lugar favorito da cidade inteira, e você só pode ser trazido por alguém, convidado, no caso. E também acho que você tem muita coisa acumulada e que precisa falar.

   Ficamos em silêncio quando as pessoas começaram a subir no palco. Era como os dos clubes de comédia. As pessoas eram alternativas, eram fora do padrão e me sentia bem de estar lá. Quando o palco ficou vazio Nikolai se levantou e foi para lá. Subiu e se sentou na banqueta que tinha ali, seus olhos estavam em mim. Sorri para ele.

   - Ontem tive uma noite muito ruim, vi algo que não deveria no fim de semana, então sai para beber. Acho que quando já estava chapado comecei a usar os meus últimos neurônios para pensar... E meu pensamento foi o seguinte. Acho que bebi tanto que não consigo nem me lembrar se bebi algo, quem sabe eu não tenha bebido nada? Então percebi que estava muito chapado... Agora acho que não bebi por conta do que vi, mas pelo o que sonhei. Acho que estou obcecado... Sonhei com ela todos os dias! A desgraçada não me dá um minuto para me preocupar comigo, só penso nela... Eu a...a amo, mas... Mas ela não é minha... Ela é do meu irmão, mesmo com ele não a amando.

   Karen, meu amigo estava falando dela. Aquela interesseira com voz de passarinho. Que gosto terrível para mulher!

   - Trouxe minha melhor amiga para cá hoje. Quero que ela fale, então. Tória, venha.

   Fiquei vermelha e comecei a suar, ainda não acreditava no que Nikolai tinha falado. Subi no palco com ajuda dele, então o vi sumir na plateia, mal dava para ver as pessoas dali.

   - Oi, sinceramente não sei o que falar... Mas acho que é interessante falar do meu relacionamento atual, pois ele está me deixando louca. Gostava de um garoto, ele é bom, gato e me daria um futuro incrível... Mas tem esse outro garoto, que é de um caráter duvidoso, lindo como um anjo, e não pode me prometer nada, pois sua vida é uma bagunça... Eu amo os dois, mas só consigo pensar na frase da Katherine, de The vampire diaries, Qual é o problema de amar os dois? Eu amei... O problema é amar os dois... Sou um ser humano horrível e eu vou acabar como o Pedro disse...

   Comecei a chorar e desci do palco. Algumas pessoas me ajudaram a chegar até Nikolai, o qual eu abracei e continuei chorando, algumas pessoas me abraçaram também, outras passaram a mão nas minhas costas, algumas disseram coisas como "Tudo ficará bem" ou "De tempo, no fim vai tudo se acertar".

   As pessoas realmente não me julgaram, apenas me acolheram. Que foi ótimo, saímos do clube e fomos para a praia, fiquei vendo a lua da areia e o barulho das ondas quebrando, já estava amanhecendo, quanto tempo passamos lá dentro? O príncipe só falou depois de já estar dia. Ficou do meu lado, minhas lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto.

   - O que esse garoto disse?

   - O Pedro, disse... Na última vez que conversamos... A verdade. Que voltaria para o Brasil algum dia e que estaria sozinha. Pois tudo aqui é temporário e lá eu só tinha ele. Agora não vou ter ninguém, pois no fim, ele estava certo, vou acabar sozinha.

   - Ele é um babaca. Um cara abusivo. Você nunca vai ficar sozinha se continuar sendo assim... Essa pessoa incrível e inteligente, bonita, gentil, criativa, engraçada, medrosa e que faz a merda e dá risada. A vida seria um saco se não saíssemos da linha de vez em quando. E você sabe que pode ficar se quiser. Arrumamos um emprego para você e você fica. Arranjamos um visto de cidadania para você em dois dias no máximo...

   O abracei, derrubando Nikolai na areia. Como o mundo precisa de mais pessoas como ele. As pessoas precisam de amigos como o meu.

   - Mas e quando eu voltar? E se ele vier atrás de mim de novo?

   - Mande ele a merda. Você é alto suficiente. Você coloca pessoas na sua vida, como eu, Knut e meu irmão para complicá-la, pois estava fácil de mais.

   - Acho que compliquei de mais...

   - Mas é só assim que fica interessante! – Meu rosto estava a centímetros do seu, nós dois sorrindo. Quando escutamos um barulho de maquina fotográfica. Seu humor mudou completamente. – Temos que sair daqui agora.

   Rolei para o lado e corremos juntos para o carro, nós dois pulamos para dentro, ele deu partida e saímos o mais rápido possível, um paparazzi, achei que era mentira que eles seguiam as pessoas dia após dia. Meu amigo estava furioso. 

   Coloquei minha mão sobre a dele, o que o acalmou um pouco. Já era quase sete e dez. E minha aula começa as oito. Paramos em um posto de gasolina, no qual me troquei e arrumei meu cabelo, praticamente só tirei a areia do cabelo. Chegaríamos, no máximo, uns cinco minutos antes da aula.