O chá com a condessa

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   Cerca de quinze pessoas foram na casa, eram quase dez e meia da manhã. Todos me trataram bem, praticamente só fiquei com Félix, conversamos bastante, ele me contou quem eram aquelas pessoas e o que elas faziam na política. Tiramos diversas fotos também.

   Mas quando deu onze e quarenta, subi para ver como Nikolai estava. Quando entrei, ele não estava na cama e sim no banheiro vomitado até os rins, cheguei sem fazer barulho e comecei a massagear suas costas. Independente da circunstância, ele ainda era meu amigo.

   Quando ele finalmente colocou tudo para fora, se sentou no chão e se encostou na parede, fiz o mesmo. Ficamos em silêncio até o príncipe começar a falar.

   - Me desculpe por hoje... Eu não uso drogas, antes que você pergunte. Já sei destruir a minha vida sozinho. Só extrapolei desta vez na bebida, mas raramente acontece.

   - Sabe que bebida é uma droga, né? Só que lícita.

   Ele virou o rosto para mim devagar com uma cara de tédio. O que me fez rir.

   - Cala a boca, Tória... Espero que você não me abandone depois dessa. Muita gente faz isso, e não aguentaria perder mais você...

   - Não vou a lugar algum, sou sua amiga. Só não faça isso de novo.

  Agora segurava seu gosto nas minhas mãos, nos levantamos logo em seguida, fui para o seu quarto enquanto ele lavava o rosto e escovava os dentes. Tirei uma roupa do seu armário, todas estavam já separadas em conjuntos. Quando ele tirou a camiseta estava saindo pela porta quando Nikolai disse algo, me fazendo parar.

   - Uma vez você me perguntou quem eu amava, hoje não sei mais a resposta, mas acho que você é uma das pessoas que eu amo.

   - Eu também te amo Nikolai, agora se arruma. Estarei lá em baixo.

   Nikolai e eu mal temos uma relação, mas entendo o quanto deve ser difícil para ele fazer amigos, diferenciar os falsos dos verdadeiros. Gosto dele, mas acho que é uma amizade que tenho que investir mais. Félix estava a minha espera na borda da escada, saímos andando juntos para o pátio, que era onde todos estavam.

   O sol brilhava forte, as pedras do chão eram claras e as paredes do jardim possuíam plantas crescendo. Havia muitas árvores e os pássaros cantavam. Era tão lindo, quase tanto quanto o príncipe. Me sentia em um conto de fadas, mas todo conto de fadas tem uma bruxa...

   - Minha namorada chegará em pouco tempo, evite ela ao máximo, ela é um monstro.

   - Qual é o nome dela? - Alexandra tinha me dito, só não me lembrava de qual era mesmo...

   - Karen...

   - Nome de puta a Coca não faz. - Referência de mais... Houve uma mulher que se sentiu ofendida com a piada do Porta dos fundos e que entrou com um processo, pelo o que me lembro ela perdeu...

   - O que?

   - O que?

   Ambos começamos a rir, tive que explicar para ele que no Brasil esse é um dos nomes mais comuns das garotas de programa, ele achou isso hilário, pois ele disse muitas coisas sobre essa garota, nenhuma boa. Não a chamou de louca e nem de nenhum nome de baixo calão como eu usei.

   Quando uma garota de cabelos ruivos cacheados por prancha entra com um vestido branco coberto de glitter. Lise com certeza usaria aquele vestido. Chega descendo os degraus de pedra. Ela parou na frente do príncipe, o pegou pela cintura, essa menina não deveria ter nem 1,60 de altura, pois mesmo com o salto de plataforma, continuava pequena. Ela me olhou dos pés a cabeça com seus olhos verdes como esmeraldas do minecraft, não sei outra coisa para comparar.

   - Quem é você? - Natasha Caldeirão, pensei.

   Infelizmente Félix respondeu antes que eu pudesse começar a falar.

   - A nova namorada do meu irmão.

   Arregalei os olhos, a voz dela parecia como a de um passarinho, aqueles que acabam com o seu sono, pois começam a cantar desde cedo, ambos tinha vontade de jogar uma pedra, mas nela a intenção com certeza seria acertar.

   - Tenho dó de você. Ele está perdido na vida. E acho que não chegará aonde você que chegar. Ele não ganha o salário real mais.

  Ela falava como se aquilo fosse realmente relevante para mim, falava aquilo na frente do príncipe!

   - Já estou onde queria estar... Ou melhor, estava, pois daí você chegou. E quem disse que ligo para isso?

   A garota fala com desdém, te olha com desdém, Karen é... É ridícula! Deixei os dois e fui atrás de Nikolai, para contar da mentira do irmão. Ele estava descendo as escadas, passando a mão no terno cinza, ele estava gato. Mesmo comigo achando que é um pouco difícil algo ficar ruim nele.

   - Estamos namorando agora, pois foi isso que o idiota do seu irmão disse para a ruiva mesquinha.

   - Karen está aqui? – Disse ele nervoso.

   Ele colocou o braço nas minhas costas e voltamos para o pátio, todos olhavam para nós. Estava com vontade de esganar o monarca com as minhas próprias mãos. Voltamos para o lado do outro casal quase fiz Nikolai tropeçar para nós irmos para outro lugar.

   Ficamos todos quietos por uns dois minutos. Escutei a conversa de todos. Acho que conversar com um cachorro seria mais interessante do que com eles naquele momento. Até finalmente nos sentarmos para comer. O chá, que parecia mais um almoço. 

   A mesa era enorme e tinha lugar para todos nós. Tudo ao ar livre, mas não havia nenhuma mosca sobrevoando a comida. Foi bem estranho, estava acostumada com os churrascos de domingo, uma semana sim e uma semana não... Tinha que ser feijoada em um domingo.

   Nikolai ficou ao meu lado, Félix a minha frente e Karen em minha diagonal, os assuntos nunca nos envolviam, mas os escutava com atenção, pois mesmo não entendendo bulhufas, era melhor que conversar com os três naquele momento.

   Mas eles falavam de algo quando escuto meu nome sendo chamado pela ruiva.

   - Victória. Você vai na festa de sábado?

   - Que festa?

   - Uma a fantasia. Vocês poderiam ir de casal. Brega, mas aceitável.

   Olhei para Nikolai, ele iria responder se eu iria ou não. Acho que nem ele queria ir, mas mesmo assim respondeu:

   - Nós vamos, - Disse ele com mais certeza do que eu tinha do meu próprio nome. - só temos que pensar em nossas fantasias. E vocês vão do que?

   Félix nem teve a oportunidade de falar, ela já se colocou antes e mais alto, acho que até os passarinhos fugiram.

   - Vou de coelha. Bem que você podia ir de caçador.

   A cara de nojo e angústia do príncipe era cômica, essa garota era realmente uma chata. Conversamos no fim das contas por uns quarenta minutos até todos da mesa terem comido.

   Quando todos começaram a se despedir, era minha oportunidade de ir embora. Tiramos mais algumas milhões de fotos, mais as que já tinham sido tiradas ao longo do chá. Puxei Nikolai e falei no seu ouvido, ele concordou com a cabeça.

   Me ofereceu o braço, e aceitei. Chegamos ao topo da escada e todos olharam para nós mais uma vez. Olhei apenas para o meu monarca. Meu. É tão estranho falar como se ele pertencesse a mim, pois no fundo, percebi que não pertenço ao Félix, mas sim meu coração. Nossa que romântico, dá até vontade de vomitar!

   Quando entramos no carro, eu e meu amigo rimos muito, mas acho que nenhum de nós sabe o real motivo. Ele iria dirigir desta vez. Ele já tinha habilitação, me mostrou por conta da cara de cu que estava fazendo na foto. Rimos mais um pouco, por causa disso.

   Fomos até a minha casa, que era, no mínimo, a uns cinquenta minutos de distância, falando mal das roupas das pessoas do chá e depois fiquei falando sobre a minha vida. Diferente de todas as pessoas, Nikolai estava achando aquilo tudo incrível. O que era engraçado, pois no fim sua vida que era incrível, a minha era normal, mas para ele era o diferente.

   Quando chegamos, antes de eu descer, combinamos de nos encontrar em algum dia da semana para falarmos das fantasias, isso teria que ser antes de quarta, pois ele mandaria as roupas serem feitas por medida.  

   Não tinha ninguém em casa, o que foi bom. Assim ninguém viu o carro de Nikolai aqui na porta de casa, me poupava de explicações. Subi para o meu quarto e fiquei lá por um tempo, coloquei meus uniformes no cesto de roupa suja, e coloquei o vestido em um cabide, iria devolvê-lo amanhã para Félix. Muito provavelmente ele deveria ser de Alexandra...

Como agarrar um monarcaOnde histórias criam vida. Descubra agora