Como agarrar um monarca

Não confunda as coisas

  O filme começou, nos sentamos no meio do cinema, meio que se tivéssemos chegado e o filme já tivesse começado, jamais iria até o meu lugar, sentaria no lugar mais próximo de mim, já que as cadeiras ficavam bem no meio do cinema e iria atrapalhar o filme de todos.

   Estava indo tudo bem até o meio do filme, quando Nikolai pegou na minha mão. Estremeci, pois não estou acostumada com o meu amigo fazendo isso. Mais para o final do filme ele deitou a cabeça no meu ombro, pude sentir o cheiro de loção pós barba e grama cortada pela manhã. Nikolai é quase tão cheiroso quanto o Félix.

   Não consigo olhar para a Elsa e não ver a Lise. Como seria incrível ter poderes... Saímos do cinema falando sobre isso. E de onde construiríamos nossos palácios de gelo, que mares congelaríamos e coisas do gênero.

   Mandei uma mensagem para o motorista que havia nos levado, ainda levaria algum tempo para chegar. Agora era umas três da tarde. O príncipe não soltou da minha mão. Estava me olhando de um jeito diferente e não estava gostando disso. 

   Preciso contar do meu plano de voltar para o Brasil mais cedo.

   Quando disse que o carro estava na frente do shopping, a minha espera, fomos andando mais devagar, parecia que Nikolai queria mais tempo comigo. Quando finalmente vi o carro, tentei me soltar dele, mas o príncipe pegou o meu pulso e me puxou para perto de si. Nossos rostos estavam a centímetros de distância. Sentia o ar quente saindo da sua boca, sentia suas mãos sendo passadas nas laterais do meu rosto. Nossos olhares se encontraram, aqueles lindos olhos verdes musgo agora olhavam para os meus.

   - Você é tão linda.

   Foi tudo o que ele me disse antes de me beijar. Porra Nikolai! Sentia sua língua se entrelaçando com a minha, mas não seu calor como sentia com Félix. Meu sangue não fervia, e isso acabou sendo só um beijo. Um beijo muito bom, só que não havia sentimentos envolvidos, quando tem sempre é melhor.

   Assim que abri meus olhos, meu amigo já me encarava, nós dois sorrimos, que situação constrangedora... Estava profundamente arrependida disto. Sai andando quase que correndo para o carro. Seu banco de couro preto fez barulho quando me atirei contra ele. Nikolai estava ali, parado, apenas esperando o carro partir, com as mãos nos bolsos.

   Será que o príncipe acha que gosto dele desse jeito? Não, ele jamais confundiria as coisas até esse ponto. Espero. Foi só um beijo. Pensei em escrever uma mensagem para Nikolai, mas não, por algum motivo não achei que era a coisa certa a se fazer... Que confusão aquele otário está fazendo?

   Quando estávamos indo para casa. Decidi mudar o percurso, iria para a propriedade em Österbro, da Condessa de Frederiksborg, Alexandra. O motorista não perguntou nada, apenas me levou.

   Preciso falar com o Félix, me desculpar... Como vou explicar o que sinto por ele? Como irei dizer que não o quero com mais ninguém, que quero, mais que tudo nesse mundo, que ele seja meu. Mesmo eu sendo só uma garota... E ainda uma bem complicada.

   Nem bati na porta, simplesmente entrei. Preciso do meu monarca. Sinto-me em casa dentro dessa propriedade, me sinto em casa só de ter Félix comigo. Corro os olhos pelo primeiro andar, mas ele não está lá. Subo as escadas quase caindo. Abro a porta do seu quarto.

   Ele está sentado na borda da cama, com um saco de gelo na cabeça, tem uma luminária quebrada no chão. O monarca parece surpreso em me ver. Ignorar sua situação ou não? O que escolher?

   Vou entrando e falando.

   - Félix, você é tudo que sempre sonhei em ter, mas nunca tive coragem de admitir. Sou sua, meu coração é seu. Meus dias se basearam em eu querer te esquecer, mas... Só consigo pensar em você! Não importa o que aconteça comigo, onde esteja, com quem esteja... Preciso saber que você está bem e...

   Escuto uma risada e vejo uma ruiva, com o cabelo preso em um coque, ela está usando apenas uma toalha de banho. Agora percebo que tem roupas espalhadas pelo chão...

   É... Não deveria ter ignorado a situação, devia ter questionado ou apenas dado meia volta.

   Como pude ser tão burra ao ponto de pensar que ele me amava de verdade? É obvio que estava dormindo com outras. Nunca seria a única. Somos iguais, dois seres humanos de merda. Não conseguimos ser fiéis nem aos nossos amantes... Que é meio óbvio já que... Ah! Foda-se.

   Sai do quarto, escutei o monarca me chamar.