Capítulo 2

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"O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto." - Fernando Pessoa

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Cheguei no hospital coberto de sangue dela e encharcado da chuva, tão confuso que nem sei bem definir como esse dia foi péssimo...

- ALGUÉM AJUDA AQUI! - gritei entrando na emergência do hospital com a mulher em meus braços. Rapidamente apareceram alguns enfermeiros e dois médicos, um deles checou o pulso dela.

- ELA ESTÁ SEM PULSO, TRAGAM O DESFIBRILADOR - o médico gritou enquanto os enfermeiros traziam uma maca

- O que está acontecendo? - perguntei confuso

- ELA ESTÁ MORRENDO - um médico gritou. O médico subiu em cima dela assim que tiraram ela dos meus braços e a colocaram na maca. O buraco da faca não parava de sangrar e eu estava horrorizado. Quando trouxeram o desfibrilador, tentaram ressuscitar a mulher mas ela não voltava - LEVEM ELA PARA A CIRURGIA AGORA - os médicos correram com a maca de um jeito que nunca vi. Eu não sabia o que estava acontecendo mas sabia que ela provavelmente não sobreviveria.

- Ótimo, Marcos. Você perde a filha e ainda deixa a mulher morrer - disse para eu mesmo

- Senhor? - a recepcionista me chamou - qual o nome da paciente?

- Não faço a menor ideia, eu a encontrei na rua -  eu disse olhando para o corredor onde a maca havia sumido - gastem o que for necessário para salvar a vida dessa mulher.

Meu telefone tocou, meu coração acelerou em esperança de ser Lívia dando notícias da minha filha, mas me frustrei ao ver que era meu pai. Atendi sem ânimo.

- O que foi? - respondi no automático

- Você já chegou em casa, filho? - perguntou ele preocupado

- Não, pai.

- O que houve, Marcos? Se saiu para beber...Onde você está? Vou te buscar agora.

- Não, pai - repeti - encontrei uma mulher...

- Não acredito que pagou uma garota de programa, Marcos.

- Que? Não - bufei com a acusação - encontrei uma mulher na rua, ela foi esfaqueada, achei jogada em um beco. Levaram ela, não sei se está viva ou morta, estou esperando notícias.

- Como assim, Marcos? - meu pai disse assustado

- Eu também não faço a menor ideia do que está acontecendo. Tentei falar com ela mas a mulher não falava, não parava de sangrar e tenho certeza que seu braço estava quebrado. Estou no hospital.

- Estou indo para aí agora - meu pai disse firme

- Obrigado, pai - suspirei - Se puder, traga uma muda de roupa sua. Meu terno está encharcado da chuva e coberto de sangue.

- Pode deixar, estou ai em 10 minutos.

[...]

Quando acordei minhas costas doíam muito, mal conseguia me mexer mas logo entendi o porque: estava dormindo em uma cadeira de hospital. Então lembrei da noite passada, mesmo com dor, levantei da cadeira sedento por informações. Meu pai estava em pé vendo TV na recepção tomando café, então fui até ele.

- O que aconteceu com aquela mulher? Ela está bem? Ela morreu? - perguntei aflito

- Calma - meu pai calmo como sempre me deu um freio - Conseguiram fazer com que ela voltasse, foi operada e está no CTI em coma induzido, pelo que entendi as próximas 48 horas serão decisivas - soltei o ar em alívio - mas ela ainda corre sério risco de morte e você estava certo o braço e o nariz dela estavam quebrados.

A Garota Secreta: Medo AbsolutoOnde histórias criam vida. Descubra agora