Capítulo 29

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"O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja." - Augusto dos Anjos

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Eu chorei de madrugada e não fui o único. Eu estava extremamente triste e deprimido mas Sarah parecia morrer por dentro. Acordou com pesadelos a noite toda e parecia não querer estar viva, aquilo me machucava. Eu sabia que ela me amava, mas sabia também que ela amava mais a Gabriel e eu entendia pois eu o amava demais e faria tudo por ele também.

- Biel - acordei com ela tendo mais um de seus pesadelos - NÃO, POR FAVOR, NÃO MATE MEU FILHO - ela gritava

- Sarah - eu tentei acordá-la mas ela continuava dormindo e chorava ao mesmo tempo. Nunca vi ninguém chorar dormindo mas ela fazia isso.

- MEU BEBÊ - ela se debatia na cama desesperada

Jéssica abriu a porta do quarto correndo e me olhou eu comecei a chorar também, pois juntou a dor de perder Gabriel juntamente com a dor de Sarah e ainda meu desespero por querer minha Júlia.

- Aí caramba - Jéssica disse e subiu em cima de Sarah na cama - ACORDA, SARAH - ela sacudiu Sarah gritando na sua cara

- JONAS, NÃO - Sarah continuava gritando e eu me sentia o homem mais impotente do mundo. Eu não tinha estrutura alguma para suportar tudo isso

- SARAAAAAAAAH - Jéssica gritou tão alto que os vizinhos devem ter escutado. Sarah abriu os olhos e sentou na cama desesperada.

- Já é o 7° pesadelo só essa noite - eu disse passando as mãos pelo cabelo - só se passou algumas horas que Gabriel foi enterrado e ela já está no 7° pesadelo - eu chorava feito um louco, não conseguia mais me controlar

Jéssica estava abraçada a Sarah que chorava compulsivamente implorando aos céus para que Gabriel voltasse.

- Olhem para mim - Jéssica disse tão serena que me surpreendeu - olha tudo que passamos - Sarah ainda chorava baixinho em seu peito mas ela não ligava - Gabriel está em um lugar ótimo e tenho certeza que está muito orgulho dos pais que tem - ela deu um sorriso tão acolhedor que tive vontade de abraça-la - Deixem Gabriel orgulhoso de vocês. Tenho certeza que ele não quer que vocês estejam nesse estado que estão.

- Eu quero meu bebê - ouvi Sarah dizer ainda chorando

- Tenho certeza que quer, mas só porque você não o vê, não significa que não esteja aqui. Conversem com ele, dêem atenção. Vocês sabem o propósito de Gabriel, ele estava aqui para dar alegria em um momento de dor. Mas a dor passou e a missão dele acabou, cabe a vocês agora terminar de resolver tudo e deixar ele feliz - suas palavras preencheram meu coração e eu me sentia reconfortado aquela enfermeira do hospital tinha dito algo bem parecido com isso - vem cá, Marcos. Tenho certeza que também precisa de um abraço - Jéssica abriu os braços e eu a abracei. Eu e Sarah ficamos ali abraçados a Jéssica com nossas mãos entrelaçadas tentando acreditar nas palavras dela. Não sei Sarah, mas eu estava acreditando - Tudo vai ficar bem - Jéssica sussurrava para nós como se fossemos recém nascidos que ela ninava - vocês dois são pessoas maravilhosas e tenho certeza que serão muito felizes, acreditem nisso.

[...]

- Meu filho - minha mãe me abraçou e eu a abracei de volta agradecendo aos céus por ela estar bem

- Eu te amo, mãe. Estava com muita saudade - eu disse e sentia que pela primeira vez em muito tempo eu estava sendo carinhoso com ela - Precisamos conversar, onde está meu pai?

- Ele estava em uma reunião na editora mas disse que chegaria em cinco minutos - ele sorriu e olhou para Sarah que tentava disfarçar a cara péssima dela - Ah, Garota, que saudade - ela a abraçou e Sarah me olhou com o olhar morto que ela estava já a alguns dias

A Garota Secreta: Medo AbsolutoOnde histórias criam vida. Descubra agora